Na noite de 06 de abril, na Sala Baden Powell, foram entregues os troféus aos vencedores do Prêmio CBTIJ de Teatro para Crianças, aos melhores de 2014.
A cerimônia contou com a honrosa participação de:
Antonio Carlos Bernardes, do Conselho de Administração do CBTIJ, falou sobre a história e a participação de todos na entidade:
Em 1948, Lucia Benedetti, (mãe da cenógrafa e carnavalesca Rosa Magalhães), por encomenda, escreveu o que consideramos o primeiro texto de teatro infantil montado por profissionais e dirigidos ao público infantil. Foi uma sensação, sucesso de público e de critica. Com muitas matérias, páginas e páginas de divulgação em todos os jornais do Rio de Janeiro. Muitos outros espetáculos vieram a seguir, também com muito sucesso. Mas, já no inicio dos anos 50, ou seja, três ou quatro anos depois, um jornalista já falava em sua coluna, das dificuldades em se produzir espetáculos para crianças. Faltavam autores e principalmente apoio dos órgãos governamentais. Os anos passam, aparece Maria Clara Machado com seus textos e personagens marcantes. Mais tarde chega ao Rio, Ilo Krugli e introduz a poesia e o lirismo em suas montagens. Alguns anos se passam, aprendemos a produzir sem dinheiro, tendo a criatividade como ponta de lança. E aquela crise, falada nos anos 50, continuava. Entre os anos 80/90, tivemos um boom. Com o patrocínio da Coca-Cola assistimos a espetáculos memoráveis. Mas mesmo assim, o que se fala do teatro infantil é a falta de teatros, ou teatros que nos obrigavam a nos apresentar no proscênio, poucos refletores, imprensa diminuindo espaço, pouco apoio governamental, etc. Em função dessa eterna crise alguns diretores, produtores e atores resolveram criar uma entidade que nos ajudassem nessa briga.
Isso foi em 1995. E, este ano, em dezembro, o CBTIJ – Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e Juventude completará 20 anos de atividades. Manter uma entidade sem fins lucrativos, que vive de projetos e ações pontuais não é fácil.
Ao realizarmos as onze Mostras SESC CBTIJ de Teatro para Crianças, as quatro do SESI de Teatro Infantil, Boca de Cena, os Seminários Nacionais e o Internacional, tínhamos uma enorme procura de artistas que queriam se associar e participar de nossas atividades. Chegamos a mais de 600 associados.
Infelizmente, não por nossa culpa, as Mostras e Circuitos acabaram, por diferentes razões e naturalmente os artistas e produtores se afastaram.
Mas uma entidade não sobrevive sem a adesão daqueles que se propõe a servir. Assim convidamos, ou melhor, convocamos todos aqueles que trabalham em nossa área de atuação, para voltarem a se associar ao CBTIJ. É nesta união, que poderemos fazer uma entidade ainda mais forte. Tragam suas ideias, seus projetos, venham conversar, participem.
Hoje estamos em festa. Conseguimos criar o Prêmio CBTIJ de Teatro Infantil, ainda com recursos próprios, mas para continuarmos, temos que ter a adesão de todos. É claro que estamos correndo atrás de patrocínio, mas nós sabemos o quanto está difícil. È a famosa crise que se perpetua…
No último dia 20 de Março, comemoramos, o DIA MUNDIAL DO TEATRO PARA A INFÂNCIA E JUVENTUDE, data que a partir de 2008, através da Lei 10.722, conseguimos que o Congresso Nacional oficializasse o DIA NACIONAL DO TEATRO PARA A INFÂNCIA E JUVENTUDE. A partir de 2001, todos os anos, convidamos um artista para fazer nosso cartaz, e neste ano a artista plástica, e senhora de outros inúmeros talentos, Analu Prestes, foi quem criou nosso cartaz, a quem muito agradecemos e a quem peço um salva de palmas.
Por ultimo gostaria de lembrar de dois companheiros, que nos deixaram, mas que muito ajudaram na construção dessa entidade: Ine Baumann e Sérgio Miguel Braga.
E que venham outros vinte anos pela frente. Obrigado.
Ludoval Campos, do Conselho de Administração do CBTIJ fala da ASSITEJ e nosso vinculo com essa entidade internacional:
Boa noite a todas e todos, boa noite as crianças e crianços….
Disse a senhora mãe…
“Tiraram o sonho do meu filho. Eu fazia de tudo para ele ter um futuro bom. Aí vem a polícia e acaba com tudo. Ele sempre falava que queria ser bombeiro. Ele estudava o dia inteiro, participava de projeto na escola, só tirava notas boas. Por que fizeram isso com meu filho?”
Esse é parte do relato de Terezinha Maria de Jesus, 40 anos, mãe do menino Eduardo, 10 anos, morto há quatro dias na porta de casa, no Complexo do Alemão, aqui no Rio.
Por morar onde morava, é muito provável que o Eduardo não tenha tido nunca a oportunidade de assistir um espetáculo de teatro. Numa situação como essa nós nos perguntamos: qual a nossa responsabilidade diante desse fato? Qual é a realidade que nós retratamos no teatro feito hoje? Qual é o público com o qual buscamos estabelecer um diálogo possível?
Há mais de 10 anos a ASSITEJ – Associação Internacional de Teatro para a Infância e a Juventude – à qual o CBTIJ é associado, convida artistas de destaque a uma reflexão sobre o teatro para crianças e jovens, no Dia Mundial do Teatro para a Infância e a Juventude, comemorado no dia 20 de março.
Em 2004, Augusto Boal afirmou que “o bom cidadão não é aquele que apenas vive em sociedade, mas sim quem a transforma para torná-la melhor.”
Em 2005, Volker Ludwig, dramaturgo e diretor alemão, foi veemente ao dizer que “o teatro não pode salvar o mundo. Mas pode preencher os corações, os sentidos e a cabeça de nossas crianças e adolescentes, com a certeza de que o mundo pode mudar. E isso é alguma coisa pela qual vale a pena lutar.”
Em 2006, o diretor australiano Stefo Nantsou citou Dario Fo: “devemos continuar fazendo o que nos propomos quando começamos: atacar, com riso e razão, na música e no gesto, toda forma de opressão e injustiça.”
Ou como disse o professor e dramaturgo Penina Mlama, da Tanzânia, em 2007, “vamos pensar nas crianças e nos jovens em diferentes partes do mundo afetadas por conflitos armados e que estão, em campos de refugiados. Vamos pensar nos milhões de jovens tão imersos nas drogas que nem sabem o que se passa no mundo, quanto mais no teatro.”
Numa cidade conflagrada, que em 2015 assiste à morte do menino Eduardo, cabe perguntar qual o nosso fôlego para continuarmos atacando idealisticamente toda forma de opressão e injustiça.
Ou estamos cada um correndo por si, para se salvar, atrás de migalhas de apoios minguados, de editais viciados e de patrocínios superfaturados e para muito poucos?
Por que a nossa dificuldade em trabalharmos de forma associativa e colaborativa? Por que o esvaziamento de associações e de sindicatos?
Qual a nossa capacidade de indignação e de resistência diante da absurda notícia da aprovação da admissibilidade da PEC 171, que reduz a maioridade penal? OAB, CUT, CNBB, Conselho Federal de Psicologia, Fundação Abrinq, entre outras, tem se manifestado de forma contundente contra essa proposta. O que os profissionais do teatro para crianças e jovens têm a dizer sobre isso?
Há quase 20 anos um grupo de artistas e produtores idealistas mantem o CBTIJ ativo. Nos reunimos, discutimos o tipo que teatro que queremos, propomos projetos e ações, entre eles este Prêmio, confrontamos órgãos e instituições públicas e privadas. Por isso a presença de todos é tão importante, não só pela celebração, mas também pela provocação, e mais fundamental ainda é a participação, a proposição e o resgate da nossa capacidade de mobilização.
Também foram homenageadas duas artistas que muito contribuíram na história do teatro para crianças:
A primeira é uma brasileira natural de São Petersburgo. Em 18 de março de 1919, nascia Tatiana Belinky, uma das principais autoras de dramaturgia para crianças. Ela e seu marido, o diretor Julio Gouveia, criaram o grupo TESP – Teatro Escola de São Paulo e no final dos anos 40 e início dos 50, se apresentaram em todos os teatros da Prefeitura de São Paulo. O sucesso dessas apresentações levou os dois para a TV Tupi. Foi a primeira autora que adaptou O Sitio do Pica-pau Amarelo para a televisão. Criaram centenas de programas para a TV, em especiais dedicados à criança, adaptando todas as fábulas e histórias conhecidas. Foi coordenadora dos Cadernos da Juventude, onde textos teatrais foram publicados nas décadas de 70 e depois nos anos 90. Escreveu centenas de textos para teatro e recebeu inúmeros prêmios. Faleceu em 2013, aos 94 anos.
A segunda, é uma “Carioca”, que nasceu em Taubaté, São Paulo, em 14 de junho de 1935. Educadora, rebelde, sempre foi contra os padrões tradicionais de ensino. Em 1962, viu pela primeira vez um espetáculo de bonecos, dos mestres Ilo Krugli e Pedro Dominguez, e se apaixonou. Resolveu que esse era o tipo de teatro que faria pelo resto de sua vida. Criou o Grupo Navegando. Juntou um grupo de jovens, que hoje são atores e atrizes reconhecidos nacionalmente. Em seguida criou a NAU – Núcleo de Arte da Urca, e seus criativos espetáculos foram sendo reconhecidos e ganhando muitos, muitos prêmios. O teatro de Lucia Coelho levou aos palcos novas temáticas, novas estéticas e novas paixões. Faleceu em 2014, aos 79 anos.
A estas duas mulheres, artistas criativas e empreendedoras, que amavam a arte que faziam, e sobretudo amavam as crianças, nosso carinho…
Veja as fotos do coquetel de confraternização