Figurinos caprichados compõem com precisão cada personagem da peça

Crítica publicada em O Globo – Rioshow
Por Mànya Millen – Rio de Janeiro – 06.11.1994

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O belo visual é o maior destaque

Da peça O Médico Volante, de Molière, ele extraiu o fio condutor de seu roteiro. Da estética da commedia dell’arte, retirou as situações e personagens-chave, como a Colombina e o Arlequim. Na arte popular do circo e da ópera bufa, buscou referendar seu texto e a marcação dos atores. Com essa colcha de retalhos culturais, o autor e diretor, João Batista criou A Incrível História do Homem que Bebia Xixi. Um espetáculo bem divertido que, no entanto, tem seu maior trunfo na riqueza visual concebida por Doris Rollemberg (cenografia) e Mauro Leite(autor dos belíssimos figurinos) e na iluminação mais do que exata e coadjuvante de Renato Machado.

Como que explicitando a proposta da mistura, os figurinos que Mauro não remetem diretamente à commedia dell’arte. Ele preferiu dedicar sua criatividade à essência da cada personagem em cena. A romântica mocinha Angélica, por exemplo, traz corações e alianças espalhadas por todo o seu visual. E a criada Colombina tem bules e galinhas estampadas em sua saia.

No elenco, Roberto Guimarães, como Pantaleão, o pai bufão de Angélica (Gisela Mauler) e Sônia Praça, como a Colombina, são os melhores atores. Gestos e expressões faciais na medida certa compõem personagens estruturados e eficientes em cena. Luiz Fernando Hosken (Florindo, amado de Angélica) está razoável e Eduardo Rieche começa bem mas depois exagera na composição de seu Arlequim. E esvazia um personagem importante para o desenvolvimento do espetáculo.

João Batista, aliás, e também co-responsável por esse Arlequim equivocado – erro facilmente eliminável. Na tentativa de aproximar tanto o personagem do público, o autor deixou passar pelas falas do Arlequim expressões e trejeitos que destoam muito do conjunto e não favorecem a peça.

Além disso, algumas cenas mais “dramáticas” também se alongam além do que deviam, provocando, em alguns momentos, a dispersão da plateia miúda.