Uma Aventura no Outro Mundo: interpretação exagerada


Crítica publicada no Jornal do Brasil
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 24.10.2004

 

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Falta clima à aventura

Peça no Clara Nunes precisa de ajuste 

Uma Aventura no Outro Mundo – Um Musical de arrepiar!!!, que está em cartaz no Teatro Clara Nunes, coloca em cena um conceito ultrapassado de teatro para crianças. Excesso de movimentação e gritaria, incursões frequentes pela plateia, utilização do escatológico com o objetivo humorístico. No entanto, a montagem não é descuidada nem mal intencionada. Por ser sua primeira incursão no universo infantil, a Cia. Teatral Tabacaria Brasileira parece apenas não estar acompanhando a evolução das produções para este público.

O texto de Gillray Coutinho nem segue uma estrutura narrativa tradicional, nem propõe algo novo. A trama não tem um desenvolvimento adequado e o conflito central se perde meio às informações. O espetáculo se inicia com uma proposta de teatro de sombra chinesa que não chega a se realizar, pela rapidez da cena e pela manipulação incorreta dos elementos. Falta clima, apesar de toda a sonoplastia, os gritos e as luzes. O personagem Ogro não tem nenhuma relação com o mítico Ogro dos contos de fadas, entre fantástico que povoa o universo das histórias para crianças.

Uma Aventura no Outro Mundo fala muito de “bons modos” – da menina que escova os dentes, da boa literatura. E mais uma vez voltamos à questão que o teatro infantil pode até ser considerado pedagógico, pela sua própria natureza de lidar com questões do homem no mundo, mas não dever didático, no sentido de objetivar conselhos ou normas de conduta.
Apesar da tentativa do teatro de sombra, das referencias à boa literatura, da citação a elementos míticos, faltou aos realizadores uma pesquisa e estudo mais aprofundados. A encenação de Luiz Antônio Rocha não conseguiu reunir de modo eficiente os elementos que escolheu para trabalhar.

Além disso, o espetáculo não tem quantidade de músicas, nem musicalidade que justifiquem intitular-se musical. Algumas músicas são cantadas, como na maioria dos espetáculos infantis e, neste, principalmente, tenta-se fazer o público cantar junto conhecidas melodias do universo popular das cantigas de ninar.

O elenco tem uma interpretação exagerada, clichê de teatro para crianças: ou o excesso de infantilidade na construção dos personagens-crianças, ou o exagero dos personagens-maus ou a existência gratuita de personagens. Caso de Insônia e do Ogro, que, dentro da trama, não dizem a que vêm.