Matéria publicada em O Globo – Rio Show
Sem Identificação – Rio de Janeiro – 08.03.1985

Barra de Divisão - 45 cm

Beto e Teca, realismo alemão no palco

A temporada teatral infantil carioca de 85, que começou com Sapomorfose, estreia no fim de fevereiro, apresenta neste sábado dois novos espetáculos: Beto e Teca, no Planetário, e Milena Moreira e as fadas desencantadas, no Cândido Mendes. O primeiro representa a apresentação do teatro realista alemão às nossas plateias mais jovens. Milena Morena, segundo os realizadores, é um conto de fadas tropical. Beto e Teca, de Volker Ludwig, tem tradução e direção de Renato Icarahy, do Grupo Tapa, encabeçado por Eduardo Tolentino. Renato estreia profissionalmente na direção após ter montado recentemente com sucesso na escola Martins Pena, de que é professor, Conto de inverno, de Shakespeare. No Tapa tem colaborado como ator, tradutor, letrista e assistente de direção, papel delegado em Beto e Teca a Moacir Chaves, sua descoberta nas salas de aula. O elenco é composto por Hércules Saber Franco, Jairo Lourenço, Vera Regina (da Martins Pena e da Cal), Felipe Martins e Teresa Frota. A base do texto é a realidade do cotidiano.

Segundo Renato Icarahy, a peça levanta discussões e aponta caminhos. Na Alemanha é o teatro emancipatório. Lembra o teatro didático de Brecht e se relaciona com o de Augusto Boal, cujas vivências são retiradas de improvisações feitas nas ruas. Diz ele:

– A adaptação de Beto e Teca foi possível porque a discussão fica mais no nível psicológico do que no social. Os conflitos apresentados – dificuldades de relacionamento, medos noturnos e de solidão, o fascínio pela televisão são universais. Por seu caráter didático, deve agradar muito também a pais, psicólogos e professores, além do público a que se destina, pessoas com mais de cinco anos que, ao brincarem com seus fantasmas, assistindo a Beto e Teca, acabarão por exorcizá-los, como propõe o texto: “Sabe por que é bom brincar de fantasmas? Porque você não sente mais medo de escuro, já é fantasma…”

A história de Beto e Teca, dois irmãos que moram com a mãe, moderna, aberta e descasada, se entrelaça com a de Pedro, um solitário filho único que mora com o pai, a madrasta e seus quatro filhos. Antes do encontro, as crianças vivem num mundo adulto e ao se conhecerem reproduzem seus padrões de relacionamento.

A direção musical de Beto e Teca é de Nelsom Melim, um dos premiados com o Mambembe 84 por seu trabalho em Piaf. As partituras do original alemão tiveram a letra adaptada por Renato Icarahy.

Serviço:
As apresentações de Beto e Teca, no Teatro Planetário, serão aos sábados e domingos, às 16 horas; às sextas-feiras, às 15 horas. Maiores informações com Eduardo, telefone 267-6640.

Ficha Técnica:
Autor: Volker Ludwig; Tradução e direção: Renato Icarahy; Cenário: Ricardo Ferreira; Figurino: Lola Tolentino; Direção musical: Nelson Melim; Assistente de cenografia e adereços: Olinto Mendes de Sá; Assistente de direção: Moacir Chaves; Iluminação: Eduardo Tolentino de Araújo; produção executiva: Denise Weinberg; Elenco: Felipe Martins, Hércules Saber Franco, Jairo Lourenço, Teresa Frota e Vera Regina.