Crítica publicada no Jornal do Brasil
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 27.08.2005
Dupla de picadeiro
Ana Barroso e Monica Biel levam os palhaços Lasanha e Ravióli para turnê
O espetáculo O Gato de Botas ou A Turnê de Lasanha e Ravioli em cartaz no Teatro do Planetário, comemora os 15 anos de existência desses dois palhaços que contam histórias clássicas na voz de suas criadoras, as atrizes Ana Barroso e Monica Biel. A dupla comemora também sua participação no 15º Festival Mundial de Artes para a Juventude, em Montreal, Canadá.
Neste trabalho, ambas assinam a direção, o cenário e o figurino, mas o texto é de autoria de Mônica.
Diferentemente dos outros espetáculos, em que o foco central costuma ser a história contada pelos palhaços, neste a trama recai sobre as dificuldades que a dupla enfrenta em uma turnê por diversas cidades. Mas os termos usados e as situações aludidas, facilmente identificáveis por atores, não sei bem absorvidos pelo pequeno espectador.
Ao criar o que se chama de “plots paralelos” (histórias simultâneas), Monica Biel se propõe a uma tarefa considerada difícil pelos teóricos da dramaturgia. Neste espetáculo esta dificuldade fica evidente, pois nenhuma das duas histórias tem tempo narrativo suficiente para desenvolver adequadamente as suas ações, o que, ao final, torna o todo um pouco confuso.
Mas, apesar de não ter sido totalmente bem resolvido, o trabalho cresce na criação de situações cênicas, na composição dos personagens, através não só da acentuação dos sotaques diversos, mas pela utilização de recursos mais amplos em figurinos e máscaras, criadas por Luciana Maia. Isto faz com que os personagens sejam mais impactantes, por sua composição plástica. Aqui merece registro especial a excelente composição do rei com sotaque português, feita por Ana Barroso.
Os bonecos de Eduardo Andrade, principalmente a princesa, em tamanho natural, são bem construídos e assim ajudam a manter o ritmo do espetáculo. Precisa, a luz de Aurélio de Simoni, sublinha os elementos exatos nos momentos certos, o que facilita o dinamismo de uma encenação feita por apenas duas atrizes e muitos personagens.
Ana Barroso e Monica Biel desenvolvem com extremo talento os seus dois palhaços, fortes, engraçados, livres e que ganham verdadeiramente vida no palco, transformando o espaço num grande picadeiro, dominando e conduzindo a ação de modo absolutamente prazeroso.
A direção conjunta revela um trabalho amadurecido e aponta como caminho a valorização da cena sobre o texto, ao reforçar a composição plástica dos personagens, pela diversidade de recursos cênicos e de soluções criativas.