Programa do espetáculo que estreou no Espaço Cultural Sérgio Porto, em 06.12.1996 e no Teatro SESC Anchieta em 21.03.1997

Foto: Ricardo Fasanello

Barra

Foto: Rodrigo Lopes

Foto: José Roberto Lobato

Foto: José Roberto Lobato

Barra

(INFORMAÇÕES DO PROGRAMA)

(Capa)

Prefeitura do Rio de Janeiro
apresenta

Grupo Sobrevento

UBU

de Alfred Jarry

100 Anos de estreia da peça Ubu Rei
10 anos do Grupo Sobrevento

(Verso da Capa)

Não teremos demolido tudo se não demolirmos inclusive as ruínas.

E não vejo maneira melhor de fazê-lo que construindo com elas estruturas muito bem ordenadas.

                                                                                                                                            Alfred Jarry

(Página 01)

Ei-lo

De novo, eis aqui o nosso pescoço. Teria sido mais fácil acomodar-nos à segurança daquilo que já deu certo, a manipulação Bunraku que desenvolvemos durante anos e que é sempre tão surpreendente, ao lirismo de nossos espetáculos infantis, à ingenuidade e delicadeza de nosso Teatro de Brinquedo. Poderíamos comemorar nossos dez anos com um acerto garantido. Mas decidimos agarrar o bicho a unha e preferimos ser atropelados por esta jamanta a esperar, na rede, a mucama trazer o bifinho bem passado.

É claro que o Teatro em nossa cidade está muito chato, Mas, para quem está atento, está melhorando. Vai melhorar ainda mais. O problema é que o mundo se transforma com o passar do tempo e o Teatro que é negócio, pobrezinho, demora um pouco a assimilar isto. Estamos certos de que o museu vivo que temos visto nos palcos o tempo todo é mais fruto do medo de não ganhar dinheiro que de pobreza de espírito. Que faça bom proveito do público que diz que de triste já basta a vida e que quando a gente vai ao Teatro a gente quer mesmo é se divertir.

Parafraseando Jarry, teria sido fácil alterar Ubu para adaptá-la ao gosto do público, descobrindo o rosto dos atores, usando um figurino mais engraçadinho, falando menos palavrão, trocando a banda de heavy-metal por um quarteto de cordas, substituindo a palavra de abertura por argh, colocando em cena uma atriz de TV nua e, sobretudo, sendo mais politicamente coreto. O problema é que, deste modo, tudo ficaria muito mais obsceno.

(Páginas 02 e 03)

Nosso Ubu

10 anos de Sobrevento
100 anos de Ubu Rei

Há dez anos, remexemos tudo aquilo que os bonecos têm feito por todas as épocas e em todos os cantos do mundo. Da longa tradição do Teatro de Bonecos, porém, não queremos mais do que o que fale do hoje à gente de hoje. E dos bonecos, só aquilo que é Teatro.

Há dez anos, fazemos, mostramos, trazemos, estudamos, ensinamos, discutimos, vemos e falamos de um Teatro que é, mais do que de Bonecos , mais do que de Animação, um Teatro livre. Livre de quaisquer amarras. Que pode ser Dança, Artes Plásticas, Música. Que pode ser simplesmente um encontro. Que pode tudo o que quiser. Como toda Arte.

Um Conto de Hoffmann, Mozart Moments, Beckett, O Theatro de Brinquedo: em nossas montagens, fazemos questão de fugir da fórmula, do que nos é cômodo e conhecido. Tentamos fazer das dificuldades o nosso pão. E impomo-nos todos os riscos que nos ocorrem, explorando novos espaços, mirando novos públicos, desenvolvendo novas técnicas, trabalhando novas temáticas, experimentando novos materiais, fazendo com que cada espetáculo seu seja completamente diferente do anterior.

Não precisamos de muito. Insistimos em fazer o que gostamos de fazer e estamos certos de que nossa teimosia tem ajudado, dentro de nossos limites, a desenvolver um pouco de dignidade ao Teatro de Bonecos. Nosso sonho é que, junto à obstinação e ao esforço daqueles que comungam da mesma paixão, possamos provar que o Teatro e o Teatro de Animação são muito maiores, mais ricos e mais diversos do que nós mesmos podemos imaginar.

Nosso Ubu! é uma tentativa de pôr em prática o conceito de supermarionete, formulado por Edward Gordon Craig, um dos maiores teóricos do Teatro. O ator deixa de ser uma vedete e passa a ser integrante de um jogo cujo centro é o texto ou a encenação. Com o seu corpo e o seu caráter humanos deformados, o ator passa a ser uma marionete gigante, reduzindo os personagens a esquemas e repudiando o realismo e a psicologia

Esta transformação do ator em marionete dá-se da mesma forma que no Teatro clássico japonês Kabuki, onde o ator imita a voz e os gestos do Teatro de Bonecos Bunraku. Como estamos no Brasil e somos índios, antropofagizamos o Kabuki. Ao molho pardo, porque somos pretos. Acompanhado de Heavy-Metal, Rabelais, Miró e Klee. Em nosso estômago, misturam-se os movimentos Punk e Antropofágico. Os Teatros do Absurdo, da Crueldade e de Objetos, O Naif e o Suprematismo, O Grand Guignol, a Dança e o Mamulengo, Atores e Bonecos giram na nossa cabeça muita imagens e, para tentar resolve-las, fizemos Ubu!.

E o que foi que nós fizemos: qual um Pai Ubu, cortamos, picotamos, estraçalhamos o texto original! A ele, colamos cenas de nossa autoria. Tiramos tudo o que nos parecia cenas de passagem. Por quê? Porque o mundo mudou, em cem anos. Porque o Teatro, depois de Artaud, Beckett e Kantor, não pode mais ser o mesmo. Porque assim é Ubu e assim era Jarry.  E porque nos pareceu mais divertido.

 (Página 04)

Há cem anos atrás, no dia 10 de dezembro de 1896, Ubu subiu ao palco do Thêatre de L’Oeuvre, em Paris, e gritou: “Merdra!”. Por causa disto, não houve apenas quinze minutos de tumulto na plateia, houve cem anos de mudanças no teatro.

Escrita quando Jarry era ainda estudante no Liceu de Laval para zombar de um professor–chamado Hébert ou Pai Hébe -, Ubu Rei é uma espécie de Macbeth feita por personagens “que encarnam todo o grotesco do mundo”. Ubu Rei foi, originalmente, uma peça de Teatro de Bonecos e é fácil notar isto nas gags típicas – como o jogar no fosso – na linguagem, na agilidade e até mesmo em referências claras, como quando Ubu, em agradecimento ao Rei – que o sagrou Conde – resolve dar-lhe um mirlitão de presente. Mirlitão é uma espécie de instrumento que os bonequeiros tradicionais costumam pôr na boca para deixar a voz estridente quando atuam.

Ubu Rei, a peça que serve de base a este espetáculo, foi encenada como um protesto contra o marasmo em que vivia o teatro parisiense. O teatro francês, o mesmo de Moliére e Racine, havia descambado para historietas de alcova, com maridos corneados e cenas picantes de adultério, e, quando não, para comediazinhas de costume e, quando não, para draminhas burgueses. O pesquisador Hermilo Borba Filho dizia: “A situação do teatro francês no final do século passado, era a pior possível: um teatro sem nenhuma qualidade literária, cedendo todos os favores o grande público, com espetáculos alegres onde não era necessário pensar”.

Passados cem anos, é hora de gritar “Merdra!” outra vez.

(Página 05 – Foto de Cena)

Merdra

(Página 06)

L’Enfant Terrible

Alfred Jarry foi um “gauche”. Nascido na França viveu sua vida curta e agitada na virada do século passado, entre livros, teatros, vinho e fome. Dominava o alemão, o latim e o grego. Dilapidou a fortuna que recebeu de herança em pouco mais de um ano. Conquistou a admiração de intelectuais e o desprezo do público.

Escreveu freneticamente peças de teatro, romances, artigos, almanaques, traduções, o que não lhe rendia o bastante para viver. Gastou o dinheiro que tinha em bons vinhos e absinto. O que não tinha, gastou em vinhos baratos e éter. Muitas vezes, para enganar a fome, antes de dormir, misturava absinto, vinagre e, para engrossar, tinta.

Disparou sua pistola, a troco de nada, em dois homens. A certa altura da vida,  morando no andar três e meio – o rebaixamento do teto do terceiro andar – de um edifício de Paris, caiu doente e de miséria e foi salvo pelos amigos.

Comprou uma bicicleta que não acabou de pagar. Apollinaire disse, a respeito do Jarry: “Sua personalidade alegre nunca teve nada a ver com a dor”.

Alfred Jarry morreu aos 34 anos, sem posses ou bens, tendo escandalizado Paris e chocado muita gente, tendo dado um chute na bunda do teatro tradicional e tendo criado a base sobre a qual o teatro moderno se fundou.

(Página 06 – Foto de Cena)

(Página 07)

Ubu

de Alfred Jarry

Cesar Maia, Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro
Helena Severo, Secretaria Municipal de Cultura
Lucia Lahmeyer Lobo, Pres. do Instituto Municipal de Arte e cultura, RIOARTE
Ana Bernstein, Diretora da Divisão de Artes Cênicas

Um espetáculo do grupo Sobrevento
Sandra Vargas, Miguel Vellinho, Luiz André Cherubini

(Verso da Última Capa)

O Espetáculo

Ficha Técnica

Criação e Realização: Grupo Sobrevento
Texto: Alfred Jarry
Adaptação: Grupo Sobrevento
Direção: Luiz André Cherubini
Assistência de direção: Felipe Hirsch
Cenário: Helio Eichbauer
Figurinos: Mauricio Carneiro
Figurinistas assistentes: Claudia Santos, Gabrielle Evelyn
Assistência de figurinos: Ronaldo Dias
Adereços: Carlos Alberto Nunes
Assistência de adereços: Clarice Penna Firme
Iluminação: Renato Machado
Direção musical: José Roberto Crivano
Cenotécnica: Irlan Neri
Produção executiva: Guilherme Sarraf
Assessoria de imprensa: Pangeia Comunicação e Arte
Design gráfico: Ana Soter e Vanessa Rocha
Fotografias: Tiago Santana

Elenco

Sandra Vargas, Miguel Vellinho, Luiz André Cherubini

 Músicos
José Roberto Crivano, guitarra
Anderson Gandra, guitarra
André Luiz, baixo
Adilson Junior, bateria

Agradecimentos
Departamento Cultural do Consulado da França no Rio de Janeiro, Ana Bernstein, Brigida Baltar, Carlos Mauro Cherubini, Dionísio e Cléia Cherubini, Eduardo Laus, Fernando Sant’Anna, Fernando Newlands, Helena Vieira, Jefferson Miranda, Leg, Laura Brasil, M. Bertrand Rigot-Muller, Richard Luiz, Roberta Rangel, Ronald Teixeira, Ronaldo Dias, Tiago Sant’ana

(Última Capa)

(Logos) Rio, Mzangem, Rio Arte, Espaço Cultural Sérgio Porto

Grupo Sobrevento
Rua Maria Amália, 81/3
Rio de Janeiro – RJ – 20510-130