Programa, 1993

Convite do espetáculo que estreou no Teatro Cândido Mendes em 13.03.1993

Barra

Danusa Depes Porta e Rogério Freitas

Eduardo Andrade e Márcia Frederico

Ricardo Venancio, Márcia Frederico e Eduardo Andrade

Barra

(INFORMAÇÕES DO PROGRAMA)

(Capa)

O ELIXIR DO AMOR – UMA FARSA BURLESCA

(Verso da Capa – Propaganda Coca-Cola)

(Página 01)

Por que?

Depois da montagem de várias Farsas Medievais, adiantamos um pouco o passo na História, indo parar no romantismo. Aí encontramos a Ópera Buffa, ópera cômica nascida na Itália Barroca. Percebemos então uma linha direta entre esta e a Farsa Medieval. E quanto de Idade Média passa pelo Barroca e chega ao Romantismo!

Tal qual os contos populares medievais que se preservaram na forte tradição oral, essa história do Elixir serviu como excelente base para uma adaptação que ressalta o que de Farsa possui a ópera buffa. As pré-históricas lendas celtas geraram a história de Tristão e Isolda, que chegou à França onde Scribe escreveu O Filtro, última fonte que, finalmente inspirou Donizetti a compor O Elixir do Amor, com libreto de Felice Roma.

Mas além da origem comum, o enredo e a estrutura da ópera buffa são Farsa pura. Os diálogos são repletos de apartes e há o desmascarar constante dos personagens, com todos se alternando na posição de tolos e espertos. E são as trapalhadas, os disfarces e os improvisos que tornam o texto mais acessível, atraindo um público mais abrangente do que a ópera tradicional.

A adaptação transforma O Elixir do Amor no grande representante da Farsa do período romântico, com tudo de contraditório que possa existir entre Farsa – humor, máscara, fachada – e Romantismo – sofrimento, sacrifício, lágrimas.

Trilogia

A Farsa encontrou a Itália o seu campo natural, de tal modo que passou do Teatro (Commedia dell’ Arte) para outras linguagens., Na ópera, deu origem à ópera buffa, criação italiana do período Barroco, e no cinema está presente nas comédias de Vittorio de Sica, Totó e Fellini, entre outros.

E é com O Elixir do Amor, um Farsa romântica, que fechamos nossa Trilogia de Farsa Italianas, iniciadas com Enganado, Surrado e… Contente, uma farsa palaciana adaptada do Decamerão, de Giovanni Boccaccio, seguida de O Segredo Bem Guardado, uma fábula adaptada da tradição oral camponesa.

(Página 02)

Sobre a Direção

Apostando no teatro que tem com0 base o ator, trabalhamos essencialmente a palavra e o gesto, influenciados pelo comportamento operístico e farsesco na interpretação. E foi respeitando a autoria do ator – que é o verdadeiro filtro por onde passa o trabalho pesquisado – e extraindo deste a inspiração para completar a concepção de figurinos e cenários, que trouxemos o passado para o presente, criando uma linguagem própria. Tudo isso visando à conjugação harmônica de todos os elementos cênicos. Finalmente, o largo uso de símbolos e imagens busca o contato direto com o público, tornando possível fazer Teatro, aquele que fala com todas as idades.

Sobre os Figurinos

Os figurinos acompanham essa trajetória no tempo, mostrando características dos vários períodos pesquisados. Sua unidade se deve à inspiração dos quadros de Veronese, o pintor da elegância, riqueza, técnica e cor, de tal modo que até hoje se usa o verde Veronese.

E cada personagem absorve mais de certo período.

A roupa de Adina é rica em detalhes trabalhados para dar um aspecto de bibelô de porcelana. Nela se destaca o verde Veronese típico do pinto barroco.

Construída a partir de pneus, piche e areia, a armadura de Belcore é também inspirada nas esculturas renascentistas de Verrocchio.

A influência oriental dos Árabes na Europa Medieval está presente no turbante e nas roupas de Dulcamara que, além disso, trazem as garrafas e rolhas próprias do seu oficio.

Garrafinha carrega toda a magia da arte milenar do Extremo Oriente, visitado pelo Marco Polo na Idade Média. Sua roupa de “cacos de vidro” mistura a influência tailandesa.

O figurino de Nemorino, ingênuo camponês, guarda o espírito rústico do homem medieval, ligado à terra e à colheita, com aplicação de grãos – milho, ervilha, fava feijão e outros.

Sobre a Luz

Estamos num período anterior ao surgimento da luz elétrica. Por isso, pesquisamos um tipo de iluminação que destaque o clima de “luz de velas” e o uso de ribaltas. E as ribaltas são, ainda manipuladas como adereços.

(Página 03 – Foto)

(Página 4)

Sobre a Música

A música de Donizetti foi trabalhada em função da cena, ora erudita e romântica, ora popular. Esta teatralização exigiu modificar a sonoridade de orquestra sinfônica, introduzindo instrumentos estranhos a esta formação tais como acordeom, violão e percussão. E é a rítmica grega usada pela percussão que resgata a Idade Média. Como curiosidade, a ária Uma furtiva lagrima ficou tão conhecida que inspirou um samba de Ary Barroso, gravado por Francisco Alves.

Sobre Cenário e Adereços

O cenário é uma tenda árabe, uma lona de circo, ou ö que mais possa o Homem imaginar”. O andor de Dulcamara se transforma e atende a múltiplas funções enquanto que a presença de anjos barrocos funcionam como termômetro do amor de Adina e Nemorino. Símbolo do Renascimento, o sol aparece e traz com ele o renovar constante da vida.

Donizetti e o Elixir

Segundo algumas fontes, O Elixir foi fruto de apenas duas semanas de criação para estrear no Teatro Cannobbiana, de Milão. É a ópera de maior sucesso de Donizetti, presente em todas as temporadas desde a sua estreia em 1832.

Donizetti compôs continuamente para o palco e explorou todos os gêneros da ópera, desde “farsas” de um ato com diálogos falados, até semi-sérias e tragédias clássicas. O sucesso de Donizetti deve-se em parte à sabedoria de temperar a comédia com o toque humanizante do sentimento.

O Elixir do Amor

Poderíamos simplificar dizendo que O Elixir do Amor é a história dos encontros e desencontros do amor. O pobre Nemorino suspira apaixonado pela rica e bela Adina que, para enciúma-lo, promete casar-se com o galante sargento Belcore. Eis que surge Dr. Dulcamara com o milagroso Elixir do Amor.

Será que o Dr. Dulcamara alquimista do amor? Será o elixir realmente Milagroso? O Elixir ajudará realmente o romântico Nemorino a conquistar a caprichosa e cética Adina? Mas por que essa incessante busca pelo Amor Eterno? Pela eterna juventude e outras eternidades mais? Pode o Homem encontrar em algo externo a solução para seu sofrimento? Será uma questão de fé ou de autoconfiança? Ou uma necessidade atávica de ilusão, de magia ritualística?

(Página 05)

Núcleo de Criação

Marcia Frederico
Ricardo Venancio
Marcos Edom
Heloisa Frederico

(Página 06)

Elenco

Adina: Marcia Frederico
Nemorino: Eduardo Andrade
Belcore: Ricardo Venancio
Dr. Dulcamara: Rogério Freitas
Gianeta Garrafinha: Danusa Depes Portas

(Página 07)

Os Personagens

A construção dos personagens traz paralelos com a Commedia dell’ Arte. Assim, estão presentes a Colombina, centro da intriga, o Pierrot, figura melancólica e ingênua, o Capitan, conquistador arrogante, e o Dottore, que usa palavras difíceis e citações para se valorizar aos olhos do povo.

Nemorino (Pierrot): Um João Ninguém. O patético do seu sofrimento e humor fazem dele o próprio “bobo”, o palhaço da região.
Adina (Colombina): Rica e bela fazendeira que zomba do amor e ri de quem o sente. Cética e volúvel, é tal qual a brisa livre, sem destino.
Belcore (Capitan): Galante Sargento, acredita que a farda conquista o mundo e até mesmo o amor.
Dulcamara (Dottore): O Alquimista do amor. Vendedor ambulante, típico charlatão, possuidor de “Segredos Milagrosos”.
Garrafinha: Simboliza a essência, o espírito e a magia. Ajuante de Dulcamara, é também o anjo protetor de Nemorino.
Gianeta: Camponesa “caída do céu” para resolver a trama com o tempero do ciúme.

(Página 08)

O Segredo Bem Guardado

Evandro Melo
Gilberto Miranda
Gustavo Gasparini
Fátima Patrício

Enganado, Surrado e… Contente

(Página 09)

A Companhia

A Companhia Márcia Frederico tem como base o estudo da “farsa” e do “medieval”, gênero que apresenta vários desafios à pesquisa. A dificuldade de se encontrar textos do período, bem como a necessidade de traduzi-los do italiano, inglês ou francês medievais, por exemplo, torna o trabalho bastante complexo.

Vencidos os desafios quanto ao texto, a companhia dedica-se ao estudo da história do período, detendo-se aos gestos, costumes, música, uso de cores e todos os detalhes que possam enriquecer o trabalho. A partir daí, é o exercício do ator, o seu reinventar e recriar constantes.

A Companhia foi fundada e e é dirigida por uma Atriz, responsável também pela adaptação e autoria dos textos. A direção dos espetáculos e a realização dos figurinos e cenários cabem a outro Ator. Afinal, a Farsa é a quintessência da Comédia, do Teatro. É o Teatro se dizendo Teatro. É o ator se revelando e se mascarando num jogo direto com o público. É o Teatro do Ator.

Procuramos ampliar nossa linguagem para atingir o imaginário e simbólico do público infantil e infanto-juvenil, sem nos esquecermos do adulto, ou melhor, da criança que existe em todos nós. E por envolver um campo tão amplo de pesquisa, rompemos as cortinas e fomos conhecer o nosso público, com aulas debates, cursos e oficinas de teatro.

E esse núcleo de estudo e pesquisa vem se fortalecendo desde 1988, desenvolvendo uma linguagem própria e fazendo “escola”, como várias vezes cita a critica especializada. Assim, os profissionais que compõem o elenco encontram um campo certo e seio de estudo e pesquisa. São pessoas que procuram a Companhia para reinvestir no artesanal e no humano.

Nosso teatro de repertório conta hoje com quatro peças, permanentemente apresentadas em Projeto-escola, Festivais, Praças, Centros Culturais, Prédios Históricos, em várias cidades e estados.

Enganado, Surrado e… Contente
O Segredo Bem Guardado
O Flautista de Hamelim
O Elixir do Amor

(Página 10)

Prêmios

1989

O Pastelão e a Torta
Mambembe atriz coadjuvante

Estreia: Novembro, Casa de Cultura Laura Alvim

O Moço que Casou com Mulher Braba
FUNDACEN – Melhor Espetáculo do Ano Categoria Especial
Mambembe – Atriz Coadjuvante e Figurino
Indicações
Mambembe – Direção
Coca-Cola  direção, atriz, figurino e Pesquisa de Linguagem

Estreia: Novembro,  Casa de Cultura Laura Alvim

1991

Enganado, Surrado e… Contente
Molière – Atriz
Coca-Cola – Texto
Indicações
Molière e Coca-Cola – Ator
Coca-Cola – Atriz

Estreia: Janeiro,  Casa de Cultura Laura Alvim

A Farsa Medieval Passo a Passo
O Segredo Bem Guardado

Molière – Atriz
Coca-Cola – Texto, Direção e Figurino
Indicações
Molière – Ator
Coca-Cola – Atriz, Ator, Cenário e Pesquisa de Linguagem

Estreia: Outubro, Paço Imperial

(Verso da Última Capa)

Ficha Técnica

Tradução e Adaptação: Marcia Frederico
Direção: Ricardo Venancio
Figurinos: Ricardo Venancio
Assistente de Figurinos: Heloisa Frederico
Colaboração: Guilherme Pegorim e Eliane Teixeira
Cenário: Ricardo Venâncio
Assistente de Cenário: André Maia
Adereços Sapatos e Chapéus: Heloisa Frederico
Costura: D. Alice, André Maia e Alzira Ribeiro
Iluminação: Dimitri Martinovich
Eletricista Cênico e Operador de Luz: Vinícius Feio
Música: Gaetano Donizetti
Arranjos e Direção Musical: Vicente Ribeiro
Operador de Som: Guto Costa
Programação Visual: Paulo Caillaud e Heloisa Frederico
Editoração Eletrônica: Raquel Barraca
Fotos: Gabriela Toledo
Pesquisa: Heloisa Frederico, Ricardo Venâncio e Marcia Frederico
Direção de Produção e Assessoria Geral: Marcos Edom
Produção e Realização: Marcia Frederico Projetos Teatrais

(Última Capa)

(Logo) Marcia Frederico Projetos Teatrais