Cartaz do espetáculo foi apresentado na Sala Paschoal Carlos Magno, na UNIRIO, de 14 a 18.06.1989

Programa, 1989

 

 

 

 

 

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(INFORMAÇÕES DO PROGRAMA)

(Capa)

O SANTO INQUERITO

Dias Gomes

Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO)

(Página 01)

O Autor

Alfredo Dias Gomes nasceu em Salvador, estudou no Rio e iniciou sua carreirta artística em São Paulo, no rádio, embora já tivesse estreado, como teatrólogo, na adolescência. Aliás é interessante notar que suas primeiras peças estão completando cinquenta anos. O sucesso começou em 1960: O Pagador de Promessas foi encenada pelo TBC e, logo depois transformada em filme por Anselmo Duarte, que ganharia a Palma de Ouro do Festival de Cannes.

Além dessa, as mais conhecidas são: Odorico, o Bem Amado e O Berço do Herói, adaptadas com enorme êxito para a TV, a segunda com o nome de Roque Santeiro, Campeões do Mundo e O Santo Inquérito. Recentemente estreou Meu Reino por um Cavalo, com direção de Antônio Mercadante, que recebeu comentários elogiosos de Flávio Marinho e Sheila Kaplan.

Em todas elas, o autor distingue-se pela sua permanente preocupação em criticar alguns valores humanos que caracterizam a realidade brasileira e, mesmo, a mundial.

Décio de Almeida Prado, no livro O Teatro Brasileiro Moderno, referindo-se à sua técnica, diz que “…crescendo em sua complexidade, nunca perdeu a capacidade de comunicar de uma maneira clara e direta. (…) Não sendo um escritor aventuroso nem experimentalista, serve-se, com habilidade, de todos os recursos, inclusive os mais recentes, integrando-os nesse tipo de carpintaria segura, de bom artesanato, característico do meio em que se formou.”

Para terminar, reproduzimos palavras do próprio autor: “No meu entender, não cabe ao teatro revelar ou ditar a verdade. Mesmo porque o placo é o reino da mentira. A verdade está fora dele. Mas o teatro pode conduzir a ela, armando o espectador para que ele possa, por si mesmo e fora do teatro, encontrá-la.”

(Página 02)

A Peça

É difícil não estabelecermos, de imediato, uma certa aproximação entre O Santo Inquérito e outras peças que, desenvolvendo o tema fulcral da intolerância, tenha, criticado certas posturas clericais. Há uma do próprio Dias Gomes, confessadamente um autor marxista. O Pagador de Promessas, que se prestaria, com perfeição, a um confronto.

Yan Michalski, no prefácio à edição da Civilização Brasileira, traça um paralelo  entre os seus personagens principais, respectivamente Branca Dias e Zé do Burro: “dois seres puros em luta contra uma impiedosa conspiração, que não admite a pureza, que se aproveita dela, e que acaba por destruí-la (…) Têm em comum o seu admirável, simples e modesto humanismo. Ambos são cheios de vida, ambos têm uma espécie de solidez que lhes vem do íntimo trato diário com a terra e a natureza e ambos não pedem outra coisa senão viver com simplicidade, de acordo com os seus princípio, e cumprindo conscienciosamente, a modesta e despretensiosa missão que acreditam haver recebido…”

Arthur Miller, em As Feiticeiras de Salém, já explorara dramaticamente a analogia entre as perseguições religiosas do passado e as perseguições políticas recentes, buscando as causas psicológicas e sociais da intolerância.

Em O Santo Inquérito, Dias Gomes, partindo de um fato histórico, ocorrido na Paraíba, no século XVIII, resgata os processos utilizados durante a Inquisição, aproximando-os dos mecanismos de tortura explorados, com o know-how da tecnologia moderna, durante a ditadura militar, principalmente na década de setenta. Isto fica muito claro na montagem estreada em São Paulo, a 25 de agosto de 1977, sob a direção de Flávio Rangel, cuja abertura continha ruído de soldados marchando em pelotão, sirenes de viaturas policiais, etc.

Esta versão que agora é apresentada extinguiu qualquer tipo de referência espaço-temporal.

Parece-nos ter ganho, o espetáculo, em contrapartida, algo de universal e eterno.

(Páginas 03 e 04)

A Montagem

A primeira tarefa que se impôs foi transformar o texto da peça, muito discursivo, num material mais plástico, visual e sonoro, em que ação dramática seria reforçada pela conscientização de fatos apenas sugeridos anteriormente.

Perseguindo-se a obtenção de um drama “limpo”, estaria-se atingindo uma tragicidade maior.

Embora tivessem sido feitas incontáveis pesquisas sobre a Inquisição (no Brasil e no mundo), Bruxaria, Heresia, etc., não havia a intenção de se realizar uma peça realista, baseada em fatos históricos, bem documentados e comprovados. Buscava-se criar, mais, uma alegoria, um símbolo não localizável em tempo e/ou espaço, mas fugindo a qualquer tom mais “didático-pedagógico”, doutrinário ou moralizante, apesar de , por momentos, nos lembrar uma parábola.

De inicio houve uma ênfase especial quanto à necessidade de precisão, de terminalidade, de vigor, e de leveza em cada gesto, de rejeição ao meio-termo, ao não significativo, ao sujo, pois o objetivo preciso era o de se elaborar um espetáculo de acentuada preocupação formal.

Foi utilizado, na fase preliminar, vasto material sobre o Teatro Clássico Grego e sua “roupagem na Modernidade, enfocando a evolução sofrida pelo Coro: sobre o Nô – Teatro Clássico Japonês -, de onde foram enriquecedores para esboços coreográficos, buscando-se o entrosamento harmonioso das partes faladas com cantadas e as dançadas, em sucessivas interseções cênicas, não descurando do dinamismo e da expressividade e tendo em vista a “limpeza” e a simplicidade. O próprio Brecht e o distanciamento foram bastante pesquisados.

Logo de início, o diretor me posicionou com o responsável pela organização e unidade do espetáculo. Quanto aos atores, seriam também os criadores das músicas, dos solos e conjuntos coreográficos, e os portadores de sugestões para o desenvolvimento de cenas.

Foi um desafio ao mesmo tempo estimulador e preocupante pois, virando-se as costas ao fácil, ao feito, partiu-se do embrião – o texto após necessária poda – para um trabalho verdadeiramente coletivo, de criação, evitando-se o individualismo.

É difícil descrever as etapas que corresponderam ao levantar de cada pavimento dessa construção. Foi uma gestão muito árdua e exaustiva: por vezes chegou-se próximo ao desespero, como na ocasião em que nos foi participado que não contaríamos com o cenário inicialmente pretendido, onde cada ator se encontraria em perfeita integração de espaço e clima. Também surgiram ameaças de não ser possível fazer um vestuário dentro do figurino imaginado. Qual seria a solução? Que decisão deveria ser tomada?

Havia que ser levado em conta que, por se tratar de uma montagem de Faculdade, estaríamos sujeitos a circunstâncias e as condições especiais, com limites nítidos entre o que se desejava, o que se podia e o que se devia fazer, nunca perdendo de vista a permanência do tempo.

A aceitação de um número de alunos-atores que não era inicialmente desejado e a escassez de verba para a execução do cenário levaram a que se aceitasse o despojamento como a estética do espetáculo.

Evidentemente, muitas modificações tiveram de ser feitas na concepção primeira. Quanto ao resultado final, foi obtida uma unidade, após a interseção e a junção dos três núcleos de interpretes: – músicos,atores e dançarinos -, que, inicialmente destacados, vieram a se fundir.

(Verso da Última Capa)

Elenco

Vanessa Balallai: Branca Dias
Jorge Eduardo Costa: Pe. Bernardo
Renan Pompéia: Augusto
Carmela Soares: Visitador
Helena Tinoco: Notário 1
Beth Cudischevistch: Notário 2

Dançarinos
Flávia Pedrosa, Gilda Villaça, Lúcia Guimarães, Miguel Vellinho, Mona Ramalho, Sandra Valdetaro, Sérgio Almeida, Verônica Gewehr, Vilma Oliveira

Músicos
Adriana Santelli, Márcia Meneses, Margarida Bárbara, Paulo Raposo, Telma Leite

Ficha Técnica

Direção: Luiz André Cherubini
Assistente de Direção: Francisco Zwaiter
Assistente Teórico: Rosita Silveirinha
Assistente de Iluminação: Nina Pancevski
Cenário e Figurino: Elida Astorga e Elsie Calvet

(Última Capa)

Professores Orientadores

Direção: José Renato
Interpretação: Zeca Ligiero
Teoria: Angela Mousinho
Cenografia: Anísio Teixeira
Indumentária: Marie Louise Nery
Produção Executiva: Jane Celeste

Técnicos

Costureira: Marisa Motta
Contrarregra: Jorge Carvalho
Eletricista e operador de Luz: Domingos Souza Costa
Produção Executiva: Ismael Barros Mello

UNIRIO

Junho 1989