Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 2006
Uma grande e séria brincadeira
As Aventuras de Tom Sawyer é adaptação fiel ao espírito aventureiro da obra de Mark Twain
As Aventuras de Tom Sawyer é um dos clássicos da literatura americana. Tom Sawyer é o imortal personagem do escritor Mark Twain (1835-1910) que também foi humorista, jornalista, timoneiro de barco no Mississippi e, sobretudo, uma amante da liberdade.
A história de Tom Sawyer e seu amigo Huck Huckleberry Finn retrata a sociedade americana na metade do século 19, com todos os seus valores e tipos característicos, sendo por isso, uma adaptação difícil para o jovem brasileiro do século 21. Mas Daniele Ávila e o diretor Michel Berkovitch deram conta da empreitada e adaptando a obra, sem perda de seu o humor, com a irreverência e o tom de aventura que estimulam a criança de qualquer época ou lugar.
Obra faz um retrato crítico dos EUA da metade do século 19
Originalmente escrito como história de aventura para jovens, o livro é, na verdade, um mergulho na vida do interior, especialmente na região do “imenso Mississipi”, no sul do país, porém com uma postura crítica sobre o imperialismo e expansionismo norte-americano e por isso censurado durante décadas.
Toda essa irreverência está explícita na construção do personagem central, um alter ego do autor que questiona um a um todos os costumes e hábitos daquela sociedade. É como diz o estudioso em literatura infantil Luiz Antônio Aguiar: “Melhor do que sonhar em entrar para a turma do Tom Sawyer, só mesmo seria ser convidado para o Bando de Robin Hood. Pelo próprio.”
Tom mora com a tia e o irmão num vilarejo. Junto com o amigo Huck Finn, o garoto se diverte e vive grandes aventuras. Uma noite, os dois veem um crime no cemitério da cidade. Assustados, juram nunca revelar o que presenciaram. Mas a culpa recai sobre um inocente, que é preso e será enforcado. Só Tom e Huck podem salvá-lo.
A direção de Michel Berkovitch, que também assina a trilha musical e a iluminação, consegue ser fiel a obra de Mark Twain, preservando o que fascina o público a que se destina: a alegria, a diversão, a crítica, a quebra de normas estabelecidas. O espetáculo, mantém uma reconstituição do interior dos EUA sem enveredar pelo tom de teatro de época, graças à leveza com que os atores compõem seus personagens.
É uma grande séria brincadeira que agrada ás crianças, aos jovens e aos pais. Uma festa para a família toda. No início até os personagens estarem definidos, o espetáculo custa um pouco a deslanchar, mas, quando decola, leva junto o público até a última cena.
O cenário e muitos dos adereços, assinados por Henrique Neves são todos feitos de bambu. Eles se transformam em cena e – como num jogo de faz-de-conta – viram qualquer coisa que a imaginação permita. Os figurinos de Denise Tupinambá recriam a época e se mantêm dentro do conceito da encenação.
O jovem elenco tem garra, energia e agilidade como pede o texto. É uma atuação homogênea, como a dos grupos fixos de teatro que desenvolvem em conjunto seu trabalho preparatório para a cena. Mas Nathalia Dil, que faz Tom Sawyer sobressai por sua energia, indispensável ao personagem. Tia Polly, vivida por Denise Tupinambá tem uma composição bastante divertida e forte. Huck encontra em Leandro Castilho um ator bastante expressivo.