(INFORMAÇÕES DO PROGRAMA)
(Capa)
Projeto Coca-Cola Teatro Jovem
apresenta
SHAKUNTALA – O ANEL PERDIDO
Cia de Teatro Medieval
(Interior)
“Queres abranger com um só nome o Céu e a Terra?
Pois te digo o nome Shakuntalá, e assim tudo esta dito.”
Goethe
Em nossa busca pela Universalidade da Arte e seu poder de comunicação, voltamos ao início da Idade Média, seu ponto de partida , o Século V.
Esta peça confirma a tese de alguns indianistas de que a origem dos contos e das fábulas encontra-se no Oriente, podendo-se traçar o caminho que passa pela tradição oral e chega às obras de Shakespeare, Boccaccio, don Jual Manuel, Gil Vicente, Molière, La Fontaine e outros. Shakuntalá seria a primeira das Belas, das Cinderelas, já que é através de um objeto de identificação – o anel perdido – que o amado reencontra sua amada.
Geralmente, nos Contos de Fada Ocidentais os apaixonados são ameaçados por uma força do Mal e se unem para vence-la, não deixando nunca de ser do Bem. Em Shakuntalá o Príncipe expressa as duas faces: a do Bem e a do Mal. Essa é a grande diferença entre a visão Ocidental e Oriental do dualismo da natureza humana. Ninguém é só o Bem ou só o Mal.
A atualidade desta peça está na possibilidade da mulher escolher o marido, na liberdade de um casamento em segredo – e, ainda, na relação de respeito e amor à natureza que os indianos têm tão presente e que deveríamos reaprender. Resgatar o nosso elo perdido, reencontrar o nosso anel perdido…
Kalidasa e a Dinastia Gupta – O Século V
A peça que ora apresentamos é uma livre adaptação da obra homônima de Kalidasa, um dos mais importantes autores hindus de sua época.
Devido à poesia, au humor, ao espírito lúdico e à eloqüência, Shakuntalá é considerada obra-prima da Literatura Universal e Kalidasa é tido como precursor de Shakespeare. Sua influência se faz notar em obras como Sonhos de uma Noite de Verão e Cybeline, esta diretamente comparada a Shakuntalá.
O Teatro florescia sob o reinado dos Gupta, sendo Chandragupta II, o Rei sol, o grande patrocinador real desse período. Era o Renascimento Indiano, que ocorreu dez séculos antes do Renascimento Ocidental.
Não só a arte e a cultura atingiram seu apogeu, sua Era de Ouro, como também o desenvolvimento científico e tecnológico tiveram importantes avanços para a humanidade; por exemplo: o sistema decimal, graças ao uso do zero se desenvolve e chega mais tarde à Europa levado pelos Árabes; surgem os algarismos chamados arábicos e a noção de que a Terra era redonda e girava sobre seu eixo. A Indústria Indiana produziu grande variedade de tintas e os tecidos foram aprimorados e exportados.
Este foi, sem dúvida um período do maior desenvolvimento e paz de que já se ouviu falar.
Arte do Ocidente: Profana Ou Sagrada no Oriente: Sagrada e Profana
A Cultura Indiana, embora pouco conhecida no Ocidente, data de mais de 5000 anos. Nela, todas as formas de Arte estão intimamente ligadas à filosofia e à relegião, não havendo separação entre o profano e o religioso. A Arte é uma ciência no sentido mais amplo da palavra – conhecimento -, porque não existe diferença entre a matéria e o espírito, entre o Céu e a Terra, entre o Deus e o Homem.
A Música – A ciência Saggeta – uma conversa da alma com Deus
O rio da inspiração deve fluir como uma folha que segue o curso rumo ao Oceano.
Nas músicas da peça são usados instrumentos, ritmos e estruturas sonoras tradicionais e populares da Índia – o sitar, a tamboura, a tabla, o harmônio e a moringa – e também instrumentos mundiais – a flauta, cello, vilolino, percussão, etc.
Em cena os instrumentos usados pelos atores são indígenas brasileiros.
Na Índia os instrumentos estão relacionados com os cinco elementos da Natureza: a água, o fogo, a terra, o ar e o éter. Sendo a voz o único instrumento do éter, ela tem, o movimento de uma pluma caindo infinitamente ao vento com suas idas e vindas, com lufadas e correntes de ar.
A música do casamento Sitaram também tradicional, glorifica a união de Rama e Sita, o casal que personifica a purificação do matrimônio ideal.
Na aparição do Bruxo Rayvasa é utilizado um instrumento aborígene da Oceania (Nova Zelândia, Austrália), chamado Didijridoo No momento do pescador no mercado – a música Bazaar – as vozes são uma composição das frases rítimicas, as talas da música indiana que são:
ta, tha, da, dha, na din, dam, dum, hak, ra, … Chandra Many
As músicas foram compostas e adaptadas especificamente paa este espetáculo.
A Dança
Com origem nas danças mímicas que ocorriam nas festas cultuais aos deuses Vishnu e Shiva, dança clássicas indiana já era praticada, tanto nos templos quanto nas cortes reais, há cinco mil anos.
O mais antigo e único códice de dança do mundo, o Natyashastra, contém toda a teoria da dança, assim como do drama, da mímica e da poesia.
Um outro texto trata especificamente da linguagem gestual das mãos, os mudras, muito precisa e importante, pois expressa todos os sentimentos: alegria, ameaça, medo, confiança, etc.
Somente há 20 anos esta dança chegou ao Ocidente e foi reconhecida como arte.
No espetáculo o estilo principal de dança é Odissi, da província de Orissa, e são utilizados alguns mudras.
Susane Travassos
Cenário
O arco usado é uma reprodução de uma construção típica (Raveli) da cidade de Jaisalner e simboliza o amor. A decoração em mosaico é típica também do Rajastham, um dos estados mais alegres da Índia. Sua influência se estende ao colorido dos trajes.
Figurino
Príncipe: traduz a influência da Índia no Oriente Médio
Shakuntalá: modelo renascentista já que estamos no Renascimento Oriental
Bobo: aproxima a Europa através do bobo da Corte
Talarika: traje típico
Sábio/Eremita/Bruxo: influência grega
“Brasíndia” – A Nossa Índia, os Nossos Índios
As grandes Navegações portuguesas lançaram-se ao mar para descobrir o Caminho das Índias, e Pedro Alvarez Cabral, levado por estranhos “ventos”, acaba chegando às Índias Ocidentais: o Brasil.
E, assim, várias espécies de frutas e plantas, além de boa parte da Literatura Popular (registrada por Câmara Cascudo e Sílvio Romero), chegaram ao Brasil da Índia através dos portugueses.
Marque com I (Índia) ou um B (Brasil) a origem dos seguintes elementos:
01 ( ) Manga
02 ( ) Banana
03 ( ) Jasmim trepadeira
04 ( ) Cana de Açúcar
05 ( ) Açaí
06 ( ) Acerola
07 ( ) Jaca
08 ( ) Coco
09 ( ) Seringueira
10 ( ) Jamelão
11 ( ) Graviola
12 ( ) Fruta-de-Conde
Respostas: 1 I, 2 B, 3 I, 4 I, 5 B, 6 B, 7 I, 8 I, 9 B, 10 I, 11 I, 12 B
A difícil arte de parecer fácil
Foi preciso ir ver de perto, viajar para tão longe, ir realmente a Índia, e Ricardo foi, para ter a compreensão de que povo é este que agora nos arriscamos a mostrar. Difícil aproximação de uma cultura, colocar em arte uma sabedoria milenar.
Nesses quase sete anos de Companhia, de trabalho ininterrupto, fomos aprendendo com culturas e épocas tão diferentes muitas coisas sobre nós mesmos. E, com este último, a união e a importância da amizade foi nosso maior aprendizado.
O Teatro, já dizíamos, se faz com amizade e generosidade. E nos emociona observar que as relações com os amigos, colaboradores, profissionais, patrocinadores solidificam-se cada vez mais e conquistam novos e fundamentais aliados.
Sabemos que muitas vezes se torna difícil ajudar. A luta diária inviabiliza muitas vezes a vontade que se tem de estender uma mão; mas essas pessoas conseguem vencer os obstáculos do dia-a-dia e transformar em possível o que para algumas seria impossível.
A todos vocês nosso obrigado e bom espetáculo.
Companhia de Teatro Medieval
O Príncipe Dushyanta, em uma de suas caçadas ao lado de seu amigo Mataviva, o bobo da Corte, invade um bosque sagrado e lá é flechado pelo amor: apaixona-se por Shakuntalá, uma princesa que vive no eremitério. Desvendadas as origens nobres de cada um, os dois se casam em segredo, como permite a tradição, e o Príncipe lhe dá seu anel como símbolo desta união. Tendo que voltar rapidamente para o palácio, deixa Shakuntalá à espera do pai Eremita para lhe dar a notícia do casamento e receber a sua benção.
Sendo o eremitério um local sagrado de orações e repouso para sábios e viajantes, eis que chega o poderoso Rayvasa. Distraída pelos pensamentos amorosos, Shakuntalá não percebe a chegada deste e deixa de cumprir os rituais de boas vindas a tão nobre hóspede. Enfurecido ele a amaldiçoa: “Em quem estiveres pensando, não lembrará mais de ti”. Sua amiga Talarika, a que tudo presencia, implora ao Bruxo o antídoto da maldição: “O Príncipe só se lembrará dela e do casamento quando avisar o anel”.
Por achar que o assunto já está resolvido, Talarika guarda em segredo o que havia visto e sabido. Finalmente as duas seguem viagem para o Palácio do Príncipe. Porém, no caminho, sem que se perceba, Shakuntalá perde o anel…
E agora, como irá o Príncipe reconhece-la? Ficará o anel perdido? Ou o Destino esconde um final feliz?
Será que todos temos um Destino a cumprir? A nossa história já está escrita? Ou somos nós os responsáveis pelo nosso caminho?
Música ao final
Música tradicional indiana, adaptada para os nomes dos personagens Shakuntalá e Dushyanta. É uma saudação a eles e a seu filho, que é comparado ao deus Ganesha – o removedor de todos os obstáculos – selando assim a união.
Gajanana
Pahi, Pahi – Como é lindo
Gajanana – o pequeno Ganesha
Shakuntalá nadana – filho de Shakuntalá
Gajanana – Pequeno Ganesha
Jaya Ganesha – Salve Ganesha
Jaya Ganesha Deva – Salve Divino
Mata Jagu Shakuntalá – Sua mãe Shakuntalá
Pita Dushyanta – Seu pai Dushyanta
Gana Pati Deva – União divina, união
Glossário
Eremita: pessoa sábia de vida simples e próxima à natureza
Eremitário: espécie de convento, local onde os viajantes vão rezar, descansar , refletir
Sábio: pessoa que sabe muito
Casta: camada social hereditária cujos membros pertencem a mesma raça, etnia, profissão ou religião; só podem casar as pessoas da mesma casta.
Shiva: Deus que representa o poder
Ganesha: Deus com cabeça de elefante, remove os obstáculos e garante o sucesso
Indra: rei dos Deuses
Corcéis: cavalos
Shakunta: pavão
Ninfa celestial: fada que vive no céu
Sânscrito: língua literária Universa
Eduardo Andrade: Bobo Mataviva
Márcia Frederico: Talarika
Raquel Libório: Shakuntalá
Ricardo Venancio: Príncipe Dushyanta
José Mauro Brant: Eremita, General, Buxo Rayvasa, Sábio Kanwa (Pai Adotivo de Shakuntalá), Pescador
Isadora: Participação Especial
Núcleo de Criação
Tradução, Máscaras, Acessórios de Figurino, Adereços, Coord. Pesquisa, Programação Visual e Produção Gráfica : Heloisa Frederico
Adaptação, Textos, Produção, Divulgação e Pesquisa : Márcia Frederico
Produção, Administração, Execução- Montagem Cenário, Op.de Som : Marcos Edom
Direção, Cenário, Figurino, Maquiagem, Coreografia e Pesquisa : Ricardo Venâncio
Equipe
Carmen Stella: Assessoria Psicopedagógica
Susane Travassos: Coreografia e Preparação Corporal (Dança Indiana)
José Frederico: Tradução
Dimitri Martinovich: Iluminação
Chandra Many: Direção Musical/ Composição
Alexandre Loureiro: Músico
Ricardo Pena Haikal: Músico
Cecília Beatriz Veiga Soares: Consultoria de Botânica
Fred Pinheiro: Execução e Montagem de Cenário/ Operação de luz
Lili Teixeira, Maria Lúcia Barreira, Iléa Ferraz: Assist.de Cenário e Figurino
Alzira Ribeiro, Marilena Venâncio, Mara, Telma: Costura
Wagner Gabriel: Escultura em isopor (Painel Pavão)
Articium Informática: Computação Gráfica
Bel Garcia: Editoração