Crítica publicada no Jornal do Commercio
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 18.01.1997
Galinhas, um Melodrama de Penas
Figurinos inventivos são o melhor do espetáculo
Melodrama de Penas se passa num galinheiro “emergente” – o Village das Galinhas e conta uma história, aparentemente simples. Volta e meia acontecem misteriosos roubos de ovos que estão sendo chocados. Após uma série de peripécias descobre-se, finalmente que o sequestrador é um dos membros da própria comunidade.
A dramaturgia realizada para crianças, apesar de seu caráter específico, não pode se afastar de seus próprios cânones básicos, pois corre o risco de se perder no meio do caminho, como acontece com o Melodrama de Penas. Este é um problema recorrente nos textos voltados para o público infantil. E os ônus têm sido bastante altos.
A relutância em aceitar que a escrita dramática devesse se pautar por uma carpintaria bem elaborada, através de um estudo sistemático, levou o tão conceituado cinema europeu, a perder seu público. Essa perda fez com que os cineastas voltassem os olhos para a teoria e prática da dramaturgia, recuperando, inclusive o prestígio do próprio termo dramaturgia que já se encontrava ali, desgastado. É claro que as estruturas e regras estão aí para serem quebradas, como é o caso do diretor e roteirista de cinema, Quentin Tarantino. Mas isto é uma outra história.
Em Melodrama de Penas, texto de Tereza Falcão, as cenas não “chicoteiam” a história; muito pelo contrário, são digressões que afastam o espectador do fio condutor que, no caso, é muito tênue. Na verdade, a trama não tem consistência suficiente, nem fôlego, para conduzir bem a história até o final, o espetáculo se perde e se confunde. Há personagens que surgem e vão, sem dizerem a que vieram, como o casal de detetives.
Aparentemente para suprir essa fragilidade de enredo, há inúmeras cenas que, isoladamente, são interessantes, mas que pouco contribuem para a compreensão na narrativa, como os diversos números musicais. Muito mais eficiente para prender a atenção do espectador é o fio narrativo, e não cenas autônomas, que funcionam como quadros.
Escrever para crianças não é “soltar a criança que existe em nós”. Isso leva, na maioria das vezes, a uma grande brincadeira divertida para atores, para o grupo, e até para os pais, mas que não falam ao universo da criança. Assim como as referências - absolutamente distintas do universo infantil – desde Sarah Bernardh a nomes de emergentes da Barra.
Se Galinhas, um Melodrama de Penas tivesse se atido à simplicidade da própria trama, e houvesse recheado esta mesma de mistério, suspense e humor, prendendo a atenção do público pela história em si, poderia ter chegado a um bom termo, pois a produção cuidadosa tem excelente elenco, onde se destaca a atuação de Inês Vianna, que consegue dar nuances ao seu personagem, mesmo com o perigoso recurso da utilização das máscaras adotado pela direção. Por isso, os demais atores ficam limitados aos recursos vocais e corporais que, apesar de bem trabalhados, uniformizam o gestual do elenco.
A trilha de Marcelo Neves perpassa pelo mesmo caminho da encenação, proposta por Gustavo Gasparani – um “mix” de recursos que, infelizmente, não servem bem à história. O cenário de Sérgio Marimba, fiel ao seu estilo, resolve bem a estética do galinheiro “emergente”, e possibilita utilização dinâmica do mesmo, porém a transformação em floresta não traz boa solução cênica.
O visual exuberante do espetáculo fica por conta do cenógrafo – carnavalesco que faz a festa, juntamente com os figurinos de Rosa Magalhães que, por sua vez, resolve de maneira criativa o eterno problema do teatro infantil de colocar “bichos” em cena, sem recorrer a uma estética convencional e ultrapassada.
São figurinos expressivos, coloridos, criativos que servem à composição dos personagens integrando o clima esfuziante da cenografia. A iluminação de Fred Pinheiro atua de modo pouco eficiente, sem intervenções que auxiliem a dramaturgia do espetáculo, nem mesmo efeitos, apesar dos muitos recursos em cena.