Luiza Thiré e Eduardo Martini

Crítica publicada no Jornal do Commercio
Por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 26.04.1997

 

 

 

 

 

Barra

Foi Ela Que Começou… Foi Ele Que Começou…

Um espetáculo leve, simples e divertido 

Foi Ela Que Começou… Foi Ele Que Começou… poderia ser considerada uma comédia de costumes, ou crônica do cotidiano de uma família classe média, lembrando um pouco alguns seriados americanos: onde o dia-a-dia com seus encontros e desencontros, atribulações, e situações típicas fazem a festa.

O texto, de Marcelo Saback, é inspirado, no livro de Toni Brandão e conta a história de dois irmãos gêmeos: Gute e Pisco, que ficam sozinhos em casa à noite, brigando pela posse da TV. A partir desta situação básica tenta-se construir uma história de fim moralizante (sic) onde falta com certeza, uma estrutura dramatúrgica mais consistente. Não se conta uma história, mostram-se situações do cotidiano, que podem ganhar o espectador pela identificação, mas não pela trama, que inexiste.

Este é um problema típico que ocorre muito frequentemente na adaptação da linguagem literária para a linguagem dramática. O texto dramático tem peculiaridades que sustentam um espetáculo e quando essa carpintaria é falha, é necessário supri-Ia de alguma forma. Em Foi Ela Que Começou… a direção de Marcelo Saback imprimiu um ritmo frenético ao espetáculo, e utilizou todos os artifícios cênicos possíveis para suprir a falta de uma trama. O que resultou, com certeza, num espetáculo nervoso, com um ritmo acelerado, onde falta, sobretudo, espaço e tempo para se saborear o fazer teatral – para os que estão em cena, e para os que assistem.

De início, o espetáculo, pelo seu dinamismo, prende a atenção da plateia; ao final de meia hora o público começa a se cansar exatamente deste mesmo ritmo, da falta de nuances, e das excessivas repetições de cenas e situações. Mas são problemas que, se revistos, podem tornar o espetáculo, mesmo assim, atraente para o público a que se destina.

Os cenários de Teca Fichinski são um achado de simplicidade e criatividade; funcionam muito bem como suporte do espetáculo, ocupando o espaço de maneira inteligente e prática, dando um tom leve e lúdico à peça. Os figurinos de Cláudio Carpenter são simples e funcionais numa feliz união cenógrafo/figurinista, o que não é, como talvez pareça, uma tarefa das mais fáceis.

Um dos melhores iluminadores da cena brasileira, Paulo César Medeiros está presente, embora não seja este um de seus momentos mais felizes; fechando a ficha técnica, as músicas de Alexandre Negreiros pontuam todo o espetáculo, como uma trilha sonoplástica que se incorpora à cena, mas de um modo já desgastado, típico do teatro infantil, com barulhos e sons acompanhando as movimentações dos atores etc.

Finalmente, os atores do espetáculo. A encenação se apoia nas performances dos dois atores e nelas se centra para levar a bom termo a sua proposta. E os dois se desincumbem muito bem de sua difícil tarefa. Luiza Thiré faz bem a adolescente de aparelhos, com cacoetes típicos, trejeitos adequados, vigor e presença cênica. Eduardo Martini, que tem estado várias vezes nos palcos cariocas em produções para crianças nos traz, desta vez, o melhor de seus trabalhos neste segmento. Se sai muito bem na difícil tarefa de compor – mais uma vez – um menino, em espetáculo infantil; mostra sua versatilidade; dá dinâmica à cena, e sua empatia com o público é total, enfim, realiza um excelente trabalho.

No preocupante panorama do Teatro para Crianças no Rio de Janeiro, que teve momentos inesquecíveis em 93 e 94, que em 95 e 96 começou a perder seu rumo ascendente e que em 97 ainda não disse a que veio, Foi Ela Que Começou… Foi Ele Que Começou…, com alguns acertos, pode se tornar um agradável programa para a garotada.