Programa do espetáculo que estreou no Teatro do Jóquei em 30 de novembro de 2002

Fotos: Simone Rodrigues

Barra

(INFORMAÇÕES DO PROGRAMA)

(Capa)

Prefeitura do Rio apresenta

O VELHO DA HORTA

Um espetáculo da Cia. Pequod Teatro de Animação

(Verso da Capa)

Gil Vicente – 500 anos

O ano de 2002 marcou os 500 anos da obra de Gil Vicente, que se iniciou em 1502 com O Auto da Visitação ou O Monólogo do Vaqueiro, homenagem ao futuro rei D. João III.

O Velho da Horta foi representado pela primeira vez ao mui sereníssimo rei D. Manuel, o primeiro deste nome, em 1512.

(Página 01)

Foi buscando estimular e desenvolver o Teatro de Animação do Rio de Janeiro que o RIOARTE e a Secretaria Municipal de Cultura decidiram criar a Coordenação de Teatro de Bonecos e de Animação. Além de programar representantes desta arte em diferentes Teatros da cidade, de realizar uma Mostra Internacional de Teatro de Animação de grande êxito, de realizar Oficinas, de organizar uma exposição e de apoiar instituições e grupos ligados às Artes do Boneco, a Coordenação ganhou do RIOARTE o papel de selecionar grupos e projetos que pudessem ser patrocinados em sua criação. Por sua oportunidade e consistência, o espetáculo O Velho da Horta foi um dos merecedores deste patrocínio. No ano doa 500 anos de Gil Vicente, uma das pedras fundamentais do Teatro em língua portuguesa, O Velho da Horta tem, ainda, o mérito de levar o autor ao conhecimento das crianças e jovens, com toda a riqueza plástica e técnica de um Teatro de Bonecos da maior qualidade. Mais do que isto, esperamos que o patrocínio à criação deste novo espetáculo consolide a existência de um Grupo que, por sua seriedade, empenho e garra, vem-se constituindo um dos maiores expoentes do Teatro de Animação do país.

                                                                Luiz André Cherubini – Coordenador de Teatro de Bonecos e de Animação

(Páginas 02 e 03)

O Espetáculo

Quando nos surgiu a ideia de montar uma peça de Gil Vicente, em virtude dos 500 anos de seu primeiro trabalho para os palcos, vimos que seria a chance de montar, do “nosso jeito”, um texto clássico. Das 15 obras que lemos do autor português, foi justamente a última, O Velho da Horta, que veio ao encontro de nossos moldes, ambições e custos: uma peça raramente montada, com poucos personagens e um humor bastante atual.

Um atrativo especialmente interessante da peça era o tema do amor desmedido e suas consequências, já enfocado de modo irônico em nosso primeiro espetáculo, Sangue Bom. A impressão era de que os diálogos inexistentes no trabalho anterior da companhia estavam escondidos há muito nesta graciosa comédia quinhentista.

Recriar o ambiente do Velho, reproduzindo a horta em miniatura, era um desafio e tanto. Não menos complexa foi a tarefa de tornar o texto inteligível aos ouvidos de agora, passando ao largo das empolações medievais e das notas de rodapé. Após várias adaptações, estão lá a picardia e os versos característicos de Gil Vicente, prontos para a nossa cena com bonecos.

Falar de amor sem medida pode parecer tolo numa era que clama por objetividade. Mas o amor deixou de ser importante? Pelo contrário, vivemos num mundo pequeno demais, globalizado demais e, no entanto, sentimo-nos cada vez mais sozinhos. A complexidade deste sentimento continua a dificultar sua compressão plena. Vêm daí tantos enganos, tropeços e quedas.

A farsa O Velho da Horta, escrita em 1512, já insinua esta falta de compreensão, que causou tamanha dor ao protagonista. Encená-la para os jovens deste século não é simples, pois é preciso atenção redobrada. O nosso esforço é para que se entenda desde cedo que o amor, ainda que cego, é capaz de nos tornar seres humanos muito melhores.

Gil Vicente escreveu cerca de 46 obras para o palco entre 1502 e 1536. Sua produção compõe-se de vários gêneros teatrais, como os autos (ligados à temática religiosa, moralidades e episódios pastoris), o teatro romanesco (ligado aos temas de cavalaria), as fantasias alegóricas (originadas nas festas de momos da Idade Média) e as farsas (episódios em que os tipos sobressaem em detrimento da trama). O Velho da Horta é um dos mais graciosos exemplos desta categoria.

(Página 04)

Gil Vicente proferiu em 1531 um veemente sermão aos religiosos da cidade de Santarém, censurando-os por explicarem um terremoto que abalou Portugal naquele ano como castigo contra a falta de fé dos cristãos-novos.

O nome Pequod vem do romance Moby Dick: é a embarcação que sai em busca da baleia que dá título ao livro. Herman Melville, o autor, fez uma homenagem ao nome de uma tribo de índios da América do Norte que foi exterminada com a colonização europeia.

(Página 05)

Pouco se sabe sobre Gil Vicente. Há quem diga que, além de dramaturgo, foi ourives, tendo feito a famosa Custódia de Belém, obra-prima da arte decorativa manuelina e que hoje está exposta no Museu das Janelas Verdes, em Lisboa.

Porque, quanto mais é graciosa, Mais amável é sua crueza.
E vimos singularmente
Fazer representações
De estilo mui eloquente,
De mui novas invenções,
E feitos por Gil Vicente;
Ele foi o que inventou
Isto cá, e o usou
Com mais graça e mais
doutrina
Posto que Juan Del Encima
O pastoril começou.
Garcia de Resende, cronista de D João II

(Páginas 06 e 07 – Fotos de cena dos espetáculo Sangue Bom, 199 e Noite Feliz, 2001)

A última peça de Gil Vicente, Floresta de Enganos, foi escrita em 1536 e coincide com a censura de seus textos pela Inquisição. A publicação de sua obra só se deu muitos anos depois, graças a seu filho, Luís Vicente, que a reuniu e organizou.

A Cia. Pequod

O PeQuod  nasceu de uma  oficina realizada pelo Grupo Sobrevento em 1999 que originou o espetáculo Sangue Bom. Entre seus participantes, reunidos por Miguel Vellinho, cresceu a vontade de continuar juntos. O grupo acabou ganhando cara própria e montando um repertório que conquistaria reconhecimento nacional. Os aplausos e elogios a Sangue Bom foram decisivos para a criação desta companhia. A peça tem sido destaque nos mais importantes festivais do país, até mesmo naqueles com programação hegemonicamente composta por espetáculos só com atores. Foi assim em Belo Horizonte, Curitiba, Canela, Porto Alegre e São José do Rio Preto.

Se em Sangue Bom nossa pesquisa ateve-se às possibilidades de junção da linguagem do cinema com a do teatro de bonecos, usando uma trama vampiresca, no trabalho seguinte nossa atenção voltou-se para o teatro musicado: Noite Feliz – Um Auto de Natal, encenado pela primeira vez em 2001, recriou a história de Jesus, Maria e José com músicos e cantores de verdade. Foi a estreia oficial da nova companhia, que, além de Vellinho, conta com Mariane Gutierrez e Márcio Newlands, todos empenhados em rever os conceitos do teatro de animação, explorando e ampliando as possibilidades do espaço teatral.

Em O Velho da Horta, deparamo-nos pela primeira vez com um texto pré-existente. Trabalhar as intenções de Gil Vicente para torná-lo próximo ao público de hoje foi um prazer e uma responsabilidade enormes.

A Lisboa vicentina era a maior cidade da Península Ibérica e uma das maiores da Europa, com 60 mil habitantes.

(Página 08)

Elenco

Mariane Gutierrez
Márcio Newlands
Márcio Nascimento
Cleber de Oliveira

Músicos
Maurício Durão (teclado)
Eduardo Camenietzki (violão)
Kleber Vogel (violino)

Ficha Técnica

Direção: Miguel Vellinho
Adaptação de: Rosita Silveirinha, Márcio Newlands e Miguel Vellinho
Cenografia: Carlos Alberto Nunes
Figurino: Kika de Medina
Direção Musical: Maurício Durão
Iluminação: Renato Machado
Confecção dos Bonecos e Adereços: Mariane Gutierrez, Márcio Newlands e Miguel Vellinho
Esculturas: Bernardo Macedo
Assistência Teórica: Rosita Silveirinha
Programação Visual: Ato Gráfico / Hannah & Marcos Corrêa
Fotos: Simone Rodrigues
Divulgação: Mariane Gutierrez
Cenotécnica: Arapuã
Costureira: Atelier Adélia Andrade
Alfaiate: Macedo Leal
Produção Executiva: Marcelo Fonseca
Direção de Produção e Assistência de Direção: Márcio Newlands

(Página 09)

Português ou espanhol? Gil Vicente escreveu uma peça em espanhol, 29 peças em português e 16 usando os dois idiomas.

Visite a pagina do grupo: www.ciapequod.com

Quem me dera tivesse o seu vigor,
Para não sentir tanta praga
Do fogo que não se apaga
Nem acalma tanta dor!
Hei de morrer.
De amor.

(Página 10)

Agradecimentos

Adolfo Rosenthal, Alberto Benzecry, Alexandre Santos, Alvaro Assad, Ana Cristina Rizzato, Angela Pecego, Angela Vieira, Beti Rabetti, Bruno Barreto, Carla Brito, Carla Torres, Celine Jars de Oliveira, Cláudia Bittencourt, Cláudia Lúcia-MNBA, Cleonice Berardinelli, Colmar Diniz, Edna Irlene, Enzo Cali, Fábio Ferreira, Fabrício Coimbra, Fidelys Fraga, Fernando Sant’Anna, Gilda Santos, Gisélia Martins, Helena Vieira, Iara Amado-MNBA, Joizy de Almeida, Karen Acioly, Kleber Vogel, Léo Bezerra, Luís Filipe de Castro Mendes, Luiz André Cherubini, Manuel Faria Barroso, Madalena Nery, Márcia Marques, Márcia M. Minuscoli, Maria Helena Nunes, Maria Magdalena Ramos, Maria Teresa Gutierrez, Maria do Socorro Santos de Carvalho, Mário Piragibe, Milene Gutierrez, Nanci M.B. Minuscoli, Nilson Gutierrez, Raymundo Pesini, Real Gabinete Português de Leitura, Regina Vieira, Renata Del Giúdice, Roberta Rangel, Sandra Vargas, Sylvia Ramos, Valéria Seabra.

Os tipos apresentados na obra vicentina abrangem a totalidade do corpo social da época, evidenciando um realismo muito objetivo e uma análise psicológica do coletivo, bastante incomum até então.

(Verso da Última Capa – Anúncio: Werner)

(Última Capa)

Aquele que vive penando
Só porque é amado
Vive como todo amador.
Mas que fará o desamado,
Ao se ver desamparado,
Amando sem ter amor?