Figurinos e cenário se mostram bem integrados no clima de superprodução

Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 11.02.2006

Barra

Em busca do riso imediato

O Passarinho e a Borboleta segue os passos dos musicais americanos

O Passarinho e a Borboleta é o novo espetáculo da Companhia Brasileira de Sapateado. Com certeza há muitos teatros dentro do Teatro e espetáculos diversos para públicos diferenciados. O Passarinho e a Borboleta se insere num segmento que tenta seguir os passos do musical americano, no qual a musica e a dança são as atrações e o humor que permeia a apresentação busca o riso imediato da plateia. Espetáculos assim estão sempre nos teatros dos shoppings.

A peça busca apenas divertir e termina quando saímos do teatro. E agrada ao público, principalmente o adulto, que se encanta com os ares de superprodução, com as situações de comédia, mas não opera como instrumento mobilizador, visto sob a perspectiva da obra de arte.

Talvez pretendendo dar a seu público algo mais que simples diversão, o espetáculo trilha caminhos que não pertencem ao teatro, ensinando sobre ecologia, cadeia alimentar. Esta não é exatamente a função do teatro. Quando se trata de espetáculo infantil, os produtores, quando querem valorizar o seu espetáculo, dizem que trata de assuntos politicamente corretos e didáticos. O prazer suscitado pela beleza que  o sapateado provoca é mais importante que noções de ecologia dadas em  lugar inadequado.

O Passarinho e a Borboleta atrai a atenção do público, quando seu elenco faz o que sabe de melhor – sapatear. Belos números de dança e canto são os momentos esperados e que realmente encantam. Porém a linha narrativa fica prejudicada; em seu primeiro segmento, a história não se desenvolve, pois se privilegia os números de dança, como o da centopeia, da cigarra e outros, que, embora excelentes, retardam o desenvolvimento da história e, por isso, o público se dispersa.

A falta deste equilíbrio é o calcanhar de Aquiles do espetáculo, além do didatismo extemporâneo. No entanto, estamos diante de um espetáculo, que dentro de seu segmento, apresenta extrema qualidade, principalmente o excelente trabalho da Companhia Brasileira de Sapateado.

O cenário de Teca Fichinski consegue sugerir uma interessante floresta, em trama feita de tecido, sem recorrer ao lugar-comum. O mesmo ocorre com a árvore-falante que tem figurino e cenografia absolutamente integrados. Os figurinos de Marcelo Marques são irregulares – os pássaros pertencem a uma estética característica do teatro infantil, que já abandonou os bons espetáculos há muito tempo, no entanto as borboletas e a centopeia são belas e criativas. Além disto, o lado fashion, característico deste tipo de espetáculo, está presente nos figurinos da cigarra e principalmente no da Lua. Já o Sol lembra personagens estereotipados de quadrinho, o que em nada auxilia o excelente ator Cláudio Gabriel que o compõe.

O elenco tem que ser visto principalmente como uma companhia competente de dança; enquanto atores deixam a desejar. Destaque para o ator Sandro Christopher numa composição excelente, no tempo certo do humor. Destaque para o ator Sandro Christopher numa composição excelente, no tempo certo do humor.

A luz de Aurélio de Simoni mais uma vez surpreende àqueles que não conhecem sua extrema competência e criatividade – num clima de show não deixa que se perca a teatralidade necessária no palco. A música tem arranjos de Monique Aragão e a adaptação do texto é de Simone e Marcelo Sabak, que também dirige o espetáculo. A direção não consegue um todo harmônico entre dança, música e história e com isto o espetáculo perde em conjunto, mas diverte e agrada pela grandiosidade dos diversos cenários, pelo luxo dos figurinos, o esplendor da luz, do sapateado e das músicas, numa grande produção.