Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 21.05.1975

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As Aventuras de um Reizinho Medroso

O texto tem, como qualidade positiva, o desejo assumido de apenas contar uma história: não pretende dar aulas de bom-mocismo. Mas, executando-se essa posição filosófica, não há outros fatores que mereçam destaque e elogios em As Aventuras de Um Reizinho Medroso. 

O ponto de partida do tema é interessante: o Rei faz mil anos e sabe que, ao final do dia, chegará um novo monarca ao castelo. Não querendo deixar o posto, o Rei manda trancar todas as portas e passa o dia angustiado à espera da meia-noite. Esse tema – é visível – apresenta diversas facetas, inúmeras possibilidades de desenvolvimento. Mas o autor escolhe um caminho pobre, arbitrário e simpático, fazendo com que o conflito dramático, ao invés de se enriquecer, se feche tolamente em torno dele mesmo.

(Afinal, quem é o autor? Essas Aventuras de Um Reizinho Medroso são, apenas, O Castelo de Mulumi, com título trocado.).

A direção de Paulo Barcelos caracteriza-se pelo tom neutro, apenas morno. Em nenhum momento o espetáculo pode ser classificado de excepcional ou altamente criativo; em compensação, não há instantes que possam ser definidos como ruins. É uma direção que não arrisca; por isso, não erra. Mas o ideal é que sempre se corra o risco. Só assim os espetáculos poderão ser criativos, ao invés de apenas copiar formas já cansadas.

O elenco apresenta uma relativa harmonia, ficando o naipe feminino bem melhor representado com os trabalhos de Suely Poggio e Eliana Rocha. Suely Poggio (Assombração) confirma a comunicabilidade e a simpatia já detectadas em outros dois espetáculos ainda em cartaz: Somos Mil e Um, Dois Três… Era Uma Vez. A atriz sabe dizer o texto, se movimenta com graça e sabe explorar, expressivamente, seu agradável sorriso. Mas Suely deve começar a se preocupar em não se repetir: certos momentos de seu trabalho, em As Aventuras, são muitos semelhantes à sua atuação em Um, Dois, Três. Eliana Rocha (Bruxilda), apesar de ter uma voz ainda pouco trabalhada, se movimenta bem, age com muita segurança e estabelece um novo fator de interesse para a encenação. Hugo Mayer, como o Rei, faz um trabalho muito igual o tempo todo, sem nuança, apesar de apresentar certa comicidade. Mas sua voz, sempre na cabeça, cria um misto de monotonia e irritação. Paulo Barcelos, como Piretsin, é a figura mais apagada do elenco: além de não mostrar, nesta peça, muita presença, ele ainda insiste naquela velha chave do mau teatro infantil: os personagens-crianças têm de ser interpretados com falas e movimentos meio abobalhados. E, além do mais, Piretsin, já não é nenhuma criança – tem quinze anos.

Os figurinos de Zélia Xavier cumprem suas funções, destacando-se a roupa da Assombração. Já os cenários (criação do grupo) são pobres em termos materiais e artísticos. Não são expressivos, são mal acabados e, além de tudo, são feios.

O Grupo Fantasia, cuja peça de estreia está em cartaz no teatro Teresa Raquel, se quiser melhorar o nível de suas próximas montagens, deverá cuidar mais dos itens direção, texto e cenário. Com elenco, figurinos e produção (o teatro estava cheio) é claro que não precisa se preocupar.

Recomendações:
Criançando, Pluft, o Fantasminha, Você Tem um Caleidoscópio?, A Viagem de Barquinho