Manifesto CBTIJ – Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e Juventude
20 de março de 2020
No dia 20 de março é celebrado o Dia Nacional e Mundial do Teatro para a Infância e Juventude. Em diversas partes do mundo, artistas, companhias e profissionais vinculados à Associação Internacional de Teatro para a Infância e Juventude (ASSITEJ) planejaram diversas atividades para comemorar a data, bem como ressaltar a importância de um setor que desempenha papel fundamental nas vivências estéticas das crianças. O acesso à pluralidade cultural é fundamental na formação infantil, seja no que concerne às fundamentações emocionais e éticas, ao desenvolvimento cognitivo e perceptivo, à auto identificação representativa, ao reconhecimento e respeito à diversidade, à capacidade crítica e às oportunidades de elaboração de sensações e situações.
Devido às medidas de prevenção relativas ao COVID-19, o cenário modificou-se e a imensa maioria das atividades teatrais foram canceladas ou transferidas, vendo-se substituídas por ações de reflexão, cooperação e apelo a políticas públicas que atendam ao setor. No Rio de Janeiro, a celebração pelo Dia Nacional e Mundial do Teatro para a Infância e Juventude, prevista para acontecer no dia 25 de março, teve de ser cancelada, assim como diversas apresentações e festividades planejadas. Este, infelizmente, é um cenário, não apenas brasileiro, como assola a realidade de muitos outros países. O CBTIJ – Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e Juventude, representante da ASSITEJ no Brasil, tem direcionado as suas ações com base em três eixos principais: cooperação, qualificação e contextualização. A intenção é incentivar as tantas ações colaborativas que estejam em acordo com as realidades contextuais de cada realização e que estejam fundamentadas nas especificidades do teatro para crianças. Neste sentido, o CBTIJ ressalta a relevância da conscientização sobre a qualificação necessária tanto para artistas quanto para profissionais que atuam na mediação, seja como agentes culturais, comissões avaliadoras de editais, festivais e prêmios, ou educadoras e educadores que realizam a escolha das peças às quais as crianças terão acesso. O teatro para crianças solicita os mesmos conhecimentos artísticos necessários ao teatro adulto, somados às reflexões sobre as especificidades da infância. As pessoas responsáveis pela criação e avaliação das peças necessitam ter qualificação sobre os modos da criança se comunicar e compreender a vida e sobre a importância da arte em relação às elaborações infantis que ecoam em seus modos de emocionar e agir no mundo.
O teatro para crianças é o campo das Artes Cênicas que mais produz espetáculos em nosso país, cumprindo, além do fundamental papel de formação estético-pedagógica infantil, uma importante função econômica, ao gerar oportunidade de trabalho direto e indireto, que contribuem de forma efetiva na movimentação financeira de diversos ambientes sociais. Paradoxalmente, o setor da arte para crianças é o menos incentivado por meio de editais específicos, o que dificulta sobremaneira o desenvolvimento de distintas linguagens. Salientamos que as restrições do COVID-19 são apenas o último golpe em uma área que vem sofrendo com políticas desestruturantes que vêm sendo reiteradas, violentamente, em nosso país.
Nesse complexo contexto, apoiamos, sobremaneira, as reivindicações que têm sido realizadas por nossos colegas da área cultural, as quais também nos representam. Neste sentido, salientamos as propostas apresentadas pela Frente Unificada da Cultura do Distrito Federal, pelo Fórum Permanente de Ação pela Cultura e as medidas sugeridas pela Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro (APTR). No entanto, solicitamos atenção às especificidades da arte dedicada à infância e nos colocamos à disposição para contribuir no desenvolvimento de políticas culturais dedicadas ao setor. Por ora, compactuamos com a necessidade imediata de apoio financeiro ao enorme grupo de profissionais que se dedicam à área – a maioria dos quais trabalhando na informalidade e sem planos previdenciários ou de saúde – tanto em medidas que possibilitem a subsistência durante a crise, quanto em ações que garantam a manutenção, produção e divulgação de trabalhos fundamentados nas particularidades da infância, assim que as atividades tenham condições de serem retomadas.
Que a solidariedade que está sendo mobilizada nesta emergência de saúde seja mantida e aprimorada. Que possamos aproveitar essa oportunidade para desenvolver novos modos de cooperar e conscientizar a sociedade sobre o fundamental papel que a arte representa na fruição e formação infantis, enfatizando, mais uma vez, que essa profissão, como qualquer outra, requer qualificação dentro de sua especificidade, o que demanda tempo e investimento.
Por ora, nossas atividades de teatro para a infância estão suspensas, mas seguimos trabalhando muito, com energia, amor e arte, para voltarmos à ativa logo que essa situação for superada. Contamos com o poder público e a sociedade civil para que isso ocorra com a qualidade e o afeto que nossas crianças merecem, solicitando a consciência de que esse é um setor importante no desenvolvimento social e econômico de nosso país.
Cordialmente,
Cleiton Echeveste – Presidente do Conselho de Administração do CBTIJ / ASSITEJ Brasil
Viviane Juguero (Bando de Brincantes) – Representante do CBTIJ no Rio Grande do Sul
Cirila Targhetta (Coletivo Antônia) – Representante do CBTIJ no Distrito Federal
Ricardo Augusto (Trupe de Truões) – Representante do CBTIJ em Uberlândia/MG
Keu Freire (Insensata Cia de Teatro) – Representante do CBTIJ em Belo Horizonte/MG
Paulo Merisio – CBTIJ / ASSITEJ Brasil; UNIRIO/ CNPq; ITYARN; Trupe de Truões
Luciana Comin (Teca Teatro) – Representante do CBTIJ em Salvador/BA
Marconi Arap (Teca Teatro) – Representante do CBTIJ em Salvador/BA
Aglaia Pusch (Cia. Paideia) – Representante do CBTIJ em São Paulo/SP
Amauri Falseti (Cia. Paideia) – Representante do CBTIJ em São Paulo/SP