Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 10.08.1975

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Alice no País das Maravilhas

A repetição – e a consequente monotonia visual – são os traços marcantes desta montagem de mais uma adaptação de Alice no País das Maravilhas, levada no teatro de Bolso, com texto e direção de Jayr Pinheiro. O esquema de funcionamento é sempre o mesmo: os atores entram no palco; fazem à cena; saem do palco; a árvore dança com luz estroboscópica; os atores entram no palco; fazem à cena; saem do palco; árvore dança a mesma música, com os mesmos movimentos, etc. etc. etc.

A encenação é repleta de tempos mortos e a montagem já parte de um pressuposto de derrota na medida em que o texto lhe permite muito poucas possibilidades. A adaptação feita por Jayr Pinheiro ao clássico de Lewis carrol é profundamente esquemática e deixa de lado toda a riqueza de situações, personagens e atmosferas abandonando todo o non-sense e limitando-se a seguir a linha da ação – realmente, o que há de menos importante na obra de Carol. Na adaptação de Jayr Pinheiro, Alice no Pais das Maravilhas é apenas a historinha de uma menina que tem um sonho…

O cenário – também de Jayr Pinheiro – com seus panos enrolados para fazer a porta, com os adereços artisticamente pobres, ignora por completo as constantes mudanças de locação exigidas pelo próprio texto. Já os figurinos e a maquiagem têm sentido dentro do espetáculo, destacando-se as roupas do Grilo e do Relógio. (É incompreensível, entretanto, que uma garota com roupas tão bem cuidadas, como Alice, use como lenço apenas um retalho).

O elenco é bem desigual. Enquanto Ratão (Jayr Pinheiro) domina amplamente suas cenas, com bom tempo, comunicabilidade e comicidade, Alice (Lea Patro), a rainha (Aline Veiga) O Coelho (Olegário de Holanda) e o relógio (Ubirajara Fidalgo) apenas dão conta do recado, sem brilhos, mas também sem falhas. Já a Roseira (Florizete Santos) e o Grillo (Elício Moreira) têm atuações negativas; a primeira sem convencer da veracidade de seu personagem; o segundo, apresentando um incompreensível cansaço e uma indiferença total pelo espetáculo.

O teatro infantil carioca ainda continua devendo, a Lewis carrol, uma adaptação à altura de sua desvairada criatividade.

Recomendações:
Da Metade do Caminho ao País do Último Círculo, no MAM; A Viagem de Barquinho, no SENAC; Maroquinhas Fru-Fru, no Opinião; Estória da Moça Preguiçosa, em Niterói; A Margarida Curiosa, na Casa Grande.