O musical, em cartaz no Sesc Tijuca, se passa num sótão, lugar da imaginação e da memória


Crítica publicada no Jornal do Brasil
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 09.07.2005

 

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Lúdica e original

A peça Um Conto Para Rosa resgata personagens dos contos de fadas

Um Conto para Rosa, musical de Cláudia Valli em cartaz no Teatro SESC Tijuca, é um dos espetáculos do 5º Circuito SESC CBTIJ de Teatro para Crianças. O texto tem um tênue fio narrativo: a menina Rosa ouve que os pais vão se separar e que ela vai passar um tempo na casa dos avós. Lá existe um sótão onde ela pode conviver com histórias e personagens. Figura recorrente na ficção que funciona como quarto da memória, no sótão “imaginação e memória aparecem em complexo indissolúvel”, como diz o filósofo francês Gaston Bachelard (1884 – 1962).

A estrutura do espetáculo é episódica. Rosa convive com personagens tradicionais, como o Lobo Mau, os Três Porquinhos, a Princesa e o Príncipe Encantado. Mas não se trata de mais uma banalização do conto de fadas. Cláudia Valli reúne a memória dessas histórias de forma lúdica e original. A ideia de que possa ser um jogo é indicada durante a apresentação e se confirma ao final, quando se revela que o “contador” é o avô da menina, que tenta distraí-la. O conflito inicial, a separação dos pais, não é desenvolvido.

São criativas as soluções cênicas da diretora Nara Keiserman para o surgimento dos diversos personagens. Ludoval Campos tem momentos absolutamente performáticos, muito bem aproveitados, e é aplaudido diversas vezes em cena. Porém, a construção de Ine Baumann para a menina é que tem a função de manter a continuidade do fio narrativo, e ela o faz muito bem. Constrói uma menina principalmente através de seu trabalho corporal e de uma “atitude” de criança sem infantilizar a personagem.

O cenário de João Gomes, que também assina os figurinos, reconstrói o clima de um sótão em tons de cinza, com peças indefinidas e outras cobertas por panos, criando um lugar de lembranças. Os figurinos dos personagens tradicionais têm muito bom humor, como o da Bruxa. A luz de Aurélio de Simoni pontua bem as áreas de atuação e enfoca pormenores fundamentais. No entanto, a mudança do tempo narrativo da história e os diversos climas, tanto os de fantasia como os de realidade e os mais introspectivos, poderiam ter sido mais explorados pela iluminação.

As músicas gravadas não se coadunam com o clima intimista, poético e artesanal do espetáculo. Tanto que, quando surge o avô tocando um acordeão, é um prazer redobrado ouvi-lo tocar e cantar ao vivo a canção final do espetáculo. As excelentes máscaras de Luciana Maia e os bonecos de Fátima Borges poderiam ter manipulação mais precisa. Mas Um Conto para Rosa é um texto criativo que dá lugar a uma peça inteligente, bem-humorada, que toca a criança pelo tema da separação devido à leveza e ao humor com que é conduzido. Por isso o público reage bem.