(INFORMAÇÕES DO CARTAZ/PROGRAMA DE SÃO PAULO)
(Frente)
Teatro Ventoforte
MISTÉRIO DAS NOVE LUAS
Direção Ilo Krugli
Texto: Ilo Krugli, Sonia Piccinim, Paulo Cesar Brito
Música: Ronaldo Mota
Teatro Procópio Ferreira
Rua Augusta, nº 2823
Sábado 16h, Domingo 10h30 e 15h30
(Verso)
Mistério das Nove Luas
Casamento – Começo
Caminhada em Nove Luas
1ª. Lua Em busca da onça
2ª. Lua Lua do recado nas folhas
3ª. Lua Lua dos dois caminhos
4ª. Lua Lua do passado
5ª. Lua Uma lua especial
6ª. Lua Lua do eclipse
7ª. Lua Uma lua cheia: “O Circo Mais Pobre do Mundo”
8ª. Lua Uma lua dividida
9ª. Lua Uma lua de muitas penas soltas
Despedida – Nascimento
Atores / Personagens
Ilo Krugli: Palhaço Não Sei
Loy de Andrade: Velha das Ervas, Apresentadora do Circo
Márcia Correa: Menina do Cabrito, Onça
Paulo César Brito: Porteiro do Claro, Dono do Circo
Regina Costa: Contramestra, Apresentadora do Circo, Domadora
Ronaldo Mota: Contramestre, Homem Especial
Sonia Piccinin: Porteiro do Escuro
Tião: Cabrito
Todos: Brincantes, Homens da mata, Gente de circo
Músicos
Ronaldo Mota (Violão)
Ignez Perdião (Viola, flauta, cavaquinho, clarinete)
Damilton Viana (percussão)
Tião (percussão)
Autores: Ilo Krugli, Paulo César Brito, Sonia Piccinin
Direção, Cenários, Figurinos: Ilo Krugli
Música: Ronaldo Mota
Coordenação Musical: David Tygel
Iluminação: Jorginho de Carvalho
Objetos de cena: Equipe Ventoforte
Equipe de Produção: Coordenação geral – Nona Moreira
Administração/Divulgação: Carolina Freitas e Umberto Magnani
Contrarregra: Luís Paulo Campos
Operador de luz: Ivan
Porteiro do Escuro: Coitado da onça. Ela vai se perder.
Porteiro do Claro: Onça não se perde: ela fica em qualquer lugar.
Porteiro do Escuro: Onça não volta?
Porteiro do Claro: Onça não tem casa. Gente é que tem casa e quando fica longe e não sabe voltar se perde. Porteiro do Escuro: Ah! Mas se a onça não se perde, a gente se perde.
Porteiro do Claro: Quando ficar escuro, a gente não vai conseguir achar a onça.
Porteiro do Escuro: E nem a onça vai saber que está procurando por ela.
Porteiro do Claro: E a estrada não vai nem saber quem passa: se é gente que se perde, ou onça que não se perde.
Porteiro do Escuro: Então, vamos levar o lampião pra poder iluminar o escuro.
Eram os ensaios das Pequenas Histórias de Lorca, era o mambembar dos Lenços e Ventos nas escolas da zona rural do Rio nos conduzindo para um encontro com uma cultura onde o sentimento popular era a forma de aproximar-se de uma arte ligada à terra como essência, incluindo não só formas tradicionais, de raízes, mas também buscando abordar conflitos cada vez mais amplos. Por outro lado, o Garcia Lorca seria um espetáculo só permitido a maiores de 18 anos, o que contribuía que sentíssemos cada vez mais a necessidade de nossos espetáculos para crianças serem também espetáculos para todas as idades, para a comunidade. Como devem ser a festa, o rito, a educação e o pão.
Foram assim surgindo as primeiras ideias e imagens da terra, dos ritos de fecundação desde o nascimento até a morte e com eles à vontade de colocar no palco um grande parto.
Em julho de 1977, começou realmente a criação do espetáculo. Era tempo de festa na periferia do Rio, no Méier, no Centro de Criatividade, onde quase todos nós estávamos desenvolvendo um projeto. Durante o dia, tentávamos despertar as crianças e suas famílias do sono massificado para que acontecesse uma retomada dos festejos cíclicos dentro do que restava da tradição urbana (era época de Cosme e Damião).
À noite, o Ventoforte construía seu próprio folguedo, se abandonava em ritos onde se libertavam o inconsciente e os conflitos do grupo através de uma forma popular e cíclica, alimentada na troca espontânea de criar uma festa. Aos sábados e domingos, quando a tarde morria, o espetáculo começava a palpitar em ensaios abertos a essas mesmas crianças da rua, seus irmãos, suas mães. Era um jogo sem medo, sem nada a perder, sem censuras ou críticas engajadas, apenas sentido a resposta na respiração, no riso ou no bocejo, ou na discussão final, aonde então íamos ajustando as formas e os conteúdos da “brincadeira”. Aí as ideias se desdobravam em um universo mais amplo.
Fecundidade, formas pouco racionais de enfrentar o destino e seus mistérios, encontrando os símbolos e ampliando depois seus significados à realidade do Ventoforte e à realidade cultural e política em volta, a competição e sua dinâmica destrutiva, o poder centrado numa ambição individual de domínio, colocando valores absolutos e massivos.
A relação dinheiro que sentíamos ausente nos espetáculos para crianças, uma relação diferente do sistema, que chamamos “mais que dinheiro”, a tentativa de resgatar das pegadas do nosso instinto uma percepção mais profunda do real, a própria liberdade do instinto, tudo isto num processo sem culpados, sem heróis ou vilões absolutos. A abordagem de uma temática com grandes riscos, mas deixando sempre a possibilidade do renascimento, dos novos ciclos. Um recado que foi tirado do fundo do peito, e no qual poderia ser mostrado a crianças, jovens e adultos o exercício de morrer e voltar a nascer sempre.
O espetáculo estreou lá mesmo, no Méier, num espaço pequeno e vibrante, onde tínhamos procurado seguir por cima do asfalto as pegadas populares. Depois foi para o palco amplo do Teatro Ginástico, no Centro do Rio, depois novamente Zona Norte (SESC da Tijuca) e mais longe ainda: Curitiba, Ouro Preto, Belo Horizonte, Goiânia, Brasília e sua periferia (Sobradinho, Taquatinga, Ceilândia), São Luís do Maranhão. Mais recentemente em Berlin Ocidental, no Festival de Cultura “Horizontes”.
Também não queremos esquecer o palco de cinco penitenciárias: Dias Moreira, Lemos de Brito, Talavera Bruce, o Complexo de Bangu, todos no Rio, e a penitenciária de Niterói. O confronto com essas plateias levou à descoberta de conteúdos mais profundos: as penas do cordão da sorte passaram a representar, além das nossas próprias tristezas, as penas de castigo com que são reduzidos os conflitos e as incompetências sociais do sistema. E a figura mais aplaudida em cena era o boneco “Mané”, símbolo daqueles que não podem se expressar com voz clara e sonante.
Ilo Krugli
Atividades do Grupo Ventoforte
1974
fevereiro: Começam as atividades do Grupo Ventoforte, no Festival de Teatro Infantil de Curitiba, com Histórias de Lenços e Ventos;
Temporada de 10 meses n MAM (Museu de Artes Moderna) e no Teatro Opinião; Participação no Festival de Inverno de Ouro Preto e São João Del Rey;
Participação no Seminário de Teatro do Instituto Cultural Brasil-Alemanha, em Salvador;
1975
Estreia, no MAM e Teatro Gláucio Gill, da peça Da Metade do Caminho ao País do Último Círculo, em duas versões: infantil e adulto;
Novembro/dezembro: Apresentação de Da Metade do Caminho ao País do Último Círculo em diversas cidades do interior do Estado do Rio;
1976
Remontagem de História de Lenços e Ventos e viagem a Brasília, com convite da Fundação Cultural do Distrito Federal;
Temporada de 3 meses de Lenços e Ventos no Teatro Gláucio Gill;
Representação de “Lenços e Ventos” no Festival de Teatro Infantil de Curitiba – Fundação Teatro Guairá;
Apresentações de Lenços e Ventos no interior do Estado do Rio de Janeiro, em diversas cidades;
Apresentações de Lenços e Ventos em parques e praças públicas da cidade do Rio; Apresentações de Lenços e Ventos na Rede Penitenciária do Rio de Janeiro;
Outubro: Estreia, em Porto Alegre, As Pequenas Histórias de Lorca a convite do Departamento Cultural do RS;
Novembro/dezembro: Temporada de Lorca no Teatro Cacilda Becker, no Rio de Janeiro;
1977
Janeiro/fevereiro: Temporada de Lorca no Teatro Gláucio Gill, no Rio de Janeiro; Abril/maio: Temporada de As Pequenas Histórias de Lorca em Vitória, Brasília e Belo Horizonte;
Junho: Inauguração do Teatro Experimental Eugenio Kusnet, em São Paulo, ex-Teatro de Arena, com temporada de um mês de As Pequenas Histórias de Lorca
Agosto: Principia a elaboração do texto e montagem de Mistério das Nove Luas; Novembro: Estreia de Mistério das Nove Luas no Teatro Ginástico.
1978
Janeiro/fevereiro: Continuação da temporada do Mistério das Nove Luas no Teatro Ginástico;
Março: Mistério das Nove Luas se apresenta dentro do Projeto Mambembinho, no Teatro Dulcina (Rio), Teatro Municipal de Niterói e Teatro Pixinguinha (São Paulo); Maio/junho: Temporada de Mistério das Nove Luas no Teatro SESC da Tijuca; Junho: Mistério das Nove Luas é escolhido pelo Departamento de Cultura do Estado para realizar apresentações em toda a Rede Penitenciária do Grande Rio;
Julho: Mistério das Nove Luas participa do Festival de Teatro Infantil da Fundação Guaíra, de Curitiba;
Julho/agosto: Mistério das Nove Luas excursiona pelo país, sob o patrocínio do Serviço Nacional de Teatro, percorrendo: Ouro Preto, Belo Horizonte, Goiânia, Brasília e São Luís do Maranhão;
Setembro: Ilo Krugli projeta, para a Mostra de Arte Popular, promovida pelo Serviço Social do Comércio, o espaço cênico, cuja execução fica a cargo de integrantes do Ventoforte;
Setembro/outubro/novembro: A Companhia Dramática Brasileira, do Serviço Nacional de Teatro, decide montar o texto Sonhos de um Coração Brejeiro Naufragado de Ilusão, do pernambucano Ernesto de Albuquerque, premiado pelo SNT no 1º Concurso de Textos para Teatro de Bonecos (1977). Ilo Krugli é convidado para dirigir o espetáculo e o elenco é formado por integrantes do Teatro Ventoforte;
Novembro: Estreia de Sonhos… em Artigas, no Uruguai, no 1o Festival Internacional de Bonecos;
Novembro/dezembro: Sonhos… excursiona pelo sul: Artigas, Montevideo, Buenos Aires, Porto Alegre, Curitiba.
1979
Janeiro: Sonhos… participa do Festival de Teatro de Bonecos, em Ouro Preto e se apresenta em São João Del Rei;
Março/abril: Temporada de Sonhos… no Teatro Glauce Rocha no Rio; Abril/maio: Sonhos… excursiona pelos EUA – Washington (Kennedy Center), Nova York (Teatro La Mama) e mais um circuito Universitário (Kansas City, Tucson, San Francisco); Junho: Sonhos… apresenta-se em Brasília (Teatro Martins Pena) e em São Paulo (Teatro Municipal e Teatro Arthur Azevedo);
Julho: Mistério das Nove Luas apresenta-se no Festival Horizonte de Berlin (Alemanha) representando Brasil;
Julho: Sonhos… apresenta-se em Lisboa (Portugal), no Teatro São Luís;
Agosto: Sonhos… excursiona pelo norte/nordeste (Salvador, Recife, Aracaju, Maceió e Vitória):
Outubro: Mistério das Nove Luas estreia em São Paulo, no Teatro Procópio Ferreira.
Prêmios
História de Lenços e Ventos
Melhor Espetáculo Infantil do Ano, 1974 – Associação Carioca de Críticos Teatrais
Um dos Cinco Melhores do Ano, 1974 – SNT – Associação Carioca de Críticos Teatrais
Molière, 76 para Ilo Krugli
Da Metade do Caminho ao País do Último Círculo
Prêmio da Fundação Guaira (Curitiba), através do Concurso de Dramaturgia Infantil
Um dos Cinco Melhores do Ano, 1975 – SNT – Associação Carioca de Críticos Teatrais
As Pequenas Histórias de Lorca
Um dos Cinco Melhores do Ano, 1976 – SNT – Associação Carioca de Críticos Teatrais
Considerado pela Imprensa de Porto Alegre como um dos cinco melhores espetáculos do ano, em 1976, na cidade de Porto Alegre.
Indicação “Prêmio Mambembe” – Rio de Janeiro direção, figurino, música
Indicação “Prêmio Mambembe” – São Paulo direção: Ilo Krugli, produção: Grupo Ventoforte
Um dos Cinco Melhores do Ano, 1977 – São Paulo
Mistério das Nove Luas
Um dos Cinco Melhores do Ano, 1977 – Rio
Prêmio Mambembinho – direção/cenário/figurino: Ilo Krugli
Críticas
O Mistério das Nove Luas é um poema e uma festa, uma celebração e um brinquedo. Um espetáculo muito bom e inventivo, para qualquer idade. Forte e belo como uma árvore de raízes solidamente fincadas na terra, florescendo e frutificando, alimentada pela seiva da vida, produto da eterna transformação.
Ana Maria Machado, Jornal do Brasil, Rio
Toda a verdade é dita de uma forma poética. E o “gran-finale”, onde reside a descoberta do mistério, leva qualquer pessoa à mais profunda emoção. Criado com o maior cuidado, manipulado com toda a arte e beleza que se pode conceber num trabalho de alto nível.
Dinah Ribas Pinheiro, O Estado do Paraná
Beleza e coerência para todas as idades.
Tania Pacheco, O Globo, Rio
Brasil aumenta horizonte – A magnífica apresentação é transmitida com derradeira alegria de vida pela grupo “Ventoforte”. Os sons da música rítmica e das canções mexeu com o sangue dos pequenos e grandes espectadores. Não é por menos, que houve uma verdadeira comunicação entre atores e público, quando a plateia resolveu participar cantando e batendo palmas junto com eles. Um acontecimento teatral excepcional que deixará uma viva lembrança em muitos, por muito tempo.
Die Welt, Ausgabe B – Berlin West
O grupo teve como trabalho tornar as idéias entendíveis às crianças e os mesmo tempo dirigindo-se aos adultos, tornando-lhes claro que os problemas das crianças são os seus próprios como também o oposto. Não existe um “mundo de crianças”. Em conseqüência disso não existe um mundo de brasileiros, de africanos, de europeus… O grupo “VENTOFORTE” ficará seguramente na memória dos berlinenses, que teve a casa lotada durante os três dias de apresentação.
U. Huttner, Die Wahreit – Berlin west
Todo o tratamento musical, todo o aspecto visual permite, à platéia de uma metrópole, o (re) encontro com uma forma de expressão que faz parte das nossas raízes culturais e que ameaça morrer a cada dia.
Clovis Levi, O Globo, Rio
A última première de teatro no Festival Horizontes, de Berlin foi também a mais bonita. Ela mostrou um sabor de como poderá ser o Festival “Horizontes” (Festival de Cultura Mundial) no ano de 1981, se o festival se ocupar com as culturas sul-americanas. O exemplo, no entanto, trouxe apetites o grupo de teatro brasileiro “Ventoforte” mostrou a fábula como um “vento fresco”, com uma arrebatadora agilidade e cor que deixou o público fora de si, na lotada Academia de Artes. O efeito musical, o fogo, a graça e a afetuosidade deste grupo é irresistível. As pernas tamborilavam e a garganta tremia em um ritmo contagioso. A aclamação para esses brasileiros parecia não querer ter fim.
Heinz Ritter, Der Abend – Berlin West
Agradecimentos
Humberto Braga, Célia, José Carlos Moreira, Katty, Peo, Marco de Oliveira, Fanny, Paulo Portela, Eugênio Staub, Amilton Monteiro, Lila Byton Martins, Renê Liviano, Ana Galindo, Bernadete e Tonia
Colaboração
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