O elenco tem humor, canta, realiza algumas coreografias


Crítica publicada no Jornal do Brasil
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 26.09.2004 

 

 

 

Barra

O Romance do Pavão Misterioso, em cartaz no Teatro Glauce Rocha, traz ao palco um clássico da literatura de cordel, de autoria do poeta popular paraibano,  José Camelo de Melo Rezende. Levar ao teatro literatura de cordel, que é dita em versos, para um público urbano, não é tarefa fácil. Mas que o diretor Theotonio de Paiva consegue realizar seu objetivo.

O popular e o mambembe estão em cena também através do cenário simples de Joana Lavallé. Tramas de fitas, adereços e figurinos ficam todo o tempo no palco, assim como os atores, para as muitas trocas, já que o elenco faz diversos personagens. Essa caracterização em cena ajuda a criança a compreender que o mesmo ator faz vários papéis.

Na tentativa de manter o espírito do cordel Theotonio opta pelo contar em cena, ao invés do mostrar –  forma que tem dominado a maioria dos espetáculos infanto-juvenis. É esse mix do contar e do fazer o diretor realiza bem.

O cordel traz por vezes referências eruditas e, por sua natureza, é prolixo, conta muitos fatos, com inúmeros personagens e aventuras, sendo propositalmente repetitivo.  Por essas razões, a história se torna confusa em determinados momentos.

A música nos folguedos populares, sobretudo no teatro do Nordeste, é essencial. Na montagem, no entanto, a passagem do texto para a música e da música para o texto não flui com naturalidade. Cria-se um número musical dentro do texto e não se segue contando a história, como seria a melhor opção. Também as coreografias de Carla Marins não fluem, não dando seguimento aos movimentos cênicos. Música e coreografia interrompem a sequência narrativa.

Os figurinos de Mauro Leite sempre coloridos e criativos, são a grande referência visual do espetáculo, Turquia, Grécia e Nordeste se juntam numa mistura que por vezes causa estranheza, mas que após algum tempo é assimilada, embora os figurinos sejam um pouco pesados para a leveza de um espetáculo mambembe.

A peça é adequada ao  público infanto-juvenil, já que se trata de um teatro-textual, onde o texto é o elemento primeiro para a compreensão da história. Mas sua complexidade se se aproxima muito mais do público pré-adolescente, que é capaz de acompanhar por mais tempo uma narrativa.

A iluminação de Renato Machado está correta, ainda que sem nenhum arroubo, como têm sido seus últimos trabalhos. O elenco se desincumbe a contento de sua tarefa, tem humor, canta, realiza algumas coreografias. Mas fica faltando o clima de “brincadeira” em cena que todo espetáculo popular exige.

Os atores compõem com excesso de seriedade seus personagens. Eles são, na verdade, “brincantes”, e isso ajudaria o clima popular e mambembe pretendido. O que poderia ser reforçado por uma participação musical mais maciça e contundente.