Um amor de circo: elenco faz caretas e fala tatibitate


Crítica publicada no Jornal do Brasil
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 08.05.2005

 

 

Barra

Nem tudo no palco é teatro 

Em cartaz no Teatro Miguel Falabella, Um Amor de Circo, de Alexandre Morcillo e Clóvis Correa, com direção de Deco Ferreira, tenta contar a história de um domador e um palhaço que estão apaixonados pela bailarina do circo.

Nesse mundo globalizado, onde as artes tendem a perder os limites rígidos por meio de interfaces múltiplas, é necessário que se preservem os conceitos básicos que caracterizam cada uma das expressões artísticas e que são sua essência. Dentro deste pensamento, é preciso definir o que é teatro e o que é “animação”. O palco é lugar que abriga todo e qualquer tipo de manifestação artística. Mas nem tudo que está no palco é teatro. Um amor de circo é uma animação, onde animadores excitam a plateia, a limites extremos.

De início as crianças se encantam com o brilho, a luz, as acrobacias, e as figuras que surgem em cena. Depois de meia hora conversam sobre videogame, gritam e riem desinteressadas. Os atores têm um movimento excessivo, gritam, falam tão rápido que não se entende o texto. Buscam, equivocadamente, um ritmo e se esquecem da verdadeira magia do teatro, que não é o que se vê no palco. E esta magia não tem necessidade de correrias, gritarias, adereços multicoloridos para prender a atenção do público. Uma boa história e até um silêncio em momento adequado fazem o espectador participar ativamente do que é apresentado.

O texto se perde e o autor custa a encontrar um caminho que o faça retornar ao conflito-matriz e terminar o texto. O elenco tem habilidade com acrobacias, principalmente Marcos Cota, o palhaço. No entanto, a interpretação é infantilizadora, cheia de caretas e fala tatibitati. A direção conceituou assim o espetáculo, permitiu que tudo isto acontecesse, fazendo o público acreditar que o que viu era Teatro. Felizmente, espetáculos como este são exceções hoje.