A menina que mudou o mundo: ressaltando o valor da leitura

Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 27.03.2005

Barra

A menina e o autoritarismo

A rainha do planeta Alfa fecha escolas e queima livros

Com texto de Beatriz Santos e adaptação de Henrique Kaladan, que também assina a direção, a comédia musical A Menina que Mudou o Mundo leva ao Teatro Ipanema a história do planeta Alfa. Na trama, a rainha decreta, arbitrariamente, que se fechem todas as escolas e que todos os livros sejam trancafiados no castelo real, por achar que são desnecessários para o progresso e a felicidade do povo. Menina humilde, Beta guarda alguns livros no sótão de sua casa e acaba, através de uma série de peripécias, conseguindo mobilizar o povo para que pressione a rainha a reverter a situação.

Com intenção didática, a peça ressalta o valor da leitura e da cultura. Porém, o humor acentuado, tanto no texto como no tratamento cênico, torna o espetáculo agradável, divertindo o público e neutralizando o peso do tom pedagógico. A direção conduz bem seus atores, desenvolve a fábula com clareza e consegue dar unidade ao espetáculo. O desenho cênico, no entanto, poderia ser melhor elaborado, principalmente nas cenas em que predomina a narrativa.

A direção trabalha com bastante propriedade o humor, apoiando-se no caricatural e tornando implícita a crítica ao autoritarismo e ao descaso pelas coisas públicas. As belas músicas de Carlos Suka e as coreografias adequadas de Adriana Salomão são responsáveis por momentos descontraídos. O elenco canta e dança com desenvoltura, porém, os números musicais, que são inúmeros na primeira parte do espetáculo, tornam-se escassos na segunda parte, o que causa um desequilíbrio.

O cenário, de Andréa Renk e Daniel Pinha, se utiliza bem das transparências, que funcionam com eficiência, bem iluminadas pela excelente luz de Ricardo Alexandria. O excelente ator Deco Mansilha faz o bobo da corte e a rainha é interpretada por Heloísa Migliavaca, cujo humor cativa o público. Muito à vontade no papel de tia de Beta e secretária de Cultura do reino, está a atriz Natássia Vello.

O restante do elenco, formado por atores iniciantes, ainda precisa do exercício do palco para conseguir desenvolver o seu potencial, o que torna irregular o ritmo do espetáculo. No final, há um excesso de narração, com um leve tom de “mensagem”, o que é desnecessário, pois tudo já foi mostrado, como é característico da linguagem teatral.
Neste momento, o tom didático se acentua, sem necessidade, pois a história é muito bem contada e, aliada à música final, é suficiente para passar a premissa do autor.