Crítica publicada no Site do CEPETIN
Por Carlos Augusto Nazareth –  Rio de Janeiro – 23.06.2008

 

Barra

Um Garoto Chamado Rorbeto

O texto do Gabriel Pensador conta uma história bastante simples, falando sobre temas recorrentes da atualidade. Enquanto conflito dramático sua estrutura é muito tênue, muito mais próximo do épico do que do drama. A qualidade do texto de Gabriel Pensador está no ritmo que ele impõe à fala, onde se mesclam perfeitamente fala e música; uma fala cadenciada, ritmada, rica em jogos de palavras.

Enquanto visão social, como se fala no programa da peça – a questão das diferenças, da superação – o espetáculo não as sublinha – propositalmente ou não. As ideias passam com certeza, mas não com impacto – sutilmente, o que pode ter sido uma (boa) opção da direção. As crianças se envolvem mais com o jogo de palavras do que com as situações dramáticas reveladas através dos diálogos.

Rico e Renato Vilarouca em seu melhor trabalho para teatro conseguem integrar bastante bem o contemporâneo cenário projetado com o fazer teatral e Jorginho de Carvalho consegue de forma inteligente iluminar os atores sem interferir na projeção, o que é raro. A dupla de vídeo e animação cresce trabalho a trabalho nesta nova linguagem que se alia e se integra ao teatro. Mas mesmo com a mão firme da direção, por vezes o encanto do espetáculo se desloca do fazer teatral para a projeção.

Waleska Áreas, que faz a mãe tem um tempo de comédia exato e constrói seu personagem com verdade; o pai, feito por Cícero Raul, é de uma composição minimalista. Um matuto perfeito parece inspirado nos jeitos e trejeitos de Mazzaroppi. O protagonista João Pedro, apesar da pouca experiência de um jovem ator, consegue dar uma personalidade forte e bem construída ao seu personagem. No limite certo do humor, do cômico, do trágico, do real, do estranhamento. Belo trabalho de um ator jovem. Sura Berditchevsky se sai extremamente feliz neste seu trabalho. O espetáculo é preciso, limpo, bem construído, cenas cativantes, a direção de ator é clara, dando a organicidade necessária à própria concepção do espetáculo, um interior bem brasileiro, feito a partir de imagens encontradas por esse Brasil afora e sem cair no “caipirismo” caricato. Muitíssimo bem conduzidos os atores – todos – estão muito bem.

Finalmente a música não poderia deixar de ser citada. Sendo, aqui, o dramaturgo, a música e musicalidade de Gabriel Pensador está em todo o texto e a trilha é extremamente atraente: jovem, adequada, “conta um pouco da história e é assim deve ser” – como diz o mestre Ilo Krugli.

Um Garoto Chamado Rorbeto é um espetáculo onde o que fica mais evidente é o bom teatro. O teatro feito com cuidado, acabamento, competência e talento. As crianças gostam e os pais apreciam como deve ser um bom espetáculo infantil: agradar às crianças – a seu modo, e aos adultos, por sua ótica. A Oi mais uma vez acerta ao levar para o teatro da OI Futuro mais uma peça infantil de qualidade, tendo se tornado uma referência de bons espetáculos infantis – e a preços accessíveis, sempre lotados. Quem for compre seus ingressos com antecedência. E vale a pena ir.