Programa do espetáculo que estreou na cidade de São Paulo, SP, em 1996

Gabriela Rabelo. Foto: João Caldas

 

 

 

 

 

 

 

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(INFORMAÇÕES DO PROGRAMA)

(Capa)

ANA PAZ

Da obra de Lygia Bojunga

Com Gabriela Rabelo

Direção: Vladimir Capella

(Interior)

Certa vez um amigo me disse: “Preciso te apresentar uma pessoa.”  Colocou um livro nas minhas mãos: “Tem tudo a ver com você.”  E saiu apressado, tava de viagem marcada: “Você vai adorar!”

O ano era de 1981. O amigo, Marcos Frota. E o Livro era Angélica, de Lygia Bojunga Nunes.

Mal ele podia supor que a partir daquele momento aquela “pessoa” entraria na minha vida de uma maneira tão definitiva, tão assim como coisa-que-a-gente-precisa, afluente que engrossa as águas de um rio: feito uma bússola que vira-e-mexe se consulta para saber pra onde ir.

Desde então li todos os livros, todas as histórias, todas as frases, palavras por palavras, tudo que Lygia Bojunga Nunes pensou e, generosamente, escreveu.Li e reli várias veze. E ainda releio quando me entristeço, quando tento entender o mundo, quando procuro autenticidade, quando preciso de cúmplice.

E apresento-a sempre (necessidade que virou hábito) para cada novo amigo que faço. Ora com A casa da madrinha, ora com Corda bamba, outras vezes com O sofá estampado, meio conforme me dá na telha.

Bom… aí, num belo dia, aliás, belíssimo dia, a Gabi (Gabriela Rabelo, excelente atriz e companheira) me convidou para dirigi-la num espetáculo solo baseado no livro Fazendo Ana Paz, de Lygia Bojunga.

Foi o tipo de convite que não precisou de resposta; encontro que já tava marcado mesmo sem eu saber; coisa que tava esperando sem pressa o momento certo pra acontecer.

Ficou chamando Ana Paz, virou teatro e me deu a chance – que eu chamei de bênção… – de poder espalhar a palavra de Lygia Bojunga pra uma quantidade enorme de corações. Feito uma luz!

                                                                                                                    Vladimir Capella

Convite para conhecer Ana Paz

Nosso trabalho como educadores nos leva a repensar a função social da escola, procurando compreendê-la a partir das necessidades que ela vem sinalizando. Isto resulta em pensar a prática pedagógica que acompanha as formas pelas quais nos organizamos socialmente e a forma como estruturamos e construímos conhecimentos.

Pensar os caminhos é pensar o papel da informação que se faz, em função da história do que cada um é portador. É necessário retornar o ser humano, trazer o alento das realizações do paixão, recuperando a realidade para além dos nossos sentidos. Buscar o sentido da vida. Por isso, precisamos eleger o que vamos transmitir e a forma como vamos ensiná-lo: enfim, determinar nossa intenção.

Tudo aponta para uma retomada do saber da cultura como um caminho que pode trazer uma unidade que nos ilumine através da lembrança da história, do que foi esquecido e reprimido e que, por certo, nos permite um novo olhar aos mitos, às magias, tão essenciais à prática pedagógica.

A busca do saber e sua construção estão ligadas a um método que leve o aluno a aventura-se a abrir seus próprios caminhos, tornando-o gerente de seu processo de informação. E ele o será se perceber que o conhecimento é uma descoberta que nos completa, que amplia nossa capacidade de compreensão e comunicação.

A importância da exercitação da Arte (Música, Teatro, Literatura) na Escola se torna evidente. Ela nos dá os conteúdos necessários à sobrevivência simbólica. Unindo Literatura e Teatro, Gabriela Rabelo, Vladimir Capella  e Lygia Bojunga nos presenteiam com a peça Ana Paz, fazendo o elo Arte/Educação: é o teatro na Escola e com a Escola.

E por que o teatro?

O teatro enquanto espaço possível, com a construção do outro lado do conhecimento, nosso imaginário, o confronto com os nossos heróis interiores da alegria, da dor, das diferenças… Como possibilidade do aparecimento de nossa dramática, de criar e lidar com os fantasmas que nos rodeiam.

Esses personagens nos dão oportunidade de encontrar o fio da meada. È preciso fazer com que nossos jovens se apaixonem, alimentando o desejo de renovar e de se apropriar de conhecimento, sendo autores, produtores e atores, transformando as coisas para “si”.

Quando assisto, leio e imagino, construo a minha própria Ana Paz. Sou instigada a ser um outro criador. Este é o convite que nos traz Ana Paz, Gabriela Rabelo, Vladimir Capella e Lygia Bojunga.

                                                             Glélia Lagazi Russo Pastorello – Educadora

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Todos somos muitas Ana Paz

Fazendo Ana Paz, de Lygia Bojunga, não é apenas a história de Ana Paz, mas é a historia da construção do personagem Ana Paz, ou seja, é um texto que fala da luta de uma escritora para construir o seu personagem. É a história de uma escritora. Sem deixar de ser a história de Ana Paz.

Lygia Bojunga já afirmara que o Teatro fora um componente forte em sua formação (em Livro, um encontro com Lygia Bojunga). Foi após ter decidido não levar ao palco as narrativas dos episódios ligados ao seu desejo de escrever que sentiu a “necessidade de falar mais dramaticamente do ato de escrever” levando-a a “levantar uma personagem chamada Ana Paz”.

A história de Ana Paz só se esclarece a partir do contato que a autora vai tendo com o personagem por ela criado, ou, invertendo os termos, a escritora é criada pelo personagem por ela criado, ou invertendo os termos, a escritora é criada pelo personagem que demanda existência.

O dilaceramento da escritora para construir suas personagens, sendo que é este processo que dá o rumo de seus enredos, lembra a descrição que Stanislavsk faz ao relatar a experiência de um ator em formação: deveria escolher um traje que lhe sugerisse uma imagem atraente. O jovem ator relata ter escolhido um fraque velho e seus acessórios, quando “algo” põe-se a agir dentre dele, e que não era ele. Como Ana Paz, que procura a escritora e a escritora que procura Ana Paz. O autor relata dias angustiantes, dias de “estado de divisão interior”.

Quando decidiu não se apresentar e começou a passar o creme para tirar a maquiagem, as cores se esfumaram. O jovem ator conta: …quase como se estivesse delirando, pus-me a tremer, meu coração batia. É ele, ele, exclamei…”  Encontrou seu personagem, crítico catador de defeitos que morava nele, e pôde encarnar a personagem que também era ele.

Lygia Bojunga conta a história destes vários personagens que existem em todos nós, adultos ou crianças. Não teme a angústia que o contato com nossa história pode trazer. Nem todas suas histórias são alegres, pois não acredita na criança inocente, sem  fantasias, sem destrutividade.  Ajuda a todos a todos nós, crianças e adultos, a enfrentarmos nossos múltiplos tempos e fantasmas.

                                               Miriam Chnaiderman, Psicanalista,ensaísta, doutora em Artes Cênicas, ECA-USP

(Ultima Capa)

Desde o início de minha atividade profissional em teatro, meu lado atriz misturou-se com meu lado professora de teatro.

E mesmo jovem, já percebia, de forma intuitiva, que a arte e a educação – apesar de caminharem juntas pelo terreno da alma humana, apoiando-se permanentemente – guardam suas diferenças. Embora nem o artista nem a arte devem ser desprovidos de objetivo, a Expressão do artista não deve ter outro senhor que não seja sua visão de mundo e de sua  arte; já o educador está a serviço do educando. Sua expressão está sujeita ao objeto estudando, tão amplo quanto este possa e deva ser.

Trabalhando nas duas área fui tendo – pela experiência pessoal e pelo estudo solitário ou dirigido – a certeza cada vez mais forte de que se a função do artista e a do educador são diferentes, a postura de ambos diante de sua profissão tem que ser a mesma: um despojamento de tudo o que não é fundamental. Falando assim parece fácil, parece receita. Mas é dificílimo conseguir isto (e nunca se consegue plenamente e pra sempre): porque o essencial é resultado de uma eleição contínua dos acidentais.

Tentando ser mais clara: tanto o professor quanto o artista têm que estar abertos pra vida em sua multiplicidade, prontos pra acatar o inesperado e a rever seus pontos de vista. O que só será possível se estiverem sadiamente plantados no seu ofício. Daí, sim, dá pra ficar aberto, vivendo com a mesma sinceridade os erros e os acertos. E seguir em frente.

É por isso que estou fazendo Ana Paz  e propondo sua encenação em escolas, associações, para adolescente, para grupos de terceira idade…

Espero que tanto o texto de Lygia Bojunga quanto o jeito do Vladimir Capella e o meu de fazer teatro possam construir na busca dessa sinceridade diante da vida e de si mesmo. É uma forma de continuar lutando, no mínimo, pela crença em um mundo mais humano.

                                                                                                     Gabriela Rabelo

Elenco

Interpretado por: Gabriela Rabelo

Ficha Técnica

Autor: Lygia Bojunga
Direção: Vladimir Capella
Produção: Núcleo Zircus / Cooperativa Paulista de Teatro
Cenografia e Figurino: Alexis Iglesias
Iluminação: Davi de Brito
Trilha Sonora: Vladimir Capella
Operador de Som: Ricardo Fernandes
Operador de Luz: Ricardo Silva
Gravação da Trilha: Raul Teixeira
Produção Executiva e Administração: Regina Rosa Godoy

Contato para Espetáculo (011) 22152293 c/ Gabriela