Programa, 1998

Convite de estreia do espetáculo em 10 de outubro de 1998

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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(INFORMAÇÕES DO PROGRAMA) 

(Capa) 

SETE CORAÇÕES – POESIA RASGADA

Poemas de Frederico Garcia Lorca
Traduções e poemas de Ilo Krugli

(Página 01) 

Sete Corações 
F. G. Lorca

Sete corações
Tenho
Mas não acho o meu.

No alto da serra, mãe.
Tropeçávamos eu e o vento.
Sete meninas de longas mãos
me levaram em seus espelhos.

Já cantei pelo mundo

na minha na boca de sete pétalas
meus navios de amaranto
iam sem cordas e sem remos.

Já vivi as paisagens
de outras gentes, meus segredos
em volta da minha garganta,
sem me dar conta! iam abertos.
No alto da serra, mãe
(meu coração sobre os ecos dentro do álbum de uma estrela)
tropeçávamos eu e o vento.

Sete corações
Tenho
Mas não acho o meu.

(Página 02) 

Da Rosa 
F. G. Lorca

A rosa
não procurava a aurora:
quase eterna em seu ramo,
procurava outra coisa.

A rosa
não buscava nem ciência nem sombra:
confins de carne e sonho,
buscava outra coisa.

A rosa
não procurava a rosa.
Imóvel lá no céu
procurava outra coisa.

Romance Sonâmbulo
F. G. Lorca

Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramas.
O barco vai sobre o mar
e o cavalo na montanha.
Com a sombra na cintura
ela sonha na varanda,
verde carne, tranças verdes,
com olhos de fria prata.
Verde que te quero verde.
Por sobre a lua cigana
as coisas a estão mirando
e ela não pode mirá-las.

(Página 03) 

Romance da Lua Lua 
F. G. Lorca

Pelo olival vinham
bronze e sonho, os ciganos
as cabeças levantadas e os olhos semicerrados

Romance da Guarda Civil 
F. G. Lorca

Quando chegava a noite
Noite, que noite noitera!
Os ciganos nas suas forjas
Forjavam sois e setas.

A Lua
F. G. Lorca e Ilo Krugli

A Lua é um pão para os pobres,
e um tamborete de cetim redondo para os ricos.
Quem quer sentar num pão! numa cadeirinha!
ou num sapato que virou barco
por amor a um peixe.

(Página 04) 

Eu
F. G. Lorca

Encheu-se de luzes
meu coração de seda,
de sinos perdidos,
de lírios e de abelhas,
e eu irei muito longe,
além dessas serras,
além dos mares,
perto das estrelas,
para pedir a Deus
Senhor que me devolva
minha alma antiga de menino,
madura de lendas,
com o gorro de plumas
e o sabre de madeira.

Balada da Pracinha 
F. G. Lorca

Bebe, bebe, bebe a água tranquila
da canção velha.
Riacho claro, fonte serena.
Por que vais tão longe na pracinha?

Vou em busca de magos e princesas!
Ah! Passarinho de papel!
Águia dos meninos
com as plumas de letras
sem pombo e sem ninho.

Flor de jasmim,
touro degolado.
Se o céu fosse um menino pequenino,
o jasmim teria metade da noite escura
e o touro, circo azul sem lidadores
e um coração ao pé de uma coluna.

(Página 05)

Búzio 
F. G. Lorca

Trouxeram-me um búzio.
Dentro dele canta
um mar de mapa.
Meu coração
se enche de água
com peixinhos
de sombra e prata.
Trouxeram-me um búzio.

O Lagarto está Chorando 
F. G. Lorca

O lagarto está chorando.
A lagarta está chorando.
O lagarto e a lagarta
com aventaizinhos brancos.
Perderam sem querer
seu anel de casamento.
Ai, seu anelzinho de chumbo,
ai, seu anelzinho chumbado.
O sol, capitão redondo,
veste um uniforme de soldado raso.
Olhai-os como são velhos!
como são velhos os lagartos!
Ai, como choram e choram,
ai! ai! como estão chorando!

(Página 06 – Partitura) 

Vinte e Quatro Bofetadas 
Poesia de F.G. Lorca
Música de João Poletto

(Página 07) 

Canto do Cigano
F. G. Lorca

Lua, lua, lua
do tempo da azeitona
No verão desenha a torre,
no Inverno ela esconde.

Lua, lua, lua
um galo canta na lua
Seu Prefeito, suas meninas
estão olhando para a lua.

Cantigas 
(anônimo popular – Minas)

Está caindo flô
está caindo flô
oi lá no céu
oi lá na terra
o le lê está caindo flô
Pia pia
Pia, piou
pia por cima
pia por baixo
Minha mãe me disse assim
minha mãe me disse assim
Só sabe como começa
não sabe como é o fim

Era uma vez 

Ilo Krugli

Era uma vez
seria uma vez
o dia amanhã vai nascer
a noite ontem se escondeu

Do peixe de prata
que inventou a água
no rio da lembrança
onde o espelho vai nadar

Na lua sem mãos
que o barco beijou
na flor da fome
que vai comer o pão…

(Última Capa) 

Sete Corações Poesia Rasgada

De Federico Garcia Lorca e Ilo Krugli

Elenco

Atores e Músicos
Andréa Cavinato
Claudio Cabrera
Eliane Weinfurter
Dinho Lima
Flavia Cunha
Ilo Krugli
Lauro Castañaga
Marcos Coin
Marilda Alface
Paulo da Rosa
Renato Vidal

Ficha Técnica

Tradução e Adaptação: Ilo Krugli
Cenografia e Figurino: Ilo Krugli
Realização de Figurino: Ana Maria de Carvalho
Direção Musical: João Polleta
Dança e Movimento: Maílda Alface
Iluminação e Espaço Cênico Roberto Mello
Realização Artesanal: Claudio Cabreza, Paulo André e elenco
Direção Geral: Ilo Krugli
Coordenação de Produção: Neuza Andrade, Renata Allucci, Roberto Mello
Apoio de Produção: Antônio Luiz, Daniel Lima, Daurilene Almeida, Ivone Alves, Rogério Sallum
Produção: Casa Ventoforte Centro de Arte Cultura

Quase no final do espetáculo, o público se mistura e improvisa junto aos atores. Daí surge uma frase apaixonada e emocionante de uma criança de uns 8 anos, brigando com os guardas:

“Vocês não vão poder fuzilar todos os poetas, porque não se pode matar os poetas que ainda não nasceram”.

Teatro Ventoforte
Temporada: 10 Outubro à 13 de Dezembro de 1998.