Crítica publicada na Tribuna da Imprensa
Por Flávio Marinho – Rio de Janeiro – 19.07.1975
Um Caminho pela Metade
Prosseguindo e aprofundando a mesma linha estilística de Histórias de Lenços e Ventos – espetáculo que recebeu a difícil recomendação especial da Associação Carioca de Críticos Teatrais, – o grupo Ventoforte mostra seu novo trabalho, Da Metade do Caminho Ao País do Último Círculo na sala de Corpo e Som do Museu de Arte Moderna, numa jogada diferente: aos sábados e domingos à tarde, uma versão para crianças; de terça a domingo à noite, uma versão adaptada “para a psicologia adulta”. Acontece que a adaptação dita adulta parece inexistir. O pueril texto de Ilo Krugli não pode ser mais infantil e primário. Mal estruturado e desenvolvido, além de elementarmente dialogado, o texto apresenta uma troupe de circo numa constante viagem de paz e amor – algo assim como uma espécie de prolongamento de digamos Hoje é Dia de Rock.
Mas para piorar como contraponto crítico ao “pão e fantasia” reinante, o autor lamentavelmente elaborou um personagem “realista”, que também não é nada ajudado pela triste interpretação gritada de Pedro Veras. Dessa forma, mesmo boas ideias como a do país em que o rei obrigava todo mundo a dizer sim (quem dissesse não era preso e torturado) acabam ficando diluídas, de tão mal aproveitadas dentro do próprio texto.
Com um material dramatúrgico insustentável, a direção também de Ilo Krugli, tratou de cuidar da beleza formal do espetáculo – como, também, geralmente, fazia o grupo do Teatro Ipanema. O que, até certo ponto, foi conseguido. Plasticamente, no primeiro ato, há inspirados momentos que harmonizam, lindamente, luz, cor, cenário, figurinos, lenços e ventos. A atmosfera mágica pretendida é plenamente atingida em tons líricos e lúdicos, adensados pela simpática música de Beto Coimbra e Caíque Botkay. No segundo ato, porém, todo esse clima vai por água abaixo, um número de marionetes é forçosamente incluído e nunca chega a funcionar, o espetáculo se torna desnecessariamente longo, com a direção se mostrando indecisa em como chegar ao fim da viagem que levará os personagens ao país do último círculo. Os figurinos são coloridos e alegres enquanto o cenário permite uma certa inventiva por parte da direção. Do elenco irremediavelmente amadorístico salvam-se se a marcante máscara e misteriosa presença de Sílvia Heller e os fugidios instantes de Sílvia Aderne. Provando que o vento, afinal, não é tão forte assim, Da Metade do Caminho ao País do Último Círculo vem esclarecer que o grupo mal pôs o pé na estrada e tem muito caminho pela frente. Pois o espetáculo só é realmente positivo no primeiro ato. E somente em termos visuais. De resto, eles tentam fazer um teatro adulto, mas nem conseguem chegar à puberdade. Sem dúvida um caminho pela metade.