Crítica Publicada no Jornal O Globo
Por Clovis Levi, Rio de Janeiro, 1979
Teatro Infantil: Conto de Fadas e Bruxas
Apenas um Conto de Fadas, de Eduardo Tolentino, em cartaz no Teatro Vanucci,. É um espetáculo vivo e com muitos estímulos visuais para a criançada, O texto procura sair do esquema clássico de histórias de fadas e mistura bruxas, fadas, bondade e maldade num caldeirão só. O autor leva seus dois personagens reais (Márcia e Renato: os dois meninos) a proporem um jogo de teatro a partir das sugestões de um sótão. “Fazendo de Conta”, dando “trajos à bola” e inventando o “que puder” os dois meninos penetram no mundo da imaginação como um momento de repouso às alegadas pressões dos parentes. Segundo as crianças, a repressão é tanta que enseja uma radicalização: querem ir para um lugar onde não haja pai, mãe ou tia. Percebem então que o reino da fantasia está em crise porque as crianças só querem ver televisão. E penetram neste mundo em crise, mas sempre de sonho, e vivem ali uma aventura.
A peça tem também alguns achados interessantes como a fada sem ponteiros; A improvisação como algo anti-regulamentar; A censura traduzida por “defeitos técnicos” e algumas piadas diretamente para os pais. O texto interessa à criançada, que fica ligada a maior parte do tempo, mas ele acaba sendo um pouco confuso e grande demais. Há certas situações que ficam jogadas e que acabam confundindo: a tese do sociólogo; o personagem do Espelho, com o qual a plateia se identifica mas que, afinal de contas, é dedo-duro, o chantagista (“dou a informação se você se tornar minha amiga”) e acha muito bom o fato de ser mandado pelos outros e não precisar pensar; e, principalmente, o aparecimento, no fim, como personagens reais, da Fada Morgana e do Príncipe Bruxinaldo, ainda mais no mesmo sótão da casa dos meninos.
Apesar dessa certa confusão, o saldo é muito favorável ao texto, e a direção, do próprio autor, criou um espetáculos bastante vivo e alegre, misturando climas de comicidade, ternura e até de deboche, tudo, num bom equilíbrio. A força da montagem está na sua expressividade visual. Como observador não só do espetáculo, mas também da plateia infantil, vejo que as crianças vibram com aquela quantidade de gente no palco fantasiada, cantando, dançando, fazendo palhaçadas. Os figurinos de Lola Tolentino e a maquilagem de Denildo Pinto têm boa dose de responsabilidade neste bom resultado. A encenação tem um toque de magia, de fantasia, de envolvimento, tomando, às vezes um tom meio felliniano (por exemplo, quando a “fada sem ponteiros” monologa com a música de Amarcord, ao fundo, e com uma iluminação dentro do clima). A elogiar a coragem da direção de partir para o canto ao vivo ao invés de utilizar o play-back. Os atores que, no geral, têm um desempenho muito unitário e acima da média de um elenco tão grande, sentem-se muito mais seguros nos números musicais. A direção contou com bons trabalhos que permitiram um resultado positivo: o do elenco; o da iluminação (Aurélio di Simoni); e o da música (Oscar Carrera Jr.) A coreografia Angel Vianna é eficaz, mas eu gostaria de ver uma coreografia no teatro que saísse do rotineiro e ousasse um pouco mais.