Convite do espetáculo que estreou no dia 08.03.2002, no Teatro Miguel Falabella

Programa, 2002

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(INFORMAÇÕES DO PROGRAMA) 

(Capa)

Companhia de Teatro Atores de Laura
apresenta
a comédia

AS ARTIMANHAS DE SCAPINO

De Molière

tradução de Carlos Drummond de Andrade
Direção Daniel Herz

(Verso da Capa)

Companhia de Teatro Atores de Laura

A Companhia se formou na Casa de Cultura Laura Alvim sob a direção de Daniel Herz e Susanna Kruger

1992/933 – A Entrevista, de Bruno Levinson e Daniel Herz

1994 – Cartão de Embarque, de Bruno Levinson e Daniel Herz. Indicada em duas categorias
do Prêmio Coca-Cola de Teatro Jovem – 1994 (melhor texto e melhor direção)

1995 – Sonhos Shakesperianos de Uma Noite de Inverno ou Juliet’s Birthday, espetáculo itinerante no qual 50 cenas de peças de Shakespeare foram representadas por todas as instalações da Casa de Cultura Laura Alvim, encerrando o Fórum Shakespeare na cidade do Rio de Janeiro.

1995- 99 – Romeu e Isolda, criação coletiva. Prêmio Shell 1995 de melhor iluminação (Aurélio de Simoni), cinco indicações para o Prêmio Coca-Cola de Teatro Jovem – 1995 recebendo o de melhor direção (Susanna Kruger e Daniel Herz), e cinco indicações para o Prêmio Cantão de Teatro Adolescente, 1995 recebendo o de melhor espetáculo e de melhor atriz (Ana Paula Secco). O espetáculo representou o Brasil na Biennale Theatre Jeunes Publics – Lyon / França, 1997)

1996-97 – Decote, criação coletiva inspirada na obra de Nelson Rodrigues. Prêmio Coca-Cola de Teatro Jovem – 1996, nas categorias: melhor texto, melhor direção (Susanna Kruger e Daniel Herz) e melhor espetáculo

1998 – O Julgamento, adaptação de Daniel Herz do texto A Visita da Velha Senhora

1998/1999 – A Casa Bem Assombrada, de Susanna Kruger. Primeiro espetáculo infantil da Companhia. Indicação para o Prêmio Coca-Cola de Teatro Jovem – 1998, na categoria especial, pelo trabalho das atrizes Ilan, Milena e Renata Pogrebinschi

Circulo de Giz Caucasiano, de Bertold Brecht. Parte do ciclo de leituras de peças de Brechet promovido pelo grupo “Os Privilegiados”, no Teatro Dulcina, Rio

Chiquinha Gonzaga. Minisérie da TV Globo. A Companhia foi convidada para interpretar uma companhia de teatro da época que contava, teatralmente a história da maestrina.

O Mundo não me Quis, drama de A. Peres Filho. Projeto “Melodrama de Picadeira” leituras dramatizadas de peças circenses dos anos 40 e 50 da Fundação Calouste Gulbenkian

1999 – Auto da Índia ou Arabutã, criação coletiva com roteiro e dramaturgia de Daniel Herz. Criada especialmente para o projeto “Coração dos Outros – Saravá Mário de Andrade”, a convite do SESC São Paulo

1999 – As Rosas de Nossa Senhora, de Celestino Silva. Projeto “Melodramas do Picadeiro” , leituras dramatizadas de peças circenses dos anos 40e 50 da Fundação Calouste Gulbenkian.

1999/2000 – A Flauta Mágica, adaptação para o teatro infantil, de Celso Lemos e Antonio Monteiro Guimarães, da ópera homônima de Wolfgang Amadeus Mozart. Prêmio Coca-Cola de Teatro – 1999, nas categorias melhor iluminação (Aurélio de Simoni), atriz revelação (Helena Stewart), melhor produção e melhor espetáculo infantil. Participou na mostra oficial do 9º festival de Teatro de Curitiba (2000).

2000 – A Companhia de Teatro Atores de Laura assume a direção artística do Teatro Miguel Falabella e reestreia Auto da Índia ou Arabutã

Livros Publicados

A Entrevista seguida de Cartão de Embarque, editora Relume Dumarã, 1994 e
Decote seguida de Romeu e Isolda, Garamond Editora, 1977

(Página 01)

Por que encenar hoje As Artimanhas de Scapino, de Molière

Essa foi a pergunta que tive de fazer a Daniel Herz quando ele me falou deste projeto, que à primeira vista, pode parecer um tanto convencional.

Scapino é uma das personagens mais conhecidas da comédia italiana: um criado esperto, ardiloso, cheio de manhas, que evolui numa sociedade rigidamente estratificada, dominada pela aristocracia, ela própria regida pela toda poderosa autoridade paterna. Scapino evolui neste mundo beirando suas margens: ele rouba, trai, teve complicações com a Justiça. É um “mal sujeito”. Tem a liberdade daquele que incendiou as pontes que ligavam à autoridade e à lei.

No universo da peça de Molière, em que os filhos de família são submissos, estão petrificados pelas convenções e pelo medo, Scapino é o único que se dá o direito de sair da linha de enganar, de valer-se de ardis e romper com as regras do “politicamente correto” para se pôr a serviço do que sempre escapa a toda a convenção: o desejo, o amor, a voz da natureza, que as mordaças de uma sociedade que multiplica os casamentos arranjados pelos pais bem gostariam de sufocar. Porque vive nas margens, Scapino se dá o direito de pensar a agir.

Personagem revolucionária? Não ainda. Será preciso pouco mais de um século para que venha a nascer, da pena de Beaumarchais, a personagem de Fígaro, que servirá a seus próprios interesses de plebeu em face de uma aristocracia cujo poder arbitrário ele denuncia. Scapino contentar-se-a com servir os interesses de seus jovens amos, Leandro e Otávio, os quais não hesitarão em abandoná-lo assim que veem seus casamentos garantidos.

Personagem ambígua? Decerto Scapino, Scapino, a um só tempo, está fora da lei e trabalha em favor do bem-estar de seus senhores. Põe-se a serviço da harmonia dos corações e sem cessar trás para a cena a ruptura, quando não o sarcasmo. Desenganado de tudo, de todas as ilusões e de todas as hipocrisias do comportamento humano, abandonando-se ao prazer do exercício da inteligência e da criação de estratagemas pelo puro prazer do jogo, pelo prazer de dominar – nem que seja só o tempo de uma pirueta – aquele universo social da França de séc. XVIII que permanentemente o exclui. O nome “Scapino” vem do italiano scappare, que significa “escapar”. Inagarrável, Scapino é animado por um movimento perpétuo; vive apenas do instante, do júbilo, efêmero, da enganação e da denúncia: denúncia do depotismo dos pais, de sua avareza e de sua hipocrisia; denúncia, do egoísmo dos filhos que só veem seus interesses imediatos e são incapazes de demonstrar reconhecimento diante de um inferior; denúncia de uma sociedade desigual e injusta, da qual, talvez até sem o saber, Scapino revela os interditos, não-ditos e as hipocrisias.

E nisso, Scapino é uma personagem decididamente da commedia dell’arte (gestual – ritmo – composição de personagem), mas sabendo libertar-se dessa tradição para traduzi-la numa linguagem que só a ele pertence e aos Atores de Laura. Gerôncio parece sair diretamente da história em quadrinhos de Hergé “Tintim no Tibet”, ao passo que Argante parece ter fugido da tela de um desenho animado japonês. Guardando a referência à comédia italiana que Molière tanto apreciava, a direção do espetáculo busca explorar todos os recursos de nosso imaginário.

Valérie Balden-Labastie

(Páginas 02 e 03 – Fotos elenco)

As Artimanhas de Scapino

de Molière

Elenco

Anderson Mello: Argante
Charles Fricks: Scapino
João Marcelo Pallottino: Otávio
Leandro Castilho: Leandro
Susanna Kruger: Zerbineta
Márcio Fonseca: Silvestre
Paulo Hamilton: Gerôncio
Raphaela Cotrim: Nerina
Val Elias: Carlos
Vanessa Dantas: Jacinta

(Página 04)

Ficha Técnica

Direção: Daniel Herz
Tradução: Carlos Drummond de Andrade
Iluminação: Aurélio de Simoni
Cenário: Ronald Teixeira
Figurino: Heloisa Frederico
Orientação Corporal: Marcia Rubin
Direção Musical: Carlos Cardoso
Produção Executiva: Daiany Soares

Programação Visual: Anderson Mello e Rodrigo Azevedo
Fotografias: Taquel Halpern
Diretora Assistente: Maíra Graber
Cenógrafo Assistente: George Bravo
Figurinista Assistente: Lili Teixeira
Produtores Assistentes: Márcio Fonseca
Assessoria de Projeto:Márcia Dias

(Verso da Última Capa)

Rigor e Irreverência

Rigor dos ensaios.
Irreverência de Molière.
Rigor nos aquecimentos.
Irreverência da comédia.
Rigor de todo dia de manhã estar nos ensaios pleno de disposição.
Irreverência de lidar com os imprevistos do cotidiano fazendo com que se tornem alimento para a comédia.
Rigor no despojamento do cenário de Ronald.
Irreverência de um espaço cênico sem o enquadramento do palco italiano.
Rigor na atenção que os atores que não estão em cena, por estarem em cena, passam a ter sobre a cena.
Irreverência de sempre estarem sendo vistos pelo público os atores que veem o que o público vê.
Rigor de estar quase dez anos em companhia de um grupo que se renova e se mantém por valores que levam à cena um corpo naturalista.
Irreverência em receber o acaso de uma marca como uma dádiva dionisíaca.
Rigor na construção das marcas.
Irreverência na alegria com que ganham a vida.
rigor do ensaio para gravar a luz.
Irreverência de mais uma história cheia de sono que o Aurélio sempre conta.
Rigor na produção com a entrada de Ronaldo Cerrone para os Atores de Laura.
Irreverência no produtor mais bem-humorado que conheci.
Rigor, sem pudor, rever cada momento com Carlos Cardoso.
Irreverência simplificada da falsa antipatia do diretor musical.
Rigor do curso do Grupo Moitará sobre a Commedia Dell’Arte.
Irreverência do trabalho leve de Márcia Rubin, amiga de longa data.
Rigor do detalhe com que Heloisa Frederico constrói cada centímetro de pano.
Irreverência da tranquila simplicidade com que reverencia a época.
Rigor das observações de Valérie.
Irreverência de espírito no texto maravilhoso que escreveu para nosso programa

Rigor e irreverência de pela primeira vez ensaiar os Atores de Laura sem Susanna, grande parceira de trajetória e construção de cada dia, cada peça, cada estreia.
Rigor e irreverência em descobrir que essas duas palavras podem contracenar nos ensaios de um espetáculo. E essa descoberta devo a um grupo de atores sem igual, rigorosos no trabalho e irreverentes na cena.

Rio, 26 de fevereiro de 2002

Daniel Herz

(Última Capa)

Apoio

(Logos) Casa da Suíça, Makeup, Estácio, Teatro Miguel Falabella, Werner Tecidos, Consulat General de France – Rio de Janeiro, Raajmahal, Yasuto Tanaka, Lunetterie, DeMillus, Rodovfly, Dantelle, Clube das Flores, Gallery Ipanema, Dantelli, Lavi Vila, Bhiroska, Miguel Imóveis, Norte Shopping, Lidador

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Obs.
Este espetáculo recebeu o Prêmio Shell de Melhor Figurino