Ator por formação e
cantor, José Mauro Brant tornou-se também
excelente
contador de histórias

Crítica publicada no Jornal do Brasil
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 15.08.2004

 

 

 

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Além da contação de histórias

Ator mistura encenação e música à narração do que seria uma viagem pelo interior do país

Um Brasil de Histórias é uma sessão de contador de histórias, em cartaz no Teatro do Jockey, em que José Mauro Brant conta, e principalmente canta histórias e canções tradicionais da cultura popular brasileira. A narrativa oral cênica, ou seja, a contação de histórias, é uma forma de expressão peculiar que tem ganhado espaço não só no Brasil, mas em todo o mundo, com várias vertentes.

Ator por formação e cantor, José Mauro Brant tornou-se um excelente contador que sabe desenvolver igualmente bem essas três atividades. Além disso, como grande parte dos contadores, é um pesquisador da literatura oral. Dessa forma, tem realizado um trabalho bastante autoral nessa integração de diversas linguagens.

No Teatro do Jockey, nenhum cenário: apenas a caixa preta do palco recebe o ator-contador-cantor. A interação entre contador e plateia – o olho no olho – se faz durante toda a apresentação, e até a luz é utilizada de modo a possibilitar essa relação contínua, mantendo o palco iluminado o tempo todo. Mas falta intimidade, necessária ao tipo de apresentação a que se propõe José Mauro.

Interação entre o contador e a plateia é contínua no espetáculo

Contadores populares do interior do Brasil, quando são leva­dos para as cidades grandes, normalmente usam espaços alternativos e não grandes palcos, justamente porque a proposta deles pressupõe intimidade com o espectador. Seria um ganho se es­ta tivesse sido a opção do criador de Um Brasil de Histórias.

Apesar do espaço, o espetáculo acontece plenamente, pela competência de José Mauro Brant e seu músico Fábio Nin, que o acompanha ao violão. Em Um Brasil de Histórias, são contadas histórias tradicionais, como as da Princesa de Bambuluá e a do bumba-meu-­boi – pontos altos da contação. Adequado a um contador, o figurino, criado por Ney; Madeira, não  é o de um personagem, remetendo à proposta do espetáculo como um todo: uma viagem pelo interior do Brasil. De modo criativo, Ney re­constrói a bandeira brasileira no figurino, utilizando suas cores e formas geométricas.

Em cena, José Mauro alterna muito equilibradamente o lirismo e a força da narrativa dramática, passando pelo humor, que emerge com naturalidade, principalmente nos momentos de interação mais explícitos com a plateia. No entanto, o ator se excede no uso de inúmeras e constantes expressões faciais, que, pela sua repetição excessiva, acaba por se esvaziar da sua finalidade humorística.

Por ser ator, José Mauro, em alguns momentos, constrói seus personagens e não apenas os esboça, como os contadores. Mas tais construções são feitas na medida certa e é exatamente neste fio da navalha que atuam aqueles que abraçaram este desafio da narração oral cênica no grande palco. Na verdade, José Mauro Brant é um grande performer que está encontrando seu estilo pessoal e contribuindo para a construção desta linguagem que toma, positivamente, os palcos cariocas, nas produções destinadas ao público infantil.