Fábio Tubenchlack, Eduardo Amir e Carmen Leonora. Foto: Bebel Plá

Programa do espetáculo que estreou na cidade do Rio de Janeiro, no Mercado São José das Artes, em 1992

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(INFORMAÇÕES DO PROGRAMA) 

(Capa)

TARTUFO

de Molière

Um espetáculo da Cia. Instável de Humor

(Página 1 – Logos Attelier de Maquiagem e Deplá Fotografia)

Molière – Vida e Obra
Jean Baptiste Poquelin nasceu em Paris, em 1622, filho do tapeceiro do rei, aos vinte e um anos, recusou este título hereditário para entrar numa pequena companhia: O Ilustre Teatro. Como era uso então, logo após fazer-se comediante, ele trocou o nome para Molière, com intenção de não desmoralizar sua família burguesa

O Ilustre Teatro percorreu por treze anos as províncias, acumulando dívidas, convivendo com a miséria e a condição degenerada do saltimbanco. Em 1653, Molière, com sua trupe, foi mantido sob a proteção do Prince De Conti,, e apresentou-se segundo a tradição da Commedia, como o personagem Mascarille, em duas comédias suas

Em 1658, O Ilustre Teatro conquistou a proteção de Luiz XIV, através de uma apresentação na corte promovida pelo irmão do rei

Molière, herdeiro do espírito popular da farsa francesa e da tradição cômica da Commedia dell’Arte, aliava a essas uma linguagem altamente refinada para criticar o comportamento do homem. Segundo uma definição sua, a função da comédia é corrigir os vícios da humanidade, e nesta tarefa, ele não poupava nem mesmo seus mais fervorosos admiradores. Seu humor cáustico, que atacava os males sociais, as falhas de caráter e mesmo as virtudes privilegiadas, produziu tanto obras geniais como inimigos geniosos. Molière sempre recebeu severas críticas por parte dos ofendidos, que no caso de tartufo, conseguiram a proibição do texto por mais de cinco anos

Num período de quinze anos, Molière montara 95 peças, participando como ator de quase todas, sendo 31 de sua autoria, entre elas: As Preciosas Ridículas, A Escola de Maridos, A Escola de Mulheres, O Improviso de Versailles, A Critica da Escola de Mulheres, Tartufo (versão em três atos de 1664; versão em cinco atos de 1669), O Misantropo, O Médico à Força, O Burguês Fidalgo, Anfitrião e o Doente Imaginário.

No centro do palco, com a cheia, na noite de 17 de fevereiro de 1673, durante uma apresentação de O Doente Imaginário, Molière, realmente doente, passou mal e foi levado as pressas para casa. Um padre foi chamado, mas não apareceu. E assim, Molière morreu, sem poder se arrepender de sua vida como ator. Foi enterrado durante uma cerimônia simples naquela mesma noite. O grande gênio do teatro francês desaparecera, mas sua influência seria enorme.

(Páginas 2 e 3 – Logos Grupo Senzala Capoeira e J. Di Giorgio & Cia. – Editores. Artes Gráficas)

Prefácio a Tartufo

Ao publicar sua peça em 1669, Molière escreveu para ela um longo prefacio. Eis alguns trechos da vigorosa defesa do autor:

“Eis uma comédia que provocou grande celeuma e que, durante muito tempo, foi alvo de muitas críticas; na França as pessoas que se reconheceram em suas em suas personagens, demonstraram, de maneira patente, serem mais poderosas do que outras jamais o foram em semelhantes condições. Os marqueses, as preciosas, os maridos enganados e os médicos suportaram pacientemente o serem representados e fingiram divertir-se, com todos, com suas próprias caricaturas mas os hipócritas não aceitaram a zombaria; sentiram-se desorientados a princípio e acharam estranho que eu tivesse a ousadia de caricaturá-los e de deblaterar contra uma profissão., que afinal de contas, é a de muitas pessoas honestas. É um crime que não poderiam perdoar-me; investiram contra minha comédia com furor iníquo. Segundo costume louvável, encobriram seus interesses, invocando a causa divina; e o tartufo é no dizer deles, uma peça ofensiva a piedade. Está de ponta a ponta repleta de abominações e nada há nela que não mereça fogo”

“É, pois, perante os verdadeiros devotos que desejo justificar minha comédia; conjuro-os com toda a alma a que não condenem antes de a ver, a que se dispam de toda e qualquer prevenção, e a que não aumentem a paixão daqueles cujas atitudes hipócritas os desonram”

“Para isso, passei dois atos a preparar a chegada do meu celerado. Nem por um instante fica o espectador em dúvida; é, antes reconhecido pelas características com que o assinalei; e, de ponta a ponta, não diz palavra, não faz gesto que não delineie aos olhos dos espectadores seu caráter de homem mau…”

“Se a finalidade da comédia é corrigir os vícios dos homens, não vejo por qual razão haveriam privilegiados. Estes trazem para o estado consequências muito mais perigosas do que quaisquer outros. Nada corrigi melhor a maioria dos homens do que a caricaturização dos seus defeitos. É atingir o vício em cheio e expô-lo a zombaria de todos. Não nos causa mossa a sermos criticados; mas não se tolera o escárnio. Queremos ser maus, mas não queremos ser ridículos”

“Criticam-me por haver emprestado palavras cheias de piedade ao meu impostor. Ora! Poderia eu agir de outra maneira, se queria pintar o caráter de um hipócrita?”

“As coisas, mesmo as mais santas, não estão a salvo da corrupção dos homens, e vemos, todos os dias, patifes, que abusam da piedade e servem dela para cometer os piores crimes”

“Os tartufo, à socapa, souberam conquistar as boas graças de Vossa majestade; e os originais, enfim, suprimiram a cópia, por mais inocente que ela fosse e por mais que a eles se assemelhasse”

“Oito dias depois de ter sido proibida , a peça Scaramouche Ermite foi levada à cena diante da corte, e o rei, saindo, disse:

– “Gostaria de saber por que as pessoas que se escandalizam tanto com a comédia de Molière não dizem contra Scaramouche”; ao que respondeu o príncipe:

– “A razão disso é que a comédia Scaramouche representa o céu e a religião, e esses senhores não se importam a mínima com essas coisas; mas a de Molière caracteriza-os a si próprios, o que podem tolerar”.
Molière

(Página 4 – Logos Rio Arte, Rio Esportes, Rio – Prefeitura da Cidade)

Sinopse

Tartufo é um beato fanático que se hospeda na casa do ingênuo burguês Orgon, cativando-lhe a alma através de um falso “!espírito puro e devotado a Deus”. No decorrer da peça, o verdadeiro caráter de tartufo é aos poucos revelado aos demais personagens do drama, familiares e criados de Orgon, causando-lhes indignação e revolta. Porém, a advertência destes não é suficiente para quebrar o poder de sedução do visitante, posto que o rico Orgon, após deserdar o filho que entrara em atrito com o falsário, a presentear este com a mão da filha, doa-lhe todos os seus bens. A farsa é desmascarada na famosa cena em que Orgon é escondido debaixo da mesa por sua esposa Elmira. Neste momento, Tartufo mostra sua face mais baixa para esta, seu único e sincero amor, capaz de tudo para conquistar

No entanto, para desespero de todos, o tolo Orgon já havia efetivado a doação, vendo-se não só obrigado a sair de sua própria casa, mas a fugir do reinado, pois havia posto nas mãos do traidor cartas preciosas que o comprometiam contra o Rei. Felizmente, O Rei é sábio e misericordioso – não só “perdoa-lhe a ofensa secreta” como também anula os compromissos do contrato da doação, levando preso, por fim, o impostor tartufo.
                                                                                                                                                                         Tartufo (1664-1669)

Elenco

Madame Pernella, Mãe de Orgon: Eduardo Amir
Orgon, Marido de Elmira: Eduardo Amir
Elmira, Mulher de Orgon: Carmen Leonora
Damis, Filho de Orgon: Eduardo Amir
Mariana, Filha de Orgon: Fabio Tubenchlack
Cleanto, Cunhado de Orgon: Fabio Tubenchlack
Tartufo, Falso Devoto: Fábio Tubenchlack
Dorina, Ama de Mariana: Carmen Leonora
Sr. Leal, Mensageiro de Tartufo: Carmen Leonora
Um Guarda: Carmen Leonora

A cena é em Paris

(Página 5 – Foto do Espetáculo)

Lês trétaux et la Mise em Scène

“As troupes deviam trazer um palco simples desmontado, com as cortinas, os telões, os figurinos e os acessórios. Assim, a vida e acena dos comediantes eram as de saltimbancos. Os palcos dos célebres charlatões Mondor e Tabarin não eram nada diferentes das troupes de improvisadores – a não ser pelas dimensões um pouco reduzidas

O tablado era ele mesmo dividido em duas partes desiguais – a coxia e a cena – por um grande telão estendido entre as duas partes. Geralmente, sobre este telão de fundo uma pintura representava um lugar público com perspectivas de ruas, de casas e seus interiores. Duas ou três fendas no telão possibilitavam as entradas e saídas de cena dos comediantes”
                                                                                                                                                                      Pierre-Louis Ducharte

(Logos: Alliance Française e Serviço Cultural do Consulado Geral da França no Rio de Janeiro)

(Página 6)

A Cia. Instável de Humor

Carmen Leonora, Eduardo Amir e Fábio Tubenchlack

orgulhosamente apresenta uma comédia de Molière

Ficha Técnica

Tradução: Visconde de Castilho
Adaptação e Direção: Cia. Instável de Humor
Músicas: Caíque Botkay e Fábio Vianna
Músicos: Violão : Fábio Vianna
Percussão: Fred Castilho
Flauta: Sammy Fuks
Cenário: Cia. Instável de Humor
Cenotécnica: Irlan Nery
Figurinos: Ney Madeira
Costureira: Mara Lopes
Iluminação: José Geraldo
Produção Executiva: Cia. Instável de Humor
Assistência de Produção: Teça Fichinski
Divulgação: Bernardo Muller
Fotos: Bebel Plá
Elenco: Cia. Instável de Humor
Telão: Bernardo Vianna
Legendas: Beth Paiva

(Página 7 – Logo Tinturaria Ypiranga Ltda)

“O pardal que alimentou o cuco com seu muco,
Um dia teve a cabeça comida pelo cuco ”
                                                                                                                            W. Shakespeare – Tradução de Millôr Fernandes

Os cucos são aves que não formam bandos, mantendo hábitos solitários e individuais. Não há coordenação nem liderança entre eles. Cada fêmea acasala-se com vários machos e cada macho com várias fêmeo. Eles não fazem ninho e após o acasalamento, a fêmea procura ninhos de outras aves para substituir os seus ovos pelos originais

Uma das aves mais prejudicadas pelo comportamento do cuco é o pardal. O filhote do cuco, chocado pelo pardal, empurra os ovos que encontra ao nascer para fora do ninho, pois seu tamanho é três vezes superior ao do pardal. Assim, o voraz cuco mantém o casal atarefadíssimo para alimentá-lo, até ele atingir a idade de migração. Mesmo depois de poder voar, o cuco não dispensa a ração trazida pelo pardal, que muitas vezes, morre na árdua tarefa de alimentar sua “cria”

(Página 8 – Anúncio Mamma Rosa Ristorante)

(Verso da Última Capa – Foto dos Atores)

A Cia. Instável de Humor
agradece a
Antonio Carlos Bernardes, Bebeto Bahia, Cláudia Barros, D.Ilza, Eduardo ramos, Eric Nielsen, Fundição Progresso, Humberto Braga, Irany Vaz, Lídia Kosovsky, Luiz Carlos Tourinho, Luís Cláudio Cattete, Luiz Villela, Lydia Magalhães, Marcinho, Maria Carolina, Millôr Fernandes, Mário Sant’ Anna, Moacir Góes, Paulo de Azevedo, Pedro Drumond, Renato Icarahy, Ricardo Kosovsky, Silas Matos, Tânia Tubenchlack e todo o pessoal do Mercado

(Última Capa – Gravura)