Crítica publicada no Jornal Tribuna da Imprensa
Por Eliana Yunes, Rio de Janeiro, 24 e 25.06.1989
O Segredo de Cocachim
Um texto despojado, sem muita carpintaria teatral. Isto pode resultar numa boa peça? Quando Denise Crispun escreveu O Segredo de Cocachim que se propunha como uma aventura, foi buscar em Marco Polo, Indiana Jones, na tradição antiga e recente, sua inspiração. Transpor isto ao palco já era um problema, mas ainda em se tratando de um teatro de arena como o da Cândido Mendes de Ipanema.
As soluções cenográficas, de luz e som foram extremamente bem resolvidas por Gringo Cardia, Paulo César Medeiros e Carina Cooper, também diretora da peça. Tendo como cenário panos de fundo como em páginas de livro gigante, movimentadas pelos próprios atores, uma seleção musical primorosa de Philip Glass, Kitaro e Charlie Chaplin e um jogo de luz e sombra capaz de efetivamente “iluminar” situações ao mesmo tempo em que lhes recorta um espaço próprio de sentido, boa parte das dificuldades estavam superadas.
Contudo, criar a partir da aventura verbal, uma movimentação cênica capaz de convencer da viagem, das atribuições, do deslocamento, era trabalho grave para a direção se não contasse com dois atores do quilate de Drica Moraes (a Bia) e Luiz Carlos Tourinho (o Beto).
Inteiramente mergulhados no espírito do texto, mostram-se na aventura da busca do tesouro de Cocachim como donos do palco – um exercício onde à vontade vão elaborando cacos e refinando as situações. Seu desempenho envolve os espectadores mirins, convence os maiores e lhes diverte. Com um trabalho solto, mas ponteado de pequenos detalhes, com uma extração máxima de emoções do verbal, os atores materializam em cena uma aventura em tudo imaginária.
Cocachim – um navio?, uma princesa? – é só pretexto para sair de si, conhecer o mundo, aprender na vida que nem sempre o melhor do tesouro é o seu brilho – o segredo às vezes, é justamente descobrir como lidar com o valores.
No conjunto a peça deleita e se apresenta como uma das melhores realizações nos palcos infantis do Rio., no momento.
Depois de Morangos e Lunetas, onde a direção foi de Beto Crispun, este texto de Denise encontrou na direção de Carina Cooper uma orientação segura capaz de desenvolver o que que no texto era só promessa.