Crítica publicada no Jornal O Globo
Por Rita Kauffmann – Rio de Janeiro – 18.08.1984
Ousadia e bom gosto na adaptação de Shakespeare
O INACEN está promovendo uma campanha de incentivo ao teatro para crianças, numa rota de quatro teatros ocupados pelo instituto e que estão próximos do metrô. Um deles é o Glauce Rocha, apresentando Sonho de uma Noite de Verão, produção que merece ser prestigiada pelo público.
O esforço de montar para crianças um texto clássico de Shakespeare, tentando na medida do possível, o máximo de fidelidade possível, o máximo de fidelidade ao original, sem apelações tão comuns nas peças infantis, já é por si meritório.
Com 16 atores em cena sob a direção de Moacyr Góes, o texto é adaptado por Lenita Plocinsky, com um belo trabalho de programação visual de Edgard Bandeira. Sonho é uma produção audaciosa, em que não faltam a direção corporal (Helena Varvaki) e a boa iluminação de Maneco Quinderé. Ousar é bom e, no decorrer deste ou de outros trabalhos, o grupo vai se definir melhor, se entrosar.
Os três mundos (o mágico, o dos palácios e o dos trabalhadores), histórias que correm paralelas, estão ainda bem confusos: mas os atores conseguem despertar o interesse da plateia nas personagens apaixonantes de Shakespeare, como Oberon e Titânia (reis das fadas), o irrequieto duende Puck e os apaixonados Helena, Lisandro, Hérnia e Demétrio. E muito contribuem para prender o interesse da plateia os cenários e figurinos de João Gomes do Rego, bem coloridos de bom gosto.