Matéria publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Eliana Yunes – Rio de Janeiro – 14.03.1987
Rio que te quero ver
Qual a criança que já não desenhou o Pão de Açúcar, o Redentor no Corcovado ou a Ponte Rio-Niterói? Quem visitou a exposição Pintamundo, promovida pelo Museu do Índio, no ano passado, com as imagens de como a criança vê sua cidade, não pode duvidar de sua capacidade de perceber detalhes ou de conceber perspectivas inusitadas.
Pois bem, elas vão gostar de ir até a Galeria de Arte do Banerj, na Avenida Atlântica, ver esta mostra organizada pelo crítico Frederico de Morais, que apresenta através de 30 artistas cariocas o Rio de Janeiro Fevereiro e Março,
em 48 trabalhos que se desdobram sobre a paisagem da cidade.
Cartão-postal da cidade, o Pão de Açúcar aparece representado em perspectivas absolutamente diversas, que vão desde a curiosa concepção narcisista de quem se contempla nas águas da Guanabara (Jorge Duarte) até a versão surreal de Ismael Nery. Mas está também nas pinturas de Cláudio Tozzi e Leo Putz e nos desenhos de Amador Perez e Paulo Garcez, onde observar as diferenças sempre permite iniciar a criança na linguagem da arte, que recria o real com perspectiva e recursos particulares.
Há muito mais, no entanto, para reconhecer e conhecer na exposição o Corcovado aparece numa janela entreaberta de Wanda Pimentel, e não será difícil identificar figuras e tipos no painel para o Catete de Glauco Rodrigues: o sambista, a mulata, São Sebastião se mesclam num cenário tropical. Vai dar trabalho ver a Lagoa no Rio Ziriguidum de Paulo Roberto Leal, sem os referenciais costumeiros: a obra é neoconcreta. Roberto Magalhães preferiu uma montagem em torno do relógio da Central, com imagens urbanas desalinhadas.
De quadro em quadro, um passeio que vai da Barra aos subúrbios com Vitor Arruda e Rubens Gerchmann e abarca tendências artísticas e preferências afetivas diversas, propondo-se como um roteiro para reconhecer – enquanto é tempo – a cidade maravilhosa que desde há muito encanta artistas nacionais e estrangeiros. Pode encantar seguramente as crianças e fazê-las percorrer, no gênero paisagístico, estilos e recursos diversos, como só a arte pode dispor para expressar o real: Pancetti, Milton da Costa, Iberê Camargo estão ao lado de Tereza Simões, Aluísio Carvão e Marilia Kranz, além de Caruso, entre outros.A sugestão vale para o sábado (a galeria está fechada aos domingos), a partir
das 16h, e fica apenas até o final do mês.