O Menino Maluquinho (Teatro Vannucci)

Matéria Publicada no Jornal do Brasil
Por Flora Sussekind – Rio de Janeiro – 04.12.1981

Muitas Opções neste Início de Férias

Se dezembro não costuma ser exatamente o mês mais cheio de novidades na área teatral, ao menos no que diz respeito ao teatro infantil é possível assistir atualmente ao que de melhor se produziu esse ano. Os Cigarras e Os Formigas, montagem comemorativa dos 30 anos do Tablado; Brincando com Fogo, no Teatro Ipanema, espetáculo que recebeu até agora o maior número de indicações para o Troféu Mambembe de 1981 e caracteriza o Grupo Manhas e Manias com sua linguagem circense e uma excelente teatralização cômica do lugar concedido à criança nas famílias classe média, como um dos sopros mais inovadores no teatro infantil carioca dos últimos anos; Ou Isto ou Aquilo, adaptação dos poemas para crianças de Cecília Meireles realizada pelo Grupo Humbu que inicia amanhã uma nova temporada, agora no Teatro Villa-Lobos, depois de receber quatro indicações para o Prêmio Mambembe: pelo cenário, figurino, música e pela continuidade de trabalho de um grupo, como o Humbu, marcado pela criação coletiva, pela ligação estreita da linguagem teatral com a plasticidade de cenários e figurinos extremamente móveis e passíveis de utilização em qualquer lugar, por espetáculos da qualidade de Gaiola de Avatsiu, Fala Palhaço, Ou Isto ou Aquilo, As Três Luas de Junho e uma de Julho, no Teatro Glauce Rocha; Cinco Mil Passos, no Teatro dos Quatro; Dom Quixote, no Teatro de Arena, marcam o aparecimento de três novos autores (Tônio Carvalho, Alice Reis e Paulo César Coutinho), nesse campo tão pouco explorado que é a dramaturgia para crianças. O que tem obrigado grande parte dos grupos a buscar em textos literários para público infantil matéria para seus espetáculos. Daí, a quantidade de adaptações este ano.

Algumas especialmente felizes como é o caso de Ou Isto ou Aquilo ou de O Anel e a Rosa, em temporada no Teatro Gláucio Gill. Outras infelizes, como a versão teatral de O Menino Maluquinho, que comemora amanhã a conquista do prêmio NHK, como melhor programa infantil, da TV japonesa pelo programa da TV E Patati Patatá, do qual participa Alby Ramos, protagonista do espetáculo em cartaz no Teatro Vanucci.

Outras boas opções ainda na área teatral são Um Telefonema Para o Japão, espetáculo cujo eixo é a improvisação, a criação a cada dia de novas situações de acordo com as histórias inventadas pela plateia; Cantos de Trabalho, show  do Bloco da Palhoça, agora no Teatro Quintal, em Niterói; Vira Avesso com o Grupo Além da Lua, no Teatro do Planetário da Gávea.

No cinema, alguns excelentes filmes para crianças como os Filmes de Animação a serem exibidos no Rian, amanhã e domingo às 14h, e, no Ricamar, O Senhor dos Anéis, versão cinematográfica de três livros de J.R.R.Tolkien, interessante não só como história aventuresca e como indagação em torno da ideia de poder, mas sobretudo como construção exemplar de um mundo ficcional. Ou, nas palavras de Tolkien: “Um fazedor de história cria um Mundo Secundário onde nossa mente pode penetrar. Nele, o que se conta é verdade: está de acordo com as leis deste mundo. Você, portanto, acredita, ao menos enquanto estiver dentro dele. A partir do momento em que surge a dúvida, o feitiço se quebra; a magia, a arte, falhou”.

Definição que se aplica à lógica das peripécias criadas pelo próprio Tolkien em suas obras e a qualquer autor ou contador de histórias, estejam elas em livros, teatro ou cinema.

E, principalmente, quando dirigidas a crianças. Mais do que qualquer um, o espectador infantil é rigoroso e implacável e, quando o feitiço se quebra, vem um desinteresse imediato pelo que assiste e um mergulho nos seus próprios jogos e fantasias. Ou uma vontade de comer mais balas, ou de ir embora, ou a decepção enorme de quem desejava se deixar levar por uma história, uma mágica que falhou. De quem, como o menino de um dos poemas de Cecília Meireles incluído em Ou Isto ou Aquilo, parece pedir às histórias a que assiste, como o menino ao Eco: “Vem passear comigo!” Mas só ouve a mesma resposta: “Migo! Migo!” E tem que passear e fantasiar sozinho.