Crítica publicada no Jornal do Brasil
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 22.07.2005
Opções equivocadas
Impasses cênicos prejudicam fluência de Garoto Que Não Sabe Rir
Em cartaz no Ziembinski, O Garoto Que Não Sabe Rir é um espetáculo da Cia. Escaramucha de Teatro realizado por alunos egressos das Oficinas de Criação de Espetáculos de Ernesto Piccolo e Rogério Blat. Para falar do preconceito, o autor Rômulo Rodrigues optou pela difícil tarefa de desenvolver duas histórias paralelas de igual importância narrativa. Na primeira, informa-se que há um menino que não consegue rir. Na segunda, surge a irmã deste menino, cujo pai é contra a paixão da filha pelo palhaço do circo. No final, as tramas se ligam, quando o menino, ao receber do palhaço o seu nariz vermelho, descobre que é capaz de fazer com que os outros riam – e assim acaba rindo.
O trabalho da Cia. Escaramucha de Teatro evidencia a busca de uma forma de expressão própria. Com a experiência, o grupo acabará obtendo excelentes resultados. Mas, no espetáculo em questão, alguns fatores ainda prejudicam a fluidez da dramaturgia.
O pouco tempo físico para desenvolver uma estrutura dramática dividida em duas faz com que ambas as histórias não sejam aprofundadas. O resultado é que o espectador não se envolve nem com uma, nem com outra. A direção de Márcio Vieira busca claramente uma linguagem diferenciada, mas a força da chamada “estética teatral infantil” acaba emergindo no palco, deixando sua proposição a meio caminho.
Um exemplo é que os atores não conseguem se livrar totalmente de certos clichês. Bruno Abrahão, que faz o menino, tem um desempenho correto, mas quem brilha mais é Ana Bhertines, a empregada. O pai, Rodrito Candelot, e a irmã, Mariana Xavier, têm interpretações exageradas, embora tentem caracterizar suas atuações como sendo típicas da farsa.
A cenografia traz o palco praticamente nu. Ao fundo, apenas uma inventiva cortina, que, em determinado momento, se transforma em circo. Além disto, quatro baús compõem o cenário, possivelmente em função da ideia de, a cada cena, poderem criar novos ambientes. Mas isto não acontece e eles se limitam a servir de banco para os personagens.
Dentro dessa linha de elementos sem significado na narrativa, estão os bonecos que surgem sem razão aparente, apresentando uma identidade às vezes difícil de ser apreendida. Sua permanência no palco é por vezes apenas alegórica, o que os toma desnecessários.
O desenho cênico é quase todo coreografado, mas a situação dramática e a movimentação não se unem e acabam diluídas. Talvez por esta razão a luz de Djalma Amaral trabalhe com focos voltados para onde os atores se deslocam, justamente para desenvolver a coreografia. No entanto, não há diferenciação entre os diversos climas que o espetáculo, bastante linear, poderia definir melhor.
Os figurinos, de Pedro Sayad e Leonardo Braza, caracterizam bem o pai e o menino, embora sem novidades. Mas os da irmã e da empregada não delineiam suficientemente os personagens, ainda que haja uma unidade estética entre todos. Além disso, a música não participa do espetáculo como um elemento orgânico. O que há são alguns momentos musicais que entrecortam a narrativa, ao invés de dar continuidade a ela.