Cartaz idealizado por Camilo Martins


A 20ª edição do Dia Nacional / Mundial do Teatro para a Infância e Juventude deveria ocorrer na entrega dos troféus da 6º edição do Prêmio CBTIJ de Teatro para Crianças. Infelizmente em consequência da pandemia do Covid 19, não aconteceu. Neste ano a criação do banner foi realizada por Camilo Martins. Também recriamos um banner para o site, a partir da arte que nos enviada pela ASSITEJ – Associação Internacional de Teatro para a Infância e Juventude.

Destaques de 2020 pelo Conselho de Administração

A partir deste ano, o CBTIJ/ASSITEJ Brasil prestará anualmente uma homenagem especial a coletivos, instituições e iniciativas que se destacam na pesquisa, criação e produção de artes cênicas para crianças e jovens no Brasil, estimulando, promovendo e valorizando nossas artes e nossos artistas.

FENATIB

O Festival Nacional de Teatro para Crianças e Jovens é realizado há 23 anos pelo Instituto de Artes Integradas de Blumenau, pela Fundação Cultural de Blumenau e pela Prefeitura Municipal da cidade, em Santa Catarina.

PECINHA É A VOVOZINHA

Criado0 e coordenado pelo crítico Dib Carneiro Neto (SP) o site Pecinha é a Vovozinha! Disponibiliza uma grande gama de informações sobre o teatro para crianças e jovens.

LA CASA INCIERTA

La Casa Incierta, de Brasília é pioneira no campo das artes cênicas para a primeira infância.

Todos os anos a ASSITEJ convida uma personalidade para escrever sobre o Dia Mundial de Teatro para a Infância e Juventude. Este ano, a ASSITEJ convidou o ator e diretor  japonês Yoshi Oida. Em virtude da pandemia do Corona Virus, Yvette Hardie, Presidente da ASSITEJ, enviou uma nova mensagem.

Nova Mensagem de Yvette Hardie, Presidente da ASSITEJ

Desde que lançamos nossa campanha do Dia Mundial do Teatro para Crianças e Jovens, que antecede o dia 20 de março, com o slogan #leveumacriançaaoteatro, muita coisa mudou. Para muitas crianças em muitas partes do mundo, não é possível nem aconselhável ir ao teatro, e muitas crianças passarão dias dentro de casa, trancadas em suas próprias casas, sem oportunidades de conexão ou estímulo além do que a televisão pode lhes fornecer.

Mas pensem nas crianças que não possuem lares confortáveis nos quais possam ficar em isolamento, que não têm pais com recursos para lhes oferecer televisões, livros, conjuntos de lego, jardins ou animais de estimação para mantê-los ocupados. Crianças cuja realidade diária é um quarto individual compartilhado com muitos outros, com muito poucos pertences pessoais para chamar de seus. Crianças sem acesso à água corrente para lavar as mãos com a frequência recomendada e, certamente, sem acesso a caros frascos de álcool gel. Crianças, que não poderão aprender em casa por meios online, pois não têm acesso à internet. Crianças cuja única refeição diária vem da escola, que permanecerá fechada por um período de tempo. E, é claro, embora sua saúde seja menos afetada pela pandemia do que a de seus pais e avós, quem cuidará delas se seus pais e avós adoecerem ou morrerem como resultado de complicações do Covid-19? E, de maneira menos dramática, mas também importante, as famílias cujas vidas dependem do dinheiro ganho por alguém que recebe por diárias que, se demitidas ou orientadas a ficar em casa, não terão recursos aos quais recorrer no caso de longas situações de quarentena.

As soluções que o chamado mundo desenvolvido está encontrando para enfrentar o Covid-19 nem sempre são replicáveis em muitos países e contextos. Os desafios podem ser ainda mais intensos.

Nesse período, precisamos apelar para as qualidades que o teatro (e outras formas de arte) podem cultivar em nós – as de compaixão e empatia. Mais do que nunca, precisamos pensar em nossos vizinhos, comunidades e pessoas com pouco ou nenhum acesso sequer ao que é básico. Precisamos unir nossas energias e esforços ao que é responsável, ao que é cuidadoso, ao que é apropriado para nossas condições e situações, onde quer que estejamos.

E precisamos apelar para toda a nossa criatividade! Em vez de levar uma criança ao teatro, podemos ler uma peça em voz alta, encenar cenas em casa, criar oportunidades de brincadeiras imaginativas com o que estiver à mão e, onde possamos,usar ou acrescentar aos vastos e crescentes recursos online do teatro e da música e outras experiências artísticas. Isto pode incluir contação de histórias, leitura de livros, vídeos de produções, filmes de animação, oficinas de artes criativas com recursos do dia-a-dia, etc., e a ASSITEJ criará recursos online para estas atividades, à medida que avançamos. Para isso convidamos todos os nossos membros a contribuírem.

Lembre-se de que nossa busca na campanha #leveumacriançaaoteatro não é uma solicitação única, dependente de um único dia. Ela faz parte de uma campanha global em andamento para dar a mais crianças, em todos os lugares, acesso a experiências artísticas significativas. Que nosso 20 de março de 2020 seja dedicado à divulgação desta mensagem a todos que precisam escutá-la.

E que o Covid-19 seja uma vírgula em uma frase na história da necessidade fundamental da humanidade de um engajamento com as artes, que continuará a se desdobrar continuamente.

Mensagem de Yoshi Oida (*)

Yoshi Oida

“Desde que nasci, eu cresci imitando meus pais o tempo todo. Como andar, como comer e como falar; eu aprendi tudo isso imitando meus pais. Então, quando eu fiquei velho o suficiente para entender as coisas, levado pelos pais eu aprendi a ir ao teatro. O teatro era para mim, o país mágico. A primeira coisa que você vê quando entra no teatro é uma cortina fechada. Lembro-me de que esperei a cortina se abrir com uma enorme expectativa, imaginando o que havia por trás daquela cortina. Quando a cortina finalmente se abriu, havia um mundo de sonhos criado por um cenário, iluminação e figurinos. Às vezes, era algo criado exatamente como no mundo real e, outras vezes, era uma paisagem impossível no mundo real. Havia artistas em vários disfarces, chorando, rindo, cantando e dançando. E durante o intervalo, ouvimos sons de batidas e barulhos. Se era um teatro pequeno, e eu estava sentado na primeira fila, consegui levantar a cortina para espiar lá dentro. Surpreendentemente, uma cena estava sendo mudada em um instante por um grande cenário que foi virado e puxado para trás. Depois, em casa, eu imitava o ator. O meu papel favorito era o de samurai. Desenhava sobrancelhas masculinas, fazia uma peruca e brincava com meus amigos usando espadas de bambu. Quando eu estava no 7º ano, comecei a fazer modelos em escala de um cenário, um palco giratório, um palco montado com luzes feitas de lâmpadas em miniatura…. E, é claro, tentei fazer mudanças de cena com ele.

A partir dessas experiências, acabei entrando em uma companhia profissional de teatro. Mas, naquela época, não havia escola de teatro contemporâneo. Fui então a um mestre do teatro convencional e aprendi técnicas de teatro convencionalmente transmitidas. Aprender o teatro convencional significa imitar tudo o que o mestre faz e fazer um esforço para ser exatamente como o mestre. Então, um dia, inesperadamente, ganhei a chance de fazer um trabalho com Peter Brook. A primeira lição que tive com ele foi sobre improvisação, que eu nunca havia experimentado. Apesar de me terem dito para improvisar, eu não tinha ideia do que fazer, então comecei a fazer movimentos combinando todos os movimentos convencionais que havia aprendido no Japão. Mas um dia, Brook fez uma observação: “Não imite o teatro convencional japonês”. Impactado com o que ele disse, senti como se tivesse sido jogado sozinho no grande oceano. Eu não tinha nada em que confiar e era como um navio naufragado simplesmente flutuando à deriva. Mas foi nesse momento que comecei a pensar em criar pela primeira vez. Percebi que meu trabalho não era simplesmente reproduzir o que existia no passado da maneira que o teatro convencional faz, mas criar minhas próprias expressões. E criar não é criar algo do nada, como Deus, mas imitar o que já existia e ir além. Van Gogh foi influenciado por Ukiyoe, Picasso criou suas próprias pinturas inspiradas nas artes africanas e Miró recebeu sugestões dos personagens chineses; tudo foi desenvolvido a partir do que já existia.

O caminho que segui é provavelmente o mesmo. Minha vida era imitar o que eu via e ouvia no teatro e depois me esforçava para ir além disso. E essa experiência me levou a encontrar uma maneira de viver, passando pelo teatro e indo além dele.”

(*) Yoshi Oida

Ator, diretor e escritor. Nasceu em Hyogo e m1933. Atualmente reside em Paris, na França. Começou sua carreira como um ator no Bungakuza e na companhia de teatro Shiki. Desde 1970 trabalhou com Peter Brook no CIRT (Centro Internacional de Pesquisa Teatral). Atuou em “Mahabarhata”, “A tempestade” e “O Homem que”, dirigidos por Brook; “Shunkin”, dirigido por Simon McBurney e muitas outras. Também dirigiu diversas peças e óperas. Seu livro “Um ator errante”, publicado em 1989, foi traduzido em 17 línguas e é considerado um “bíblia do ator” em todo o mundo. No Brasil, o livro foi lançado em 1999 pela Editora Beca (SP). Recebeu as seguintes distinções do governo francês: Chevalier de l’Ordre et des Lettres (1992), Officier de l’Ordre des Arts et des Lettres (2007) e Commandeur de l’Ordre des Arts et Lettres (2013).

Mensagem de Yvette Hardie, Presidente da ASSITEJ

Yvette Hardie

O que significa para uma criança entrar em um encontro criativo, ser convidada para uma nova experiência artística? Por que isso é tão importante para todas as crianças?

Recentemente, tive o privilégio de escutar Yo-Yo Ma, o grande violoncelista, falar e tocar, e ele se referiu ao que chama de hospitalidade cultural. Ele vê isso como a capacidade (e de fato a obrigação) das artes de acolher o que é novo, inovador e criativo, o que é marginalizado, inédito e ignorado… Na sua opinião, é nossa tarefa como artistas sermos hospitaleiros com essas vozes, formas e técnicas, e durante o processo nos permitirmos mudar.

Isso me lembrou o que significa ser anfitrião e o que significa ser hóspede. E um dos elementos mais importantes de ambos os lados é a qualidade da escuta, a vontade de sair do que é conhecido e confortável e de abraçar e celebrar a diferença.

O grande anfitrião é quem faz com que todos se sintam em casa, independentemente de onde eles venham ou quais sejam suas experiências. É quem deixa seu ego de lado por genuíno interesse por essa pessoa que veio visitá-lo. É quem quer dar a todos a melhor experiência possível. O grande convidado é aquele que vem com uma curiosidade sem limites para o encontro, querendo aprender sobre o outro, sem medo de tentar algo novo.

Nesse espaço de receptividade mútua, encontramos conexão, encontramos surpresa e aprendemos profundamente. Deixamos esses encontros alterados. Nós tocamos o que nos torna humanos, em nós mesmos e nos outros…

Este é o momento precioso que as artes nos dão. Como artistas de teatro, precisamos encontrar maneiras de convidar crianças e jovens para esses encontros com um espírito generoso, desejando escutar o público tanto quanto queremos que ele nos escute.

E quando isso acontece, sentimos que a conexão começa a crescer… encontramos um terreno comum, vemos o quadro geral, temos lampejos de compreensão e sentimos aquela onda de sentimento compartilhado que chamamos de empatia. Temos a sensação de que somos importantes, que os outros são importantes, que o que estamos explorando juntos é importante.

Nesta época em que mais e mais pessoas são deixadas de lado, rejeitadas nas fronteiras e nos aeroportos, por serem de classes, etnias, idiomas ou religiões diferentes, é o artista que tem a capacidade de fornecer um sentido de pertencimento, de conexão.

E toda criança precisa disso.

What do you want to do ?

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