Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 21.12.1975
O Burrinho Avançado
O problema inicial evidencia-se na escolha do texto. A peça de Jayr Pinheiro falta uma trama convincente, personagens interessantes, um desenvolvimento bem estruturado. E o que é o texto? É a história de Burro maltratado que desejava ser cantor e que acaba – com a ajuda de uma fada – tornando-se professor de música. E o Burro vai dar aula ao macaco e ao Galo – animais que se julgavam bons músicos e que o gozaram quando ele manifestou sua intenção de ser canto. Sua dona, que era muito repressora, acaba lhe fazendo um discurso de parabéns e confessando que seu desejo sempre foi de ser cantora, mas que acabou sendo Ferreira obrigada pelo pai. E isso tudo é dito em meio a “tiradas didáticas” sobre escalas ascendentes e descendentes. Como se vê nada de novo. Ou de vivo.
A montagem de Dilu Melo é totalmente descosida e adota, como base, a comunicação entre o Burro e a plateia infantil. Isso faz com que o espetáculo tenha seu desenvolvimento truncado a toda hora (ou seja, que não aconteça nada, teatralmente) para que o Burro faça perguntas à plateia, cante com a plateia, caia no chão, para que as crianças o levantem (e, ficando em pé, caia de novo). A direção abusa dos recursos mais reconhecidamente chavões; estímulo à gritaria, correria pela plateia e convite às crianças para dançar roda no palco – sem qualquer motivação oferecida pelo texto, é claro.
Os atores estão bastante perdidos principalmente porque todos têm de girar em torno do Burro. E Roberto Argolo (o Burro), apesar de conseguir uma inegável comunicação com o público, tem uma interpretação igual do início do fim do espetáculo. E compõe seu trabalho sempre a partir do mais fácil, utilizando todo o catálogo de lugares-comuns. Salvam-se os figurinos (de quem?), de bom gosto e que criam interesse visual, auxiliando em muito a comunicação do espetáculo. E compõe seu trabalho sempre a partir do mais fácil, utilizando todo o catálogo de lugares-comuns. Salvam-se os figurinos (de quem?), de bom gosto e que criam interesse visual, auxiliando em muito a comunicação do espetáculo.
No dia em que estive presente, um ator, ao final, pediu desculpas ao público porque a encenação “foi muito prejudicado porque faltou a pessoa que nos acompanhava ao violão”. Infelizmente, não foi apenas um fundo musical o que faltou ao espetáculo.