(INFORMAÇÕES DO PROGRAMA)
(Capa)
O Centro de Demolição e Construção do Espetáculo é um laboratório de teatro Contemporâneo, atualmente sediado no Teatro Gláucio Gill, FUNARJ, em Copacabana. Sua principal linha de trabalho quer desenvolver a relação entre temas e estruturas dramáticas brasileiras e o sentido, o espaço e as formas do teatro hoje.
Catete, inverno de 1991.
O Espetáculo O Tiro que Mudou a História é uma iniciativa do Museu da República e foi produzido com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes.
É uma realização do Centro de Demolição e Construção do Espetáculo, responsável também pela sua temporada.
(Logos) Centro de Demolição e Construção do Espetáculo, Rio Prefeitura da Cidade.
A História que Mudou o Tiro
(Verso da Capa – Foto de Getúlio Vargas)
Canção do Palácio
N. Nicolaiewsky, A. Freire-Filho
Pergunto a estas paredes
O que foi humano
Nesta casa?
Onde está a alma dos reis?
Onde dói o peito do herói?
Sei que dentro deste palácio
Mora também uma casa
Cada canto do palácio
Esconde um canto da casa
Pergunto a estes retratos
Se quando olho
Eles me olham?
Quando é que vivem outra vez?
Quando dói o peito do herói?
(Página 01)
Canção do Sol
N. Nicolaiewsky, A. Freire-Filho
O brilho dos vitrais
É o reflexo e muito mais
Do sol ardente do Brasil
Como o cavalo de Tróia
Entra a luz da claraboia
No palácio enclausurado (refrão)
Por trás destes vitrais
Passam levas de mortais
Distantes dos imortais
Viventes deste palácio
Jardins do Flamengo
Onde medra a Flor do Lácio
Onde etruscos fundam Romas
E romanos o Brasil
(refrão)
Nesta noite os palhaços
No palácio e seus espaços
Conquistados com seus passos
Anunciam convidados
Salões de fantasmas
Onde vivem desterrados
Onde mortais apartecem
À procura do Brasil
(refrão)
O brilho dos vitrais
É o reflexo e muito mais
Do sol ardente do Brasil
(Páginas 02 e 03)
À meia-noite de 23 de agosto de 1954, em meio à crise que tomava conta do país e repercutia nas ruas, o General Zenóbio da Costa e o Marechal Mascarenhas de Morais, Ministro da Guerra e Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, chegaram ao Palácio do Catete trazendo dramáticas notícias sobre a situação do Exército.
Getúlio Vargas se recusou a renunciar ou mesmo a pedir licença, mas decidiu discutir o assunto com o Ministério, naquela madrugada de 24 de agosto. Enquanto um Ajudante-de-Ordens convocava pelo telefone os ministros que não se encontravam no Palácio, Getúlio pediu que João Goulart fosse a seus aposentos. Ali, entregou a Jango, que partia naquela madrugada para Porto Alegre, um envelope que pediu só fosse lido no Rio Grande do Sul.
As três da madrugada, a reunião ministerial começou. Faltava apenas Vicente Rao, Ministro das Relações Exteriores, que se encontrava em São Paulo. Todos os outros ministros estavam presente: Oswaldo Aranha (Fazenda), Tancredo Neves (Justiça), General Zenóbio da Costa (Guerra), Brigadeiro Epaminondas Santos (Aeronáutica), Almirante Renato Guilhobel ( Marinha), José Américo de Almeida (Viação), Apolônio Salles (Agricultura), Edgard Santos (Educação), Hugo de Faria (Trabalho), Mário Pinotti (Saúde).
Encerrada a reunião ministerial, alguns ministros, amigos e familiares do presidente permaneceram no palácio em vigília. Nos jardins do Catete, trincheiras com sacos de areia davam ao Palácio o aspecto de uma praça de guerra.
Vargas dormiu pouco. Às seis da manhã, dois militares chegaram ao Palácio para intimar Benjamin Vargas a comparecer imediatamente à Base Aérea do Galeão, para depor sobre o atentado da rua Tonelero. Às seis e meia, Zenóbio reuniu-se com os generais oposicionistas no Ministério da Guerra: os generais decidiam dar um ultimato a Vargas. Eram mais ou menos sete horas quando esta notícia chegou ao Palácio.
Getúlio voltou ao seu quarto. Às oito e meia, aproximadamente, deu um tiro no coração. Antes das nove da manhã a carta-testamento que deixou era irradiada para todo o país.
(Dados extraídos de Vargas, da Vida Para a História, de Paulo Brandi, Zahar Editores, 1983)
(Página 04 e 05 – Foto de Getúlio Vargas)
Getúlio Vargas dá um tiro no peito e sai da vida para entrar no teatro. Mais um Chefe de Estado – Rei, Primeiro Ministro, Presidente, não importa – é personagem trágico.
Getúlio Vargas, Presidente do Brasil, chefe de um povo com a vocação da comédia, quando rasgou o coração representou a grande tragédia brasileira. E, como ele próprio estabeleceu, entrou na História. Quer dizer, entrou nas histórias, nas mitologias, na fantasia, no sobrenatural. O suicídio é uma operação que anula as diferenças entre dois seres imaginários: o homem e a divindade.
Com esta ação majestosa, Getúlio Vargas estaria querendo dizer que a política inclui a tragédia como referência indispensável? Estaria querendo mostrar que quem quer se sacrificar pelo seu povo tem que ser capaz de um ato trágico para não ser um falso profeta?
Este palácio é verdadeiro, os atores e os espectadores são de carne e osso, essa fábula aconteceu, mas tudo isso agora é teatro. Em 1954, na noite verdadeira de 24 de agosto, os personagens viviam minuto a minuto esta tragédia; logo, também era teatro.
O teatro apenas revela a dimensão trágica da política. Fora do palácio, o Brasil ainda é a mesma peça.
Aderbal Freire-Filho
(Páginas 06, 07 e 08)
Getúlio Vargas: Cláudio Marzo
Oswaldo Aranha: Paulo José / Rogério Fróes
Tancredo Neves: Marcelo Escorel
José Américo: Emiliano Queiroz
Benjamin Vargas: Domingos Oliveira / Aderbal Freire-Filho
General Zenóbio da Costa: Orã Figueiredo
Alzira Vargas: Suzana Saldanha
Marechal Mascarenhas de Morais: Duda Mamberti
Brigadeiro Epaminondas Santos: Antonio Carlos Bernardes
Almirante Renato Guilhobel / Burguês: Gillray Coutinho
Hugo de Faria / Burguês: Leonardo Netto
Apolônio Sales: Marcos Vogel
Edgard Santos: André Villas Boas
Mario Pinotti / Jornalista Luís Costa: Maurício Grecco
Cantor: Nico Nicolaiewsky
Amaral Peixoto: Alexandre Ferreira
General Caiado de Castro: Cândido Damm
A Morte: Gisele Fróes
A Menina: Kiki Lavigne
A Anfitriã: Ana Barroso
Burguesa: Christine Braga
Burguesa/Musa: Mônica Biel
As Parcas: Ana Luisa Cardoso, Carmen Frenzel, Paula Feitosa
As Musas: Gabriela Lins e Silva, Isa Vianna, Marcia Duvalle, Vera Lucia Ribeiro
Substitutos: André Pimentel, Eleonora Fabião, Raquel Iantas
Músicos
Soprano: Mariângela Marques
Violoncelo: Caio Benévolo, Manoel Antônio da Silva Filho
Violino: Cláudia Pinheiro
Viola: Igino Mancini
Texto: Carlos Eduardo Novaes e Aderbal Freire-Filho
Figurinista: Biza Vianna
Programador Visual: André Villas Boas
Produção Executiva: Carmen Frenzel, Márcia Montano
Coordenação da Assessoria de Imprensa: Camila Soares Pereira
Assessoria de Imprensa: Lúcia Matos (Sec.Cultura)
Diretor de Produção: Antonio Carlos Bernardes
Contrarregra: Edilson Vasconcelos
Camareira: Dora
Costureira: Dona Lurdinha
(Página 09)
Secretário de Cultura da Presidência da República: Sérgio Paulo Rouanet
Diretor do Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural: Jaime Zettel
Diretora do Museu da República: Helena Severo
Secretário Municipal de Cultura, Turismo e Esportes: Carlos Eduardo Novaes
Diretor Geral de Ação Cultural da S.M. de Cultura, Turismo e Esportes: William Taranto
O Centro se sente orgulhoso do convívio, neste espetáculo, com Cláudio Marzo, Paulo José, Rogério Fróes, Emiliano Queiroz e Domingos Oliveira, nossos atores convidados.
(Página 10)
Para cumprir com o seu propósito de independência – Recuperar a Vontade como princípio da Ação – o Centro de Demolição e Construção do Espetáculo adotou uma política de barateamento de custos, para a qual concorrem empresas que nos cederam os seus bons produtos ou serviços.
O Centro se associa a ela. Neste momento, estamos juntos, esta cooperativa de artistas e estas empresas, realizando uma nova peça deste produto comprometido, em todos os tempos, com a história da sociedade: o teatro.
O custo essencial na produção teatral é o do trabalho humano.
(Verso da Última Capa)
(Logos) Britannia, Bijou Box, Indumentária, Rede Manchete, Só à Rigor