Atores interagem com projeções em vídeo, uma das maiores atrações do espetáculo.

Crítica publicada no Jornal do Brasil
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 06.08.2005

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Concepção criativa

Mamãe, Como Eu Nasci?  fala de sexo com naturalidade e bom humor

Mamãe, Como Eu Nasci?, em cartaz no Teatro da UFF, em Niterói, com concepção e direção de Antonio Carlos Bernardes, comemora um ano de carreira e cerca de cem apresentações. É a história de um menino de 7 anos que quer saber como nascem os bebês. Os pais têm dificuldade para tirar suas dúvidas e quem consegue dar explicações mais convincentes, simples e sincera é a avó. Depois, quando a mãe engravida, ele acompanha o desenvolvimento desta gravidez e participa do nascimento prematuro do irmão em um automóvel, quando estão todos indo para a maternidade e tudo se esclarece.

O espetáculo reflete uma situação bastante comum, que é a dificuldade de se falar de sexo com as crianças de uma forma realmente natural. E a peça consegue isso, com leveza, com um humor bem dosado e tendo como argumento básico o afeto e o amor.

Projeções em vídeo, com as quais os atores interagem, funcionam como cenário. O palco nu tem ao fundo apenas a tela de projeção e recebe, no decorrer da peça, elementos cênicos complementares. Os bem-humorados figurinos de Douglas Nogueira se coadunam perfeitamente com o traço das ilustrações de Bia Salgueiro, num excepcional trabalho de animação realizado por Rico e Renato Vilarouca. A vídeo-animação é uma das maiores atrações do espetáculo.

Embora dramaturgicamente esta integração entre espaço cênico, atores e projeção se faça de modo competente, estes mesmos elementos não conseguem unidade cênica. A coexistência destas duas linguagens – a do teatro e a do vídeo – ainda carece, pois de uma melhora técnica.

O texto de Fátima Valença, a partir do livro de Marcos Ribeiro, tem um desenvolvimento dramático perfeito, com diálogos ágeis e bem humorados, embora por vezes as falas do menino não pareçam adequadas a uma criança de 7 anos, ainda que muito esperta.

No decorrer da história o conflito se adensa. A curiosidade e as dúvidas do menino se sucedem até o nascimento do irmão, quando ele compreende o próprio nascimento, e a questão central da trama se resolve. Nem tudo é dito ou mostrado de forma explícita, o que permite que a imaginação do pequeno espectador e as informações que já possui complementem a história.

Esta forma encontrada pela autora evita que o espetáculo se torne didático, embora seja informativo, provocando mesmo um certo distanciamento em que o observador tem a possibilidade de vivenciar e ao mesmo tempo pensar sobre as questões propostas.

Os atores Mayra Capovilla e Márcio Machado, que interpretam a mãe e o pai do menino, têm um desempenho equilibrado e bastante convincente com a exata dose de humor. A composição da avó, também interpretada por Mayra, não se realiza de modo convincente, não só pela construção de personagem mas também em relação à caracterização e ao figurino. Carmen Frenzel, que vive o protagonista, supera, com talento e humor, a dificuldade de uma atriz fazer o papel de um menino, dando dinâmica ao espetáculo.

Carmen tem momentos especialmente inspirados e uma intensa verdade cênica todo o tempo. As músicas do competente Ubirajara Cabral ajudam a contar a história.

A peça agrada igualmente a crianças e pais, não só pela forma como o tema é abordado, mas também pela concepção do espetáculo.