(INFORMAÇÕES DO PROGRAMA)
(Capa)
Maria Pompeu e Roberto de Cleto
associados à
Editora José Olympio
apresentam
REENCONTRO DRUMMOND TODO DIA – 1973
“Eu te gosto, você, e gosta desde tempos imemoriais”
Aldomar Conrado
Maria Pompeu
Roberto de Cleto
Suzana Faini
Érico de Freitas
Marcos Wainberg
Chico Buarque de Hollanda
Toquinho
Taiguara
Paulo Guimarães
(Página 02)
Roteiro de Textos
Professora: Introdução de Aldomar Conrado
Memória: Poesia
Dados Biográficos – Poesia
No Restaurante – Crônica
Amar (Trecho) – Poesia
Science Fiction – Poesia
Especulações em Torno da Palavra Homem (Trecho) – Poesia
Campo de Flores (Trecho) – Poesia
José – Poesia
Poema de Sete Faces – Poesia
Lembrança do Mundo Antigo – Poesia
Mundo Grande – Poesia
Soneto da Perdida Esperança (Trecho) – Poesia
O Novo Homem – Poesia
No Ônibus – Crônica
Amar – Poesia
Poema Patético – Poesia
Eterno – Poesia
Campo de Flores – Poesia
Na Escola – Crônica
Especulações em Torno da Palavra Homem – Poesia
Infância – Poesia
Mão Dadas – Poesia
Um dia, um Amor – Crônica
Observação A maior parte dos textos (e fragmentos) relacionados foi retirada da Reunião (Editora José Olympio, 1969, Rio)
Nosso Encontro com Drummond
Quando Maria Pompeu sugeriu o roteiro de um espetáculo sobre Carlos Drummond de Andrade, que servisse de aproximação do poeta a uma plateia de estudantes, fiquei perturbado por suas emoções muito fortes: a grande alegria de mergulhar mais uma vez numa poesia que é presente em mim desde a adolescência , e também uma certa hesitação. Oque escolher de Drummond? Que lado do poeta mostrar para a juventude? De repente, a vontade de desistir. O recontato com essa poesia extraordinária aumentou ainda mais o meu desânimo. Por que escolher este poema e ao aquele? Selecionar como, se cada um deles me reaparecia completo e através de cada um deles me irrompiam os momentos inteiros da minha vida, que eles sempre acompanharam.
É preciso que me explique. Não sou ensaísta, nem crítico de poesia. Sou leitor, certamente um bom, leitor, que fez dos poetas uma companhia permanente. De Drummond, especialmente. Cada encontro meu, de amor ou amizade, sempre foi com Drummond ao lado, sempre foi com Drummond Presente.
Na releitura, agora, por um trabalho encomendado, todas essas emoções vividas voltavam, os encontros todos vieram para junto de mim, de tal modo eles e a poesia de CDA estavam reunidos. Eu sempre amei e quis bem ao som de Drummond. E quando fui muito sozinho, também foi ao som de Drummond. Agora, escolher como, se cada página das Obras Completas me ressuscitada uma vida inteira?
Bem. Vamos desistir. É mais sensato. Ou, então, esperar a Loteria esportiva (sozinho, feito Odorico da Bahia) e sair distribuindo Drummond a mãos cheias.
Mas como resistir ao fascínio de me misturar ao trabalho de Drummond e de toda a equipe que Maria Pompeu reuniu?
Aldomar Conrado
(Página 03)
Foi quando veio a saída. Não pensar, nenhum momento, no poeta ultra consagrado, e me ligar naquele que foi companhia constante, descontraída, íntima, na minha vida inteira. E mostrar pra vocês como o cotidiano com Drummond é muito melhor de se viver.
E o trabalho está aí. O nosso reencontro cotidiano com Drummond. A partir dele, leia tudo o mais, acompanhe CDA desde O anjo torto até agora. Se você tem algum preconceito acredite na gente: a poesia é um convívio necessário. E acredite, também: além de Pelé, Mequinho, Emerson Fittipaldi, existem outros grandes nomes. Carlos Drummond de Andrade é um deles.
Informações sucintas sobre
O espetáculo: “O que nós queremos mostrar com este espetáculo é – através de frações da obra de nosso maior poeta – a possibilidade de um cotidiano pleno de poesia. Um casal e seus duplos(no sentido daqueles com quem se dialoga em pensamento) acorda para um dia comum. Por que suas ações, mesmo as ,mais simples como lavar o rosto, tomar café, ler o jornal, comprar um saco de pipocas ou pegar uma condução, não podem ser envolvidas em poesia e humor ? Esperamos que vocês acompanhem nossa resposta
Roberto de Cleto
O elenco:
Aldomar Conrado: Nasceu em recife, Pernambuco. Suas primeiras peças foram premiadas: O livro de David recebeu o Prêmio Governo do Estado de Pernambuco e A Grande Solene, o do Festival de Teatro de Estudantes em Santos. Aqui, realizou com Amor Haddad o roteiro de Verde que Te Quero Verde, com texto de Garcoa. Teve montadas as peças O Capeta em Caruaru, premiada pelo SNT e A Ponte sobre o Pântano, premiada e montada pelo Grupo Opinião, último trabalho em teatro de Glauce Rocha.
Traduziu Medéia, de Eurípedes, e Um Homem é um Homem de Bertoldt Brecht, juntamente com Carlos Queiroz Teles. Traduziu Em Busca de um Teatro Pobre de Grotowsky e O Teatro de Meyerhold. Professor de literatura dramática da Escola de Teatro da FEFIEG. Atualmente é crítico de teatro do Diário de Notícias.
Maria Pompeu: Nasceu da Rua Riachuelo, 133, Rio. Passou grande parte da infância e adolescência em Santa Tereza, onde descobriu o Teatro Duse(Teatro do Estudante), começando com Paschoal Carlos Magno, como tantos nomes dessa geração. Estreou profissionalmente em Diálogo das Carmelitas em 1955, no Teatro Copacabana. Como atriz participou até hoje de 41 peças, 21 filmes e 8 shows. Em televisão desde 1954, recentemente interpretou os papéis de: Gina em Grande Mentira; Soledad em Rosa Rebelde; Corina em Verão Vermelho; a Madame X em Assim na Terra como Céu.
Produziu os seguintes espetáculos: Receita de Vinícius, Amor depois das onze, O Capeta em Caruaru, Casa de Bernarda Alba, Ritmos e Cores, E Deus Criou a Varoa, Transas e Tranças. Com os três últimos, realizou cerca de cento e cinquenta espetáculos para colégios. Este ano promoveu a Segunda Temporada de Verão de Música de Vanguarda e a Feira do Autor.
(Página 04)
Suzana Faini: Nasceu em São Paulo, capital. No Rio de Janeiro estudou balé no Teatro Municipal. Começou sua carreira como bailarina em São Paulo, em 1952, no Balé do IV Centenário. Começou a estudar teatro, ainda em São Paulo, com Eugênio Kusnet. Como atriz estreou profissionalmente no Rio em Oh, que Delícia de Guerra substituindo Eva Wilma. Entre suas em teatro, destaca-se Ralé, Hoje ou um Amanhã serei outro, Retábulo das Maravilhas, Os Últimos, Casa de Bernarda Alba, Hoje é dia de Rock.
Em televisão interpretou os seguintes papéis: Mademoseille Juliette em O Homem Proibido; Preceptora em Rosa Rebelde; Olga em Véu de Noiva; Cema em Irmãos Coragem; Sônia em O Homem que Deve Morrer e Olga em Selva de Pedra. Acaba de estrelas o filme de Miguel Borges O Último dos Malandros, ainda a ser lançado.
Érico de Freitas: Nascido em Vitória, Espírito Santo, aparece em 1957, no espetáculo Paixão da Terra, no Teatro Municipal do Rio. Estreia como ator no TCB, em São Paulo, na peça Adorável Júlia. Brutus Pedreira o leva a Escola de Teatro da Universidade da Bahia, onde a convite de Jacy Campos, faz seu primeiro filme Sangue na Madrugada. Logo em seguida, a Companhia Cacilda Becker, instituiu um concurso para escolher o protagonista da peça. A Terceira Pessoa. Érico vence por unanimidade entre sessenta candidatos. Funda um grupo com Aldomar Conrado e Thais Portinho, que lança profissionalmente no Brasil os autores Arrabal e Jean Genet. Passa o ano de 1968 na Europa. De volta, representa O Avarento de Molière a A Cabana do Pai Tomás. Em 1970 recomeça a viajar pela Europa, Estados Unidos e todo o Brasil. Reaparece em 1972 em Abelardo e Heloísa.
Marcos Waimberg: Nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, onde estreou em 1960, em Gueto de Varsóvia com o Grupo Clube de Cultura. Ainda em Porto Alegre participou de Antígona, Toda Nudez Será Castigada, História do Zoológico, três peças de Qorpo Santo, Noite de Reis. Em 1969 estreia no Rio em Macbeth. Vai para São Paulo, onde participa de O Balcão. Voltando para o Rio trabalha em Ponte Sobre o Pântano, de Aldomar Conrado, Garotas da Banda e Dom Casmurro. No momento encontra-se no elenco de Genro que era Nora, com Aurimar Rocha, e em duas peças infantis. Em televisão, participou de Selva de Pedra e vários especiais.
Paulo Guimarães: Nasceu em Recife, Pernambuco. Foi um dos fundadores do Grupo Construção em 1964. Até 1967, o grupo montou espetáculo como Os Fuzis da Senhora Carrar e Canto Chão (colagem de textos poéticos musicais). Em 1966 venceu a Primeira Feira de Música do Nordeste com Infinito. Em 1967 musicou o curta-metragem O Chofer é a Beleza do Mundo, premiado. Em 1969 musicou o longa-metragem Sal da Terra. Veio para o Rio em 1970 para dublar a sua participação no filme O Faustão, de Eduardo Coutinho.
Fez a direção musical de Bordel da Salvação no Teatro Opinião e musicou a peça infantil Sonho Azul de Emiliano Queiroz, que teve a direção de Marcos Waimberg. Atualmente está musicando Maria Goiaba de Fernando Melo, que será montada brevemente no Teatro Opinião.
Profissão de Fé – Compromisso
(Fragmento retirado do ensaio do Prof. Ivan Cavalcanti Proeça a sair na próxima edição da Reunião, em separata.)
Na mesma medida em que um autor não se “ajusta” em uma determinada época (1) e, pelo contrário, o importante será justamente que esse autor transcenda a sua época, também, por outro lado, conservará toda uma carga identificadora e comum a seu tempo(que o autor não vem do nada, nem suas obras surgem de galáxias), mas, ressalte-se, conservando heranças de épocas anteriores e se antecipando às que inexoravelmente virão. Assim, será também seu tanto temerário o enfoque de um autor através de enquadramentos e/ou demarcações de fases e sua trajetória (2). E esta ressalva vem a propósito do fato de que as fases que sugeriremos, a seguir, quanto à produção drummoniana, visam, a uma abordagem operacional, e a uma visão globalizante dos “progressos” (melhor seria estágios) por que passou sua obra, vasta. Assim, trabalharíamos através de percurso das etapas seguintes:
Primeira Fase – A fase do eu, pairante (e dominador) sobre todas a coisas, uma quase onisciência e autossuficiência, que se traduz através do coração mais vasto que o mundo(Alguma Poesia, Poesia de Sete Faces). O que não impede que, aí mesmo, já se encontre uma antecipação da fase 2, quando o poeta em Brejo das Malmas(Hino Nacional) Confessa esse mesmo coração tão cheio de compromissos, difícil de caber mais.
1. O termo Escola, por exemplo, já vai perdendo sua dinastia por sugerir limitações, cronologia, etc, Hoje, mais aceito estilo de época (romântico, realista, etc.).
2.Quando se diz de Machado de Assis, por exemplo, em fase realista e romântica(o que se justificará, apenas, em tratamento meramente didático);
Segunda Fase: A partir de todo um sentimento do mundo, que o acompanha, o poeta “desce” aos homens e ao próprio mundo e confessa “não, meu coração não é maior que o mundo/ é muito menor/ nele não cabem nem as minhas dores”, o que implicará em busca de soluções estéticas que se harmonizem com a tomada de posição do A.
Terceira Fase: A de Boitempo, por vezes em tempo de boi mesmo, estático, saudosista, recomposição do tempo passado, tentativa de união das suas pontas da vida, com um amanhecer e entardecer diferentes, porque na roça, “no gado é que dormimos/e nele que acordamos”; por vezes retomando a indagação e a busca(+ tentativa de rompimento do encanto) do que se esconde(ou pelo menos, não se revelou ainda) para além do concreto e consumado: as garrafas de cristal, “antiquários ainda não nasceram/que virão um dia buscá-las”; ou “a gula, faz tanto tempo/cristalizada”.
3. Melhor desenvolvido adiante, sob o aspecto o irremediável da condição humana.
(Página 06)
Um Mundo Menos, Mas Positivo
Não é um amargor pelo amargor, ou o negativismo puro, e de fuga, que predominará na poesia drummoniana. E toda a ênfase ao desencanto + o antilírico (ou a solidariedade apenas simulada) não implicará necessariamente em isolacionismo niilista. Isto porque toda a carga menos, núcleo da poesia do A, será o reflexo / consequência também de um mundo e uma sociedade menos, e – em tensão um com o outro – resultará um positivo, fruto de atitude crítica (e atuante e, principalmente, desmistificadora), denúncia implícita, sem perda do teor poético. Não há qualquer charme ou os vestígios de fossa (a essa altura a palavra se institucionaliza através dos profissionais dela), no canto drummoniano, visto que a atitude constatativa, contemplativa e/ou simples recolhimento a um mundo interior são apenas ponto de partida para um transbordamento, como dissemos, crítico. E é que se depreenderá do enfoque não científico em princípio, porque inevitável a intimidade desse traditório / ambíguo que acompanha a obra literária, cuja ideologia interna, e muito interior, afinal predominará: não fosse o homem origem, executante, e retorno, dessa obra, fundando (e mais: instaurando) signos.