Crítica publicada em O Globo –  Segundo Caderno
Por Mànya Millen – Rio de Janeiro – 11.05.1996

Barra

Pedro e o Lobo: Obra de Prokofiev ganha montagem criativa apoiada na técnica de teatro-dança da atriz.

A linguagem do corpo renova uma história conhecida.

O diretor Ricardo Gomes e a atriz Priscilla Duarte encararam sem temor o desafio de extrair frescor de uma velha e conhecida história, criada para fazer música, e não do texto, sua principal estrela. E partindo do pressuposto de que encenar notas musicais é uma tarefa complicada, a não ser que o trabalho seja só balé e não teatro, Ricardo e Priscilla  conseguiram fazer de Pedro e o Lobo, sinfonia composta por Sergei Prokofiev com o objetivo de ensinar música às crianças, um espetáculo criativo e simpático.

A peça custa um pouco a engrenar, principalmente pela postura meio “dura” de Priscilla logo no início, durante a (algo longa) apresentação. Aos poucos,  porém, a linguagem se simplifica e atriz vai se soltando aos poucos para contar a história – escrita por Prokofiev a partir de contos russos – do menino que ultrapassa os limites de casa para abater um lobo feroz. Sozinha no palco, valendo-se de sua técnica, calcada no teatro-dança clássico indiano, a atriz desdobra-se nos muitos papéis, de Pedro aos animais, utilizando para cada um coreografias assinadas por ela e pelo diretor. E as expressões corporais, por sua vez se encaixam nos sons específicos dos instrumentos com os quais Prokofiev caracterizou cada personagem.

Priscilla tem como acessórios apenas duas luvas, que representam o lobo e o pássaro, e uma sala genial, que se transforma em rabo de gato, em pata, e em calças masculinas. Um achado, criado pela própria atriz, que enriquece bastante a encenação.