Cena de Amigas x Amigas

Crítica publicada no Jornal do Commercio
Por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 31.05.1997

 

 

 

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Amigas X Amigas

O Castsapá é uma escola de dança e artes em geral que se notabilizou por uma estética e por uma filosofia expressa na divulgação de seu espaço venha ser feliz conosco. Todos os seus espetáculos têm seguido a mesma linha, que para os pais ou avós – talvez lembrem filmes de Debbie Reynolds e Tab Hunter: muita dança, muita música, sapateado, alguma intriga, um aborrecimentozinho e um final pra cima, com todo mundo feliz. É assim em Amigas x Amigas.

Para um leitor mais desavisado, ou ao contrário, habituado às críticas que louvam sempre os espetáculos cabeça ou de pesquisa pode achar que as comparações acima possam ser depreciativas. Mas não. Nada contra o colorido, o digestivo, o divertido e leve do espetáculo atual do Castsapá.

Menos técnico que os espetáculos anteriores (Na Cola do Sapateiro e a Festa de Babete) Amigas x Amigas traz uma nova ficha técnica; mantém vivo, no entanto, o espírito da máxima do Castsapá, com pré-adolescentes que irradiam simpatia, e revelam o maior prazer de estar em cena.

O texto de João Baptista é leve, bem-humorado e retrata situações reais do dia-a-dia das meninas classe média, revelando um pouco os costumes, hábitos e perfil de uma fatia dessa população. A trama, simples, e despretensiosa, como todo o espetáculo, fui num ritmo adequado, sem deixar cair riem atropelar a cena. João Batista, enquanto diretor consegue das suas atrizes-mirins, com certeza, o melhor delas, surpreendendo e encantando em alguns momentos a plateia que sucumbe ao charme do elenco. As coreografias, de Tânia Nardini e Mabel Tude ficam presas aos limites de suas dançarinas-atrizes que superam as dificuldades com um sorriso encantador, graça e simpatia. E por que não, presença cênica?

Surpreendentemente, o restante da ficha técnica, composta de profissionais consagrados e premiados do teatro, deixam, com certeza a desejar em seu resultado final, numa produção restrita.

O cenário de Doris Rollemberg e os figurinos de Mauro Leite, apesar de estarem em sintonia, não apresentam sequer a inventividade e acabamento de outros trabalhos, assim como a luz de Renato Machado – outro campeão dos prêmios do teatro infantil.

O espetáculo diverte, distrai, tem música, dança, bom humor, e foi feito para o seu público; é com certeza um espetáculo que vai agradar muito às meninas que ali vão se reconhecer e se divertir com as situações em cena: dois grupos de amigas rivais, no colégio, no play e na aula de jazz, e que por diversas ciladas do destino vão se conhecendo melhor
pouco a pouco. O restante da história fica por conta de quem for se divertir e assistir o espetáculo que foi feito com este objetivo: divertir e distrair. Sem pretensões nem compromissos outros. E esta também é uma das funções do teatro.

Um outro mérito do espetáculo é atingir um público dos mais esquecidos: o pré-adolescente, que, com certeza, é discriminado pela produção cultural, mais que o público adolescente. Sem falar de sexo, drogas e rock and roll a peça atinge com certeza a garotada dos 9 aos 12 anos, em cheio.

Obs. Apresentada no Teatro de Arena.