Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 29.06.1975
Adolescentes no Pernalonga
A iniciativa do teatro Isa Prates (Colégio Pernalonga) de tentar preencher o vazio teatral que existe para o público adolescente é digna de todos os aplausos. Se não fosse pelo valor cultural (inegável) do empreendimento, pelo menos pelo tino comercial: há um mercado comprador disponível, mas não há produtos à venda.
Infelizmente, o trabalho se frustra por dois motivos principais, inicialmente, porque o elenco também é de adolescentes (a médias de idade é de 14 anos) e apouca vivência dos atores reflete-se de modo claro (e negativo) impedindo que o espetáculo alcance um maior grau de credibilidade – em Desculpe Foi Engano – e de aprofundamento crítico – em O Patinho Feio. Em segundo lugar, parece-me que o adolescente de hoje, muito mais informado, já está predisposto a espetáculos mais quentes, mais adultos, que mostrem de modo mais aprofundado o mundo e seus conflitos.
Por uma inexplicável coincidência, os dois textos são repetitivos: o tempo passa e as situações não se modificam. E claro que, em Desculpe. Foi Engano, de Lucille Fletcher, isso é proposital, pois o que importa é a tensão sufocante, a atmosfera progressivamente carregada. Mas quando o espetáculo não consegue obter esse difícil tom exato, o texto deixa de contar com seu aliado mais valioso e, então, um clima que deveria ser o de um processo crescente de angústia, consegue ser, apenas, uma sucessão de momentos monótonos. Todavia em O Patinho Feio, de A.A. Milne, o texto deveria se deter menos em diálogos que não evoluem, permitindo o aparecimento de uma ação mais dinâmica.
A direção de Maria Luisa Prates é bem cuidada, tem uma visível preocupação de bom acabamento, mas acaba não atingindo seus objetivos. Na primeira peça, para alcançar o tom do policial, seria necessária a existência de um elenco com muita experiência, muito talento e muita técnica. A segunda peça faltou um certo tom de crítica mais desvairada. Os atores poderiam curtir muito mais a gozação mais a gozação, mas ainda estão demasiadamente sérios, sem soltura. O Patinho Feio dá chance a uma artisticamente enriquecedora curtição, mas a realização fica no meio termo e o estilo não se define: nem é uma história da carochinha e nem a sua gozadora e charmosa crítica. O elenco é muito inexperiente e se ressente da ausência de recursos técnicos. Chamam mais a atenção a deficiência na emissão de voz de Daniel Benjamin; (Sargento/ Ministro) um texto com certa sutileza crítica de Ricardo Figueiredo (Rei); e uma boa noção de timing e um tom comicamente desajeitado e comunicativo de Suzana Antunes (Dulcibela). O cenógrafo Luís Carlos Figueiredo utiliza bem o espaço e consegue criar dois ambientes expressivos e totalmente diversos. Seus figurinos, se não brilham, também não comprometem.
Como exercício extracurricular dos alunos do Colégio Pernalonga, a realização é digna de elogios. Mas, como um espetáculo comercial que pretende satisfazer as necessidades dos adolescentes, o trabalho deixa muito a desejar. Por exemplo: numa atividade de escola, a dicção falha de Daniel Benjamin não teria muita importância. Mas, numa montagem que cobra ingresso, o despreparo técnico do ator influencia negativamente na avaliação do espetáculo.
Recomendações:
A Viagem de Barquinho, no MAM, últimos dias; Criançando, na Casa Grande, últimas apresentações; Criançando, na Casa Grande, últimos dias; Pluft, no Tablado; Maroquinhas Fru-Fru, no Opinião; Estória da Moça Preguiçosa, no Teatro Quintal, em Niterói.