Critica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Mànya Millen – Rio de Janeiro – 04.10.1996
Uma diversão inteligente para pais e filhos
A autora Teresa Frota fez de Os Impagáveis, sua nova peça em cartaz no Teatro Gláucio Gill, o seu texto mais pessoal. Diferente de A Lei e o Rei, O Topo da Montanha ou Viravez, o Cortês, que tratavam de temas como política, amadurecimento ou esperteza com pistas mais facilmente detectáveis pelo público, desta vez a escritora e atriz resolveu incrementar o produto com referência que, muito provavelmente, vão passar desapercebidas pelas crianças. Como sua homenagem à chanchada brasileira e ao cinema em geral – uma paixão declarada – exposta tanto em pequenas cenas como na trilha sonora, mas principalmente no vídeo (dirigido por Luís Leito) que serve como complemento à peça.
Entretanto, longe de cavar um abismo entre o palco e a plateia-alvo, a opção de Teresa (compartilhada e evidenciada pela ótima direção de Henri Pagnoncelli) só promoveu a sofisticação do produto espetáculo infantil. Do texto aos belíssimos figurinos de época criados pela própria autora – a história é uma brincadeira com os gângsteres dos anos 20 e 30 – passando pela trilha sonora e pela iluminação, a peça trata com respeito à inteligência dos miúdos e proporciona a pais e filhos uma bela diversão.
A história gira em torno de uma dupla de gângsteres -Lulu (Teresa Frota) e Cacá (Marcello Caridade) – que resolve roubar todas as Barbies do mercado. O ato é fruto de um trauma de adolescência de Lulu, que se sentiu rejeitada no passado pelo policial interpretado por Cico Caseiras e agora quer se vingar.
No palco, quem rouba a cena é a dupla Heloísa Perrissé, como a geniosa Molly, filha do delegado e Caridade, que também vive o insosso Carlinhos, disfarce de Cacá para se infiltrar na casa do policial como noivo de Molly. Entre gritinhos e trejeitos, Heloisa transforma sua Molly num personagem delicioso e marcante. Caridade é um ótimo vilão, mas é na pele do bobão Carlinhos que ele decola para valer.
Impagáveis também são os dois caipiras (os ótimos Nilvan Santos e Carlos Lofler) que se envolvem com a perigosa lulu crentes que estão fazendo apenas cinema. Cabo Magro (Eisenhower Moreno) completa o engraçadíssimo trio que no final da peça, vira um grupo musical. Só a cena com os três cantando metidos num figurino rosa já vale uma ida ao teatro.