Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 17.07.1975

Barra

A Gata Borralheira

Mais uma vez o teatro infantil recorre aos clássicos. Desta vez, no Teatro de Bolso, a escolhida foi Cinderela. Infelizmente o autor (Jayr Pinheiro) não teve uma preocupação de fazer uma adaptação que enriquecesse as situações da vida da Gata Borralheira: ele limitou-se a colocar, no papel, o esquema básico do enredo clássico. E, quando decidiu ampliar significados, o tiro saiu pela culatra. Exemplo: Cinderela perdoa a madrasta e a irmã, permitindo que também morem no Palácio. Mas, em compensação, a madrasta irá ser empregada na cozinha e a irmã trabalhará na lavanderia… Além disso, o texto apresenta erros de concordância verbal e a Feiticeira é um personagem infeliz, enquanto transmissora de ideias para crianças. Principalmente numa peça que termina com tal apelo educacional: “Pois a verdade e o bem triunfam sempre”! – o que é, no mínimo, uma grande mentira.

A direção de Jayr Pinheiro deixa claro que, apesar dos anos de experiência no uso daquele palco, ainda não foi descoberta uma maneira de utilização criativa do espaço cênico limitado. As marcas são as mesmas das outras peças levadas pelo mesmo diretor; a dança é paupérrima; as luzes negras e estroboscópica são usadas mais uma vez; e a Cinderela dá-se ao luxo de varrer a casa com batom e pintura nos olhos. Desta forma, ela fica preparada para o baile do segundo ato!!

O cenógrafo (Jayr Pinheiro) também não descobriu como usar o espaço e insiste em elementos que têm funções apenas decorativas em momento algum evidenciam qualquer toque de expressividade. Os figurinos de Delmar Morais mostram muita desigualdade: a roupa do príncipe é boa; a de Cinderela (no baile) não cai bem na atriz; a há certas misturas de cores visualmente bem desagradáveis.

O elenco é muito irregular. Enquanto Lea Patrot e Eduardo Correia conseguem ser engraçados e comunicativos (mas numa interpretação sem nenhum brilho especial, diga-se de passagem), Roberto André (o príncipe) tem uma boa figura, com um porte adequado, mas seu modo de dizer o texto é bastante falso. Já o resto do elenco apresenta uma performance bem insatisfatória, com muitos lugares-comuns e nenhuma criatividade.

Recomendações:
A Viagem de Barquinho, no SENAC; Maroquinhas Fru-Fru, no Opinião; Estória da Moça Preguiçosa, no Quintal, em Niterói.