Programa do espetáculo estreou no Teatro Municipal de Santo André, SP, no dia 05 de maio de 1972. Foi o espetáculo oficial da Semana de Arte Moderna, e fez parte dos festejos de 150 anos da Independência. Também participou do Festival de Inverno de Ouro Preto.

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Alexandre Dressler e Gabriela Rabelo

Roberto Portela, Gabriela Rabelo, Lafayette Galvão e Silvia Borges

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(INFORMAÇÕES DO PROGRAMA)

(Capa)

ALEIJADINHO AQUI  AGORA

Autor: Lafayette Galvão
Direção: Antonio Pedro
Cenário e Figurinos: Sarah Feres
Músicas: Carlos Castilho
Coreografia: Jura Otero
Produção: Grupo Teatro da Cidade

Diariamente no
Teatro Municipal de Santo André
Maio e junho

(Verso da Capa – Foto de um Profeta de Aleijadinho)

Agradecemos

Dr. Newton da Costa Brandão,D.D. Prefeito de Santo André
Prof. José Lazzarini Jr., D.D Secretário de Educação e Cultura
Dr. Miller de Paiva e Silva
E funcionários do Departamento de Educação e Cultura
Comissão Estadual de Teatro
Fundação das Artes de São Caetano do Sul
Streiff – Comércio e Representações Ltda.
São Paulo Alpargatas
Ind. e Com. Copélia Ltda.
Novomocassin Calçados
Clube Aramaçan
Ocara Clube

No anfiteatro das montanhas,
os profetas do Alejadinho
monumentalizam a paisagem.
As cúpulas do passos
e os cocares verdes das palmeiras
são  degraus da arte de meu País
onde ninguém mais subiu:
Bíblia de pedra-sabão
Banhada no ouro de Minas

Oswald de Andrade

(Página 01 – Foto Congonhas do Campo)

As igrejas do Aleijadinho não se acomodam com o apelativo belo, próprio a São Pedro de Roma, à catedral de Reims, ou à horrível São Marcos de Veneza. Mas são muito lindas, são bonitas como quê, São dum sublime pequenino, dum equilíbrio, duma pureza tão bem arrumadinha e sossegada, que são feitas para querer bem ou pra acariciar, que nem a cantiga nordestina.

                                                            Mário de Andrade

Era uma vez um Aleijadinho, não tinha dedo, não tinha mão, raiva e cinzel lá isso tinha, era uma vez um Aleijadinho, era uma vez muitas igrejas com muitos paraísos e muitos infernos, era uma vez São João, Ouro Preto, Sabará, Congonhas, era uma vez uma cidade e um Aleijadinho era uma vez.

                                                             Carlos Drummond de Andrade

A obra do Aleijadinho é a obra mais importante de toda a história da cristandade.

German Bazin – Conservador do Louvre

(Página 02 – Foto Antônio Pedro)

…é uma forma de rejeitar certo tipo de teatro

                                                                  Antônio Pedro

Fazer Aleijadinho é uma forma de rejeitar certo tipo de teatro que, frustrado para saídas mais amplas, projeta na realidade seus choques afetivos, partindo para uma transcendência  mística dos problemas. Positivamente não posso aceitar esta extrapolação pessoal revestida de novidades, envolvendo um número cada vez maior de pessoas e já partindo para um sistema de massificação, mas que é uma velharia, reincidência lógica de certos movimentos sociais.

É então que se assiste a uma nova forma de pensar a fazer arte que , em nome dos fracassos, passa a negação de certos instrumentos fundamentais, como a palavra, e chega à institucionalização de uma coisa chamada anti-cultura, que por sua vez vai desembocar na condenação de toda a civilização ocidental, sua mola mestra, a razão, e sua filha dileta, a tecnologia.

É muito primário fechar os olhos a tudo isto, e apregoar uma volta à natureza. Aliás, já estava em Rosseau, um romântico burguês. O homem lutou milhões de anos para aperfeiçoar a sua linguagem, para fazer da palavra algo que defina, que clarifique. Não há porque se envergonhar de definir as coisas, considerando tudo que é definido como mentira, e partindo para um conhecimento exotérico, através de energias irracionais.

Toda nossa civilização está baseada na razão, e, historicamente, encontrou os seus melhores resultados nos momentos mais racionais.

A nossa proposta é um teatro em que as coisas estejam em relação às outras coisas; que coloque os fatos em relação aos outros fatos. O ator não procurando apenas a sua personagem, mas as relações com as demais. Tudo que é objeto do nosso conhecimento tem uma história, não é sozinho, não existe fora de suas circunstâncias. E nem podemos pretender a nossa busca individual, a nossa autoanálise num quarto escuro. Isto só pode acontecer em contato com a realidade, num processo integrado, reflexivo. Assim, a arte ou existe integrada dentro de um processo, ou não é arte de uma era científica. O artista tem que estar ligado à sua realidade, ou lhe faltarão meios para criar.

Vejo em Santo André a possibilidade de fazer teatro para um público ainda imune a um sistema alienante de importação cultural. Um público aberto. E, portanto, estamos aí.

(Página 03 – Foto: Lafayette Galvão)

As lendas que povoam a memória de um dos maiores artistas que o mundo já viu, trazem até nós a figura do Aleijadinho como um mulato que, influenciado por piedosos sacerdotes, fazia santinhos de madeira. Humilde e insignificante, auxiliado por alguns escravos que atavam os formões em sua mão mutiladas. A aberração começa ai. O trabalho de escultura, em pedra ou madeira, é antes de mais um trabalho braçal, e ninguém consegue fazê-lo sem uma saúde e resistência de ferro. No fim da vida, sim. Ai ele foi mutilado e arrasado por uma doença que o torturou e o matou.

Eu sempre ouvi falar do Aleijadinho, sem pensar nele dentro de uma época da história do Brasil, e, à medida que fui revirando bibliotecas e documentos, Lisboa surgiu diante de mim com um gigante. Vi Aleijadinho cruzando nas ruas de Vila Rica com Tiradentes, Chico Rei, Chica da Silva, Claudio Manuel, Gonzaga, Silvério, Alvarenga, Bárbara, Marília e muitos outros. Ele presenciou. Ele testemunhou tudo. E esta foi a minha preocupação. Colocar Lisboa dentro da História do Brasil.

Ele viveu a nossa história. Ele revolucionou a arte no mundo. Ele criou a sua escola. Ele sofreu a morte de Tiradentes. Em 1792 esculpiu um florão no sacrário da Igreja de São Francisco: um Cristo esquartejado, com o coração sangrando.  Esquartejado como Tiradentes. No adro da igreja de Congonhas do Campo, em praça pública, fez seu grande sermão: os profetas. Todos os dizeres das cartelas do profetas tem um fundo revolucionário. Um anseio de libertação. Um grito desesperado de um homem que viu o seu país devorado pelo fogo da injustiça. Isaias: “Eu vos acuso, idumeus e gêntios. Anuncio dores e prevejo destruição”. Naum: “Exponho qual o castigo espera Ninive depois de recaída. Digo que a Assíria deve ser destruida”. Todos na mesma linha de pensamento. E foram esculpidos logo após a execução de Tiradentes.

Esta é a proposição do texto: Aleijadinho. Aqui. Agora. Situá-lo dentro de uma época. Dar nomes aos bois e demonstrar a consciência de liberdade que sempre regeu o grande artista.

Um gênio dentro de sua época

                                                                           Lafayette Galvão

(Páginas 04 e 05 – Foto da Equipe e Elenco)

Aleijadinho, Aqui e Agora

2 atos de Lafayette Galvão
Músicas de Carlos Castilho

Elenco

Alexandre Dressler
Antônio Petrim
Dalmo Ferreira
Gabriella Rabelo
Henrique Lisboa
Lafayette Galvão
Luiz Serra
Luzia Carmela
Manuel Andrade
Marcelino Buru
Paco Sanhes
Roberto Portela
Rubens Teixeira
Sérgio Rossetti
Sylvia Borges
Sônia Guedes

Ficha Técnica

Produção: Grupo Teatral da Cidade
Direção Geral: Antonio Pedro
Direção Musical: Carlos Castilho
Cenários e Figurinos: Sarah Feres
Coreografia: Jura Otero
Execução Musical: Antônio Cleston, João Correia, Carlos Eduardo, Paulo Carrera
Adereços: Leo Leone e Ney Matogrosso (índios)
Cenotécnica: José Revoltos
Iluminação: João Dulcini e Henrique Total
Contrarregra: Roberto Portela
Projeção de Slides: Adelmo Vanucchi
Execução dos Figurinos: D. Anita
Divulgação: José Armando, Sylvia Borges, Paco Sanches, Inajá Bevilaqua
Fotos: Denise e Gabriel

Ato I

1 – Abertura. Batismo. Retrospectiva histórica
2 – Aleijadinho nas ruas. Aleijadinho (Lafaiette), Januário (Buru), Maurício (Manuel), Tipo Popular (Henrique), Cantor (Dalmo).

3 – Aleijadinho trabalha

Aleijadinho, Januário, Maurício ( os mesmos), Governador (Petrim), Tipo Popular (Henrique).
4 – Dom Rodrigo. Cantora (Sônia), Dom Rodrigo (Sérgio), Ajudante (Rubens), Padre (Serra), Cacique (Sonia), India (Sylvia), Cantores (Paco, Gabriella, Dalmo e Alexandre).
5 – Maia e Jefferson. Maia (Serra), Vidal Barbosa (Henrique), Jefferson (Petrim).
6 – Chico Rei. Aleijadinho, Januário, Maurício (os mesmos), Chico Rei (Dalmo), Seu Filho (Sylvia), Senhor (Rubens), Cantores (Gabriella, Sérgio e Buru).
7 – A queda dos quilombos. Rei (Serra), Zumbi (Dalmo).
8 – Encerramento do Primeiro Ato. Tipo (Henrique), Amigo (Paco).

Ato II

1 – Marília e Dirceu. Marília (Gabriella), Dirceu (Alexandre).
2 – Os Inconfidentes. Tiradentes (Rubens), Claudio Manoel da Costa (Sérgio), Alvarenga Peixoto (Petrim), Joaquim Silvério dos Reis (Serra), Padre Rolim (Sônia), Coronel (Paco).
3 – A traição. Silvério (Serra), Barbacena (Petrim), Coro (Sérgio, Manuel, Alexandre e Dalmo).

4 – Aleijadinho e Tiradentes. Aleijadinho, Maurício e Januário (os mesmos), Tiradentes (Rubens), Cônego (Alexandre).
5 – Aleijadinho se diverte. Aleijadinho, Gorda (Luzia), Meninas (Sylvia e Gabriela), Jovem (Roberto).
6 – Bárbara Heliodora e Alvarenga Peixoto. Bárbara (Sônia), Alvarenga (Petrim).
7 – A Condenação. Meirinho (Alexandre), Fagundes (Henrique), Tiradentes (Rubens), Negro Capitania (Dalmo), Padre (Sérgio).
8 – Encerramento. Aleijadinho (Lafaiette) e Maurício (Manuel).

(Página 07 – Foto Carlos Castilho)

Prá que se embananar na terra da banana?

Carlos Castilho

O que? Não. O Carlos Gomes, realmente, é o autor italiano que mais se aproximou da realidade brasileira dos nossos índios. Vocês sentiram o drama da cabocla Jurema, assim gordona, atacando de prima donna em termos de ópera italiana? Pois é, bicho. Já era. Qué que tem a ver isto com o Aleijadinho? Sei lá… Mas eu acho que é a mesma coisa. Não, bicho. A curtição mesmo foi o que o barroco deixou aqui no Brasil. Você já ouviu com atenção um chorinho tocado pelo Pixinguinha, ou Benedito Lacerda? E o Jacó? Ainda teremos o nosso “Jacó aqui e agora”. Barroco puro, na sua estrutura, na baixaria dos violões, na percussão do pandeiro misto de tan-tan e platinelas, embora negão nas suas figurações de ritmo. Nada disso, bicho. O Lisboa não vai dar duas cambalhotas na cova, não Ele era um homem do povo e por isso curtiu mesmo. Mas curtiu no duro, sem “onda”. Ele era esnobado porque a sua arte era pra valer. Borromini pra ele já era. Dai, viva o Villa! Que fez o Bach à nossa moda. Assim é que é ser brasileiro.

Pra falar de Brasil e teatro, aqui e agora, o caminho continua a ser aquele. Pra falar de Chico Buarque, Martinho da Vila e Paulinho da Viola. Pra falar de Sinhô, Noel, Baden, João da Baiana, Cartola e Nelson Cavaquinho. Pra falar de Caymmi, Caetano e Gil. É desse jeito.

Teatro rebolado? Mas é claro. E também sambão, bolerão, moda de viola, fado, chorinho, modinha e outros babados.

Olha, eu tenho uma certa dificuldade em decorar nomes, mas letras de música, meio-dia, harmonia…sabe , essas coisas de músico, a chamada forma musical, pode deixar qué comigo. Não que eu tenha queimado as pestanas pra decorar. Entrou naturalmente. Afinal de contas são 38 anos de janela e vinte de trabalho. Trabalho duro, baixo. Trabalho sofrido e esnobado. Sabe, quanto mais nos torcem o nariz mais a gente estuda para torcer o deles.

E é por isso queu te digo: embananamento eu te garanto que nunca me deu. Pra que se embananar na terra da banana? Tá tudo aí, bicho. Não precisa abrir o compêndio, não. O Téo fez a “Disparada”, ouvindo a “Hora Sertaneja”. Quanto deu de audiência? Bota número nisso, baixo…

Itapoã, Copacabana, Pontal, Irecema, Abaeté, Alto da Tijuca, Vila Isabel. São esses os melhores compêndios. Tá tudo aí.

O que? São Paulo? Mas é claro. A moda de viola. O Caipirão. O Vai-Vai. Mocidade Alegre. Camisa Verde. O caiçara Zéquinha de Abreu, o Vadico. Sabe quem é o Vadico, baixo?  É…o parceiro do Noel…Eu fiz umas coisinhas por aí. Arena Conta Zumbi, Cemitério de Automóveis, Roda Viva, Maria Saré, A Vida Escrachada… (é claro. Teatro rebolado autêntico). Não baixo,  Meu Pedacinho de Chão foi só uma experiência.

Quer saber? Entre Festivais, discos, peças e novelas, eu tenho sobrevivido com dignidade. Tem dado pro gasto. Afinal de contas, as minhas quatro graças não são de papelão. Na hora do leitinho, não querem saber a quantas andam as estruturas, injunções e outros bichos.

Sabe. O papo tá muito comprido. Como eu já disse, e faço questão de repetir, tão aí os homens que não me deixam mentir sozinho. E eu vou saindo do ar, discretamente, antes que um sonoplasta qualquer me conteste.

Abraços do Castilho

(Página 08)

As Músicas

A Colônia
O Brasil era colônia
Vivia para agradar,
Suando no trabalho,
E vivendo para agradar,
Só plantando e colhendo
Prá coroa agradar,
Ninguém ia para frente,
Só pra trás e humilhação,

Um bando de patifes,
Açambarcou a importação,
E então um monopólio
Nasce lá no Maranhão.

Se era um escravo?
Era lá no monopólio,
Um pouco de salitre?
Era lá no Monopólio,
E tóilio? E Iólio? E óleo?
Era lá no monopólio.
Que deu muito o que falar
Que deu muito o que chiar,
E o povo aturdido,
Oprimido, esperneou.

Trabalhar, agradar
Agradar, trabalhar,
Trabalhar, agradar

Chico Rei
Ele é rei, ele é rei, olalá,
Ele é rei, ele é rei, olalá, (Bis)

Reinava na sombra da terra,
Reinava nas águas do mar,
Reinava na frente da guerra,
Reinava até o mundo acabar,
Mas veio o tumbeiro e o mundo do Chico acabou.
Seu reino, seu mar, sua guerra, sua rainha acabou.
E hoje seu Chico é um negro cativo,
Não reina, mas chora seu choro de rei,
Senzala é o reino do rei,
O Tronco é o trono do rei,
Chicote é o cetro do rei,
Enxada é a espada do rei.
Mas quem é rei tem cabeça de rei,
E o Chico é rei, Chico é rei, Chico-rei.

Libertação
Negro livre, negro vivo,
Negro é gente, sim senhor,
Negro livre é negro vivo,
Negro é bom trabalhador.
Hoje Chico é negro forro,
Inda é rei, rei de verdade.
Sonha Chico com seu reino,
Viva em Chico a liberdade.

Trabalhou como um danado,
Trabalhou que trabalhou
Juntando vintém trocado,
O seu filho libertou.
Com seu filho alforriado,
Quatro braços a trabalhar.
Quatros braços trabalhando
Prum terceiro alforriar.

Mais de cem alforriados,
Mais de cem a trabalhá.
Mais de cem suando forte
Prá mais de cem se libertá.

Em vez de formá quilombo,
Chico fez um empreiteira,
Comprando mina de ouro,
A mina dá Encardideira.

Prosperou o nosso Chico
Reerguendo o seu reinado,
Fundando em Vila Rica
Seu Império e seu Estado.

Se casou com uma crioula,
Deu-lhe honras de rainha;
O seu filho era príncipe,
Sua nora princesinha.

Um monarca soberano
Com muita maturidade,
Vive os negros libertando,
Trabalhando a liberdade.
Ele é rei, olelê…

(Página 09)

Carapinhas
Na igreja de Chico Rei
Tem um só particular:
Tudo que é santo é crioulo
Pindurado no altar.

As negrinhas engomadas,
Chico Rei é luxo só,
Carapinhas empoadas,
Cheinhas de ouro empó.

Ouro em pó, ouro em pó,
Cai na pia de água benta.
Ouro em pó liberta o negro
Desta vida lazarenta.

Eu lavei a carapinha,
Ouro em pó depositei,
Ouro em pó que as negrinhas
Deixam aqui para o seu rei.

Olha aqui São Benedito,
Não conte isto a ninguém:
Ouro em pó das carapinhas
Para libertar meu bem.
Ouro em pó, ouro em pó…
São Benedito, São Benedito,
Preto retinto, tão retinto que reluz;
São Benedito, São Benedito,
Esconde ouro e não mostra a Jesus.

1.365 Toneladas
Só mil toneladas, trezentas e sessenta e cinco.
Com mil toneladas, trezentas e sessenta e cinco.
Esta história é bacaninha, tem começo meio e fim,
É contada com carinho, tim, tim, por tim tim tim.
Fique aqui, não vá se embora, que agora é o intervalo,
Vá fumar um cigarrinho, seu cabelo penteá-lo,
Que agora vem a parte da derrama e da traição,
Que o alferes Tiradentes trabalhou com tanto afinco
Prá impedir que fosse embora as sessenta e cinco.
Só mil toneladas, trezentas e sessenta e cinco…
Meu Brasil lindo e trigueiro, meu Brasil bem Brasileiro,
Teve gente o ano inteiro bagunçando o teu pandeiro.
Só havia coro e sangue, e com isto eu não brinco,
Tô cabreiro com a história das sessenta e cinco.
Só mil toneladas, trezentas e sessenta e cinco…

Graças, Marília Bela
Depois que nos ferir a mão da morte,
Ou seja neste monte, ou noutra serra,
Nossos corpos terão, terão a sorte
De consumir os dous a mesma terra.
Na campa rodeada de ciprestes,
Lerão estas palavras os pastores:
Quem quiser ser feliz nos seus amores,
Siga o exemplo que nos deram estes.
Graças, Marília bela,
Graças à minha estrela.

Seu Tiradentes
Seu Tiradentes, seu Tiradentes,
Dê só um grito que daqui vamos ouvir.
Seu Barbacena vem com a derrama,
Pego o porrete e vou pra aí te garantir.
Nós somos mariposas, sofremos duras penas,
Mas quem é vagabundo é o Visconde Barbacena
Que veio de longe pelar o meu Brasil.
Quer a derrama, cobrando o quinto,
Ele que cobre lá… Não vai pelar o meu Brasil
Tem muito ouro nas terras do meu Brasil,
Que esse intrometido quer encher o sue barril.
Ai se eu acerto com meu porrete
Esse Visconde, faço dele um pastelão.

Deixa prá lá
Deixa prá lá,
Que a tristeza e a dor
Que existem em você também existem em mim.
Deixa prá lá,
Bem melhor que chorar é viver.
Pois é vivendo é que eu morro cantando
A minha dor e muito amor.
Ainda é cedo demais
Para morrer de dor,
Pois o pranto sossega,
Não custa, virá
De alegria chorar.
Vamos os dois caminhando,
Me dê sua mão, me dê sua mão.
No caminho vamos juntando
O que foi de nós dois,
Mas que é tudo para dar.
Aí, se o caminho é incerto,
Fique disperto,
Pois é bem melhor não chorar.
Deixa prá lá,
Se a noite é escura,
Não pendura não, não pendura.
Deixa prá lá,
Não perca a razão de existir.
Bem melhor há de ser
O brilho do sol que a de vir.

(Verso da Última Página)

Cronologia

1730 ou 1738 – Nasce em Vila Rica Antônio Franco Lisboa

1746 – Nasce no Sítio de Pombal, distrito de São José Del Rei ou São João Del Rei, Joaquim José da Silva Xavier.

1760 – O Aleijadinho inicia as suas grandes obras, executando trabalhos de talha para a Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso, Matriz de Caeté, MG.

1761 – Aleijadinho esculpe a sua primeira obra em pedra sabão, Na Fonte do Padre Faria do Alto da Cruz, em Vila Rica.

1762 – Início da primeira derrama. A partir desta data o ouro não atende às cotas mínimas fixadas por Portugal.

1763 – Aleijadinho projeta a Igreja de São João Batista de Morro Grande, MG, seu primeiro trabalho como arquiteto.

1766 – Projeta a Capela da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, em Vila Rica.

1769 – Lançamento da segunda derrama. O ouro continua a escassear.

1774 – Projeta a Capela da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, em São João Del Rey, MG.

1775 – Trabalha no projeto da capela-mor para a Igreja de Nossa Senhora das Mercês e dos Perdões, em Vila Rica.

1776 – Independência dos Estados Unidos da América.

1777 – Já bastante doente, Aleijadinho pede para alguns negros para transportá-lo até suas obras.

1779 – Inicia a execução do balcão da Igreja de Assunção de Nossa Senhora, Sé de Mariana, MG.

1786 – Na França, encontram-se José Joaquim da Mala e Thomas Jefferson. Discutem a possível emancipação do Brasil.

1788 – Dirige-se a Minas Gerais o novo Governador, Visconde Barbacena. Reúnem-se na casa do Coronel Francisco de Paula Freire de Andrade os inconfidentes.

1789 – Aleijadinho executa o altar da Capela da Confraria dos Negros de São José, em Vila Rica. Delatado por Silvério dos Reis, Tiradentes é aprisionado no Rio. Segue-se a prisão dos demais inconfidentes.

1792 – A rainha concede a comutação da pena a todos os indiciados, exceto a Tiradentes, que é enforcado.

1799 – Aleijadinho termina de executar as figuras dos passos no Santuário de Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas do Campo, MG, obra em que foi ajudado por diversos entalhadores.

1805 – Termina as esculturas dos profetas para o mesmo Santuário, obra em pedra sabão, na qual gastou cinco anos.

1819 – Desenha a parte superior da fachada e da portaria para a Igreja de Santo Antonio, em São José Del Rei (hoje Tiradentes).

1814 – Morre, no dia 18 de novembro, em Vila Rica, o Aleijadinho, sendo enterrado na matriz do bairro de Antônio Dias.

(Última Página)

Peças encenadas pelo Grupo Teatro da Cidade:

1968 – Jorge Dandin, de Molière
1969 – O Noviço, de Martins Pena
1970 – Cidade Assassinada, de Antônio Callado
1970 – O Barbeiro de Sevilha, de Beaumarchais
1971 – Guerra do Cansa Cavalo, de Osman Lins
1971 – Mirandolina, de Goldoni
1971 – Pop. Garota Legal, de Ronaldo Ciambroni (infantil)