Crítica publicada no Jornal do Brasil
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 18.02.2006
Vinte mil léguas aquém
Espetáculo que celebra Júlio Verne está longe de cativar
O Livro Secreto – Uma aventura no Clube Júlio Verne está em cartaz no Teatro do Jockey, com texto e direção de Caio de Andrade. O espetáculo aborda a vida e a obra de Júlio Verne (1828-1905) como uma homenagem ao centenário de morte do autor de clássicos da literatura como Viagem ao Centro da Terra e 20 Mil Léguas Submarinas. A montagem é apresentada como infanto-juvenil. Mas, para crianças é inadequada, uma vez que padece de excesso de informações que dificultam a compreensão da história; e para os jovens não é indicada, porque centra-se em temas que não costumam despertar o interesse dos adolescentes.
A trama conta com três focos: informar sobre a vida de Júlio Verne, apresentar uma suposta traição entre dois irmãos e acompanhar a ida de uma menina para um colégio em Petrópolis. A proposta da direção é desenvolver uma encenação tradicional, com diálogos longe do coloquial e atores que seguem uma postura cênica acadêmica.
Essa proposta quase realista que utiliza o espaço cênico de forma solene se, por um lado, remete corretamente ao universo que a trama tenta retratar, por outro dá um tom pesado demais a uma encenação cujo ideal seria apresentar uma história cativante, como as de Verne. Plasticamente, O livro secreto consegue unidade, com cenário, figurinos, luz e projeção se integrando de forma adequada. Agradável, o cenário de Sérgio Marimba, que se completa com as projeções de André Sutton, é a linguagem que mais atrai a atenção do público.
Os figurinos de Ernani Peixoto e Michele Augusto buscam o traje de época, mas, apesar de alguns equívocos, adequam-se à proposta do encenador. A luz de Adriana Ortiz é correta, mas a trilha musical não agrega valor à dramaturgia. Pedro Neschiling faz Nicholas DudIey, um professor pretensamente engraçado cuja construção textual é até interessante. Mas o ator não consegue imprimir ao personagem o humor necessário. Bianca Bulcão faz Olivia AIbright com uma atuação correta – é a única atriz que constrói com sinceridade e coerência seu personagem.
Gustavo Rodrigues, que faz Thomas Dudley, não encontra o fio condutor de sua composição, por vezes exagerada, imprimindo um humor que não se coaduna com outros momentos do personagem. Adriana Maia tem em mãos um bom e forte personagem, Sara Chapman, mas sua composição é frágil.
Na pele do professor Arquimedes, Leandro Hassum utiliza-se sem medidas de seu histrionismo, não se preocupando com a adequação de seu trabalho ao conjunto. Mesmo, assim, exatamente por este vigor cênico, consegue levantar o espetáculo em diversos momentos, catalisando a atenção do público para o comediante, mas não para o personagem.