Crítica publicada no Jornal do Brasil – 1990
Por Roni Filgueiras – Rio de Janeiro
Fantasia Musical
O que poderia haver em comum entre Cláudia Jimenez, uma simples e suculenta iguaria árabe, a esfiha, e Carnaval? A pergunta parece complexa, mas a resposta é simples. A estreia do dia, do Teatro Vannucci, apresenta-nos a talentosa atriz Cláudia Jimenez como Esfiha – Uma Gênia da Pesada, numa superprodução, com figurinos da carnavalesca Rosa Magalhães. O texto da jornalista, autora teatral e amiga pessoal Fátima Valença foi feito “sob encomenda e medida” para o humor de Cláudia, que supriu a peça com 30% de suas piadas.
Esfiha está prestes a desintegrar-se rumo ao além, caso não se case com seu próximo amo. Escusado dizer que a
temperamental Esfiha usa de seus poderes, sem o mínimo escrúpulo, para que o Príncipe Maktub (Ettore Zuim) a despose, dispensando todas as outras pretendentes.
Segundo a autora, Esfiha é uma mistura de Jeannie é um Gênio, Shakespeare, história em quadrinhos e Maubathan. “É uma comédia musical romântica, com uma linguagem rebuscada e poética, quebrada somente pelo coloquialismo da gênia”, explica. Para o diretor Bernardo Jablonski, Esfiha é a combinação do escracho e da fantasia, algo que aprendeu a preservar nos seus 20 anos de carreira ao lado de Maria Clara Machado, no Tablado. Ninguém se assuste com o rebuscado e o escracho, as crianças vão esbaldar-se com o lirismo da língua árabe, apesar de Saddam Hussein.
A identificação de Cláudia com os miúdos é crescente. “Me dou bem com eles. Na rua, eles me chama: Cacillllllla”, diz imitando o jeito sibilante da língua de seu personagem no programa Escolinha do Professor Raimundo. “Quando eu tinha quatro anos, assisti a um teatrinho de sombras, que me marcou pelo resto da vida, por isso faço questão de sempre fazer um espetáculo infantil”, revela.
Além de matar de rir marmanjos e pequenos, Cláudia capricha na coreografia idealizada por Carlotta Portella (“fiz aulas de sapateado por vários anos”) e solta a voz na trilha composta pelo genial Ubirajara Cabral (“meu pai era um imigrante espanhol que chegou a cantar tangos no Cassino da Urca”). No elenco ainda, Vicentina Novelli, Nedira Campos, Marcelo Escorel, Alexandre Dacosta e Edson Landi.