Matéria Publicada na Revista O Teatro Jovem
Por Ilo Krugli (*) – Rio de Janeiro – maio 98
Um Panorama do Teatro Jovem no Brasil
Se perguntarmos qual é o panorama do teatro para crianças no Brasil, rapidamente vem respostas que já foram colocadas em questão em muitos outros momentos, mas sem dúvida vem uma avaliação feliz e bastante rica das temporadas de 97 no Rio de Janeiro e em São Paulo, e uma ou outra notícia sobre o que se está produzindo no resto de nosso grande país.
No ano passado tive a oportunidade de ser júri no Prêmio Coca-Cola de Teatro Jovem, e de também ter participado do 1º Festival Infantil de Blumenau, onde assistimos durante uma semana a três espetáculos por dia, que eram, após a representação, debatidos com os criadores e os atores, e com a presença de públicos e elencos de várias cidades do país. Sem dúvida desta forma tivemos a oportunidade de ver tantos e tão diferentes espetáculos.
Poder sentir propostas, sensibilidades, dificuldades, soluções criativas, imaginativas, claras e também confusas, às vezes excessivamente lineares, e outras um tanto fechadas e até herméticas. Universos de expressão bastante sugestivas na motivação, principal relação e contato dos espetáculos com o público.
De todos esses contatos foi crescendo uma emocionada percepção…de quanto é importante para o público e para os artistas, a existência de um espaço teatral, independente de resultados, de salas adequadas, de frequência de público ou sucessos artísticos e econômicos.
Neste comentário surge a vontade de não citar “os melhores”, porque como jurado, e sobretudo “fazedor” de espetáculos, enxergo relatividades em todas essas conclusões. Quantos mereciam ainda ser premiados? É por aí as questões que me referia no começo, ainda o grande prêmio seria, sem dúvida, abrir e consolidar espaços de trabalho, tanto para artistas jovens emergentes, como para “velhos” na resistência e paixão desta linguagem.
Espaços que permitam ficar à vontade para sobreviver, mas sobretudo experimentar, deixar passar para o ritual poético do palco expressões que nem sempre, aparentemente serão fáceis para o “mercado”. Daí achamos que falar de um panorama não passa pelas temporadas estáveis, e pelas premiações que constituem uma festa, geralmente fraternal e afetiva.
Fazem falta festivais e amostras generosas, com muitos espetáculos simultâneos, em salas e espaços abertos, ao alcance de todo público. Debates, trocas com linguagens próximas, literatura, música, expressões visuais e de dança, e arte de rua e popular. Faz falta um anuário em que apareçam todos os espetáculos, com comentários, depoimentos, análises de linguagens. E no barômetro desta paixão e utopia as crianças e jovens, dos diferentes espaços sociais… ainda dos que aparentemente não tem teatro… e por isso são excluídos, porque onde tem crianças sempre é possível achar nos seus brinquedos e no se imaginário as raízes da nossa profissão de vida.
“… Fazem falta festivais e amostras generosas, com muitos espetáculos simultâneos, em salas e espaços abertos, ao alcance de todo o público…”
(*) Ilo Krugli é diretor, ator, autor, cenógrafo, figurinista, criador de bonecos e foi o fundador do Teatro Ventoforte em SP