Crítica publicada Jornal O Globo
Por Rita Kauffmann – Rio de Janeiro – 28.10.1983

Barra

Paulada como solução para o autoritarismo

A Estória do Capitão Boloteiro que Queria Casar com a Rosinha Chorona, mas o seu Pai não Deixava, de Pedro Veludo – em cartaz no Teatro de Bolso Aurimar Rocha, sob a direção de José Mario Tamas – reúne atores e bonecos na montagem de um texto recentemente premiado com o segundo lugar no V Concurso Nacional de Dramaturgia para Bonecos do Inacen. Essa informação nos confunde, pois consideramos o referido texto carente das qualidades consensualmente consideradas imprescindíveis num bom espetáculo para crianças.

O título já conta à história, e pouco lhe foi acrescentado. Duas situações de conflito ocorrem simultaneamente: Rosinha gosta de Boloteiro, mas o pai quer casá-la com Boca de Sapo, rico coronel que não agrada a mocinha (esses quatro personagens são apresentados pelos bonecos bem confeccionados de Jorge Itaboraí e Lílian Gomes). Como resolver o problema? Enquanto isso, um casal de músicos esta sendo pressionado para abandonar o local de suas apresentações, não só pela proprietária do terreno, mas também pela Polícia e pelo prefeito. Como poderão os músicos resolver o problema? Sem maiores aprofundamentos, ambos os problemas (da mesma natureza, o autoritarismo) são resolvidos da mesma forma: com muita paulada. Será este tipo de solução, sem que sequer sejam aventadas outras possibilidades, indicado para o desenrolar de um espetáculo para crianças?

Talvez esta seja também a duvida do diretor Tamas e seu elenco, que se colocam na representação sem entusiasmo (desde a porta da rua, onde esperam as crianças tocando ininterruptamente a mesma musica) e sem convicção. Boas como sempre as musicas de Calque Botkay.